Após tantos anos de serviço público, cerca de 25, somados os períodos na prefeitura de Marabá, São João do Araguaia e Assembléia Legislativa do Estado, a partir de 1974, desenvolvi uma tese resultante da convivência e regular observação daqueles com quem trabalhei: à medida em que se aproxima o fim de um mandato e cresce a incerteza da sobrevivência política para quem aspira a continuar no poder, começa a manifestar-se na maioria das pessoas um iniludível fenômeno psicossomático, cada vez mais forte, que se traduz em irritabilidade, longos períodos de silêncio, olhares distantes, tiques nervosos e extrema desconfiança de tudo e de todos.
À falta de melhor designação, eu chamo esse conjunto de manifestações pessoais de Tensão Pós-Mandato (TPM).
A irritação do prefeito Tião Miranda com o suplente de senador Demétrius Ribeiro (chamou-o pra porrada, no melhor estilo de rua, do “quem for mais homem cospe aqui!”) - é um exemplo concreto de TPM.
O comportamento de Demétrius, que escolheu mal palanque e oportunidade para despautério e diatribes, é viés de uma outra tensão, comum, esta, à maioria dos guseiros do Pará e Maranhão – a TPI: Tensão Pós-Ibama. No caso de Demétrius, agravada pela expectativa frustrada da relevância política. Pressionado por multas sobre a utilização de carvão clandestino, sem atividade política com visibilidade, na condição de suplente de senador de coisa-nenhuma, e agora tentando parecer oposicionista e chamar a atenção para uma suposta candidatura a prefeito, Demétrius estourou ruidoso como garrafa de cidra barata durante a festa das oligarquias que pretendem um estado para si e para que as coisas permaneçam como estão. Evidentemente, Demétrius não poderia ter sido mais desastroso.
A verdade é que ele e Tião Miranda estão mal, muito mal.
E era o que mais nos faltava: substituir um gestor anti-democrático por outro - inábil e rancoroso. Que opção!...
O estranhamento de Demétrius com Miranda tem ainda outras causas. Na eleição de 2004, ele foi talvez o maior doador da campanha do atual prefeito. Naquele ano, três dos quatro candidatos receberam doação em dinheiro através da Usimar: Elza Miranda, a maior beneficiária levou R$ 117,7 mil. Tião Miranda - R$ 100 mil, e Asdrúbal Bentes – R$ 50 mil. Dinheiro jogado fora, pelo visto.
O candidato Heiton Nonato da Silva só teve uma única doação: R$ 2 mil, da Carajás Móveis e Esquadrias Ltda.
Quem também ganhou trocados da Usimar foram os vereadores Miguelito (R$ 10 mil), a maior contribuição das guseiras; Adelmo Azevedo (R$ 10 mil); Osvaldo Mutran Jr (R$ 14.200); Júlia Rosa (R$ 5 mil); Sebastião Ferreira Neto (R$ 10 mil), segundo informações do site Transparência Brasil (Às Claras 2004).
Ou seja, mais dinheiro jogado fora.
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Meu ódio será tua herança
Que Demétrius é candidato quem assegura é o blog do Hiroshi Bogéa:
“O empresário Demétrius Ribeiro acaba de comprar a Rádio Itacaiúnas-AM pertencente a família do ex-deputado federal Josué Bengston. O valor da transação ainda é desconhecido, mas rumores dão conta de que beira a casa dos R$ 700 mil. Como quem é do ramo sabe que rádio de Amplitude Modulation (Modulação em Amplitude) perdeu força comercial no mercado, objetivo de Demétrius não é ampliar seus negócios na área (ele já é dono da repetidora do SBT local) -, inda mais se considerarmos que a Itacaiúnas-AM estava praticamente falida, sem audiência e completamente sucateada. A movimentação sem recuo do empresário na área de comunicação projeta a eleição municipal de 2008. Cada vez mais o guseiro é candidatíssimo à sucessão de Sebastião Miranda.”
Bogéa sugere que a intenção de Demétrius seria uma espécie de “vindita” – mostrar a Tião Miranda “com quantos paus se faz uma cangalha”, aquele equipamento de colocar em costas de burro -, pela desfeita que lhe fizera o prefeito no I Simpósio Procriação dos Estados do Carajás e Tapajós.
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Triste sina
A Rádio Itacaiúnas é a pioneira em radiodifusão em Marabá. Foi montada há três décadas pelo fazendeiro (depois deputado estadual) Aziz Mutran Neto, o Zizi Mutran. Há poucos anos, foi vendida para o lamentável pastor evangélico Josué Bengstson, deputado estadual, e agora vai servir aos projetos eleitoreiros do suplente de senador Demétrius Ribeiro.
A sina da Rádio Itacaiúnas, tal qual a das televisões locais, é óbvia e trágica: pôr no mercado regional certa variedade de produto político sem consistência, ou de conteúdo equivocado.
Pobre Estado de Carajás...
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Sem solução
E ninguém se iluda que seria uma alternativa, o que sugeriu um observador destes sucessos mais recentes: chamar a polícia. Pra quê? Não bastou a Curva do S?
Deus nos livre!
14 comentários:
Boa, gostei!!!
Marcones José
Belo texto!
Como diz o Lúcio, "biscoito fino..."
Parabéns!
Beijo.
