quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Destinos
“Amanhã temos cinema”, dizíamos na infância;
e o Cine Marrocos enchia a tela de bang-bangs.
“Também vamos ao Pirucaba,
saltar n’água entre ariranhas
e chupar tanta azedinha até dar cica nos dentes!”
“Quero ver Nega Tereza bubuiar no serrotão”,
vibrava Diabo Louro sob a croa sarará.
Serrotão era o encrespado de pedras e corredeira
no meio do Takai-una de saranzais e mandingas.
Nega Tereza, a parceira de mão grande e alvos dentes,
mais parecia menino que doce nega fulô.
E que coragem e ousadia que nos enchia de orgulho!
Vivíamos assim largados, lagartos no paraíso.
E sonhos