O desvirtuamento dos meios de comunicação é um desastre para a formação da sociedade brasileira. Já fui ouvinte cativo das AM's que sempre voltadas às informações, aos recados, era o elo direto entre pessoas, o telefone do povo, a internet, a tv, o cinema. É lamentável que as voltem para fins individuais.
Quanto aos cupins, acho que o problema deles tem sido a alimentação. Você tem dado casa, roupa lavada, bebida e principalmente comida de boa qualidade a estes indivíduos.
Recomendo que você troque a alimentação servida aos pilantras, pare de dar manjar e sirva comida de gosto intragável, que cause infecção intestinal, provoque entojo. Te garanto que esta rapaziada vai procurar abrigo em outra freguesia.
Ai vão algumas dicas deste tipo de comida:
- "O Doce Veneno do Escorpião", de Bruna Surfistinha;
- "Caminho das Borboletas", de Adriane Galisteu;
- "Sou Pai, e Agora?", de Gugu Liberato.
E por ai vai.
Abraços,
Marcones José.
PÔ, Marcones, até você? rsrsr
Os filhos da puta comeram quase toda a cole~tânea "Autos de devassa da Inconfidência Mineira", 10 volumes taludos publicados em 1982 pela Câmara dos Deputados/Governo de Minas e, de quebra, umas publicações da Embrapa sobre a devastação de castanhais no sudeste do Pará.
Eu estou ficando neurótico! Já me surpreendi de madrugada armado até os dentes com venenos e um terçado, cavucando nas paredes atrás das estantes. rsrsr
Ademir, a imparcialidade com que vc publica as inofrmações é que te dão credibilidade, mesmo que não concordes com elas. Cara, não suporto abrir certos blogs e ver manipulações. Sou universitário e quando leio isso tenho a nítida sensação de que esse caras acham que as pessoas são incapazes de pensar, formar opinião. Continue nessa linha. Quem lê informação procura verdades. Conto com vc.
Vicente- Marko - Belém
Olá, meu troglodita predileto.
O poeta do tacape!
Mas, relaxe, e goze, como recomenda a Ministra e reconheça que os cupins são mais maneiros que os candidatos. Lá isso são!!!
A edição dos autos da devassa merecia um fim mais digno, é verdade. Mas, lembre-se que há novas inconfidências e novas devassas pra serem registradas bem aqui, expostas ao sol, no Quaradouro...he..he..
Tá. Tô tentando consolar você. Beijo e um afago pra aguentar os cupins e os ratos e as marmotas e..e...e....
Caro Vicente- Marko - Belém:
Seja bem vindo e obrigado pelo conforto. Eu gostaria de estar, ainda hoje, fincado numa redação de jornal, trabalhando, produzindo reportagens fundamentadas em pesquisas - mas vê aí se isto seria possível em nosso Estado (na maioria dos 27 Estados, também não). Nossos jornais consolidaram-se como instrumentos de enriquecimento a qualquer custo e de poder quase incontrolável na sociedade acovardada e com os armários cheios de esqueletos.
a quem interessaria a verdade, nestas circunstâncias?
Pois é...
Que bom que você existe, Bia!
Bjs
Seu Demir, a TPM do Demétrio "Boca de Ferro" ganhou mais um motivo.O governo do Pará apresentou hoje, na er...capital do estado, um relatório que sugere a suspensão dos incentivos fiscais da Usimar, da Cosipar e da Ibérica.
A continuar assim, o suplente predador vai acabar...numa delegacia de puliça.
Ou num hospital, se o Tião chegar antes.
Bom-dia, professor!
Dessa performance Ibama-Governo do Estado-defensores ambientais- combte ao trabalho escravo e ao carvão clandestino, acaba ficando só a Nucor/Vale no distrito industrial de Marabá (porque é a única que possui 60 mil hectares de eucalipto já passando do tempo de corte, no Maranhão, parte integrante do espólio privatizado da ex-Vale nacional. O plantio era o antigo projeto Celumar - Celulose do Maranhão que, como se vê, destinava-se a outro fim, não a produção de carvão.
Grande Ademir, gostaria de sua analise sobre os números eleitorais da pesquisa divulgada em Marabá.
Abraços,
Marcones José.
Caro Marcones:
Você viu a resposta do Hiroshi ao Ulisses Pompeu? Os dados que ele tem lhe chegaram por fonte que mantém em sigilo e ele os está publicando em conta-gotas. Não dá sequer o período (muito importante, aliás) em que ela foi realizada, nem número de pessoas ouvidas, nem os bairros em que teria sido feita.
Desde menino aprendi que a estatística é um mito: se meu vizinho solteiro come 9 frangos numa cachaçada de final de semana, a estatística prova que eu, mesmo não estando lá, mais a namorada ele e a minha, comemos pelo menos dois frangos cada um.
De qualquer forma, pelo espectro do que vem sendo divulgado observo que estamos completamente falidos em matéria de renovação política. Absolutamente nada representa o novo, uma liderança confiável.
mas eu continuo sonhando com uma renovação, nem que seja depois do fim do mundo previsto para 2080.
Belíssima síntese. Como antigo leitor de sua coluna, e agora de seu blog, eu já esperava um comentário à altura.
Certamente a pesquisa é vaga.
Abraços,
Marcones José.
Pra quebrar este clima tenso pré-eleitoral, acalme-nos com uma de suas belas obras poeticas!!!
Marcones José.
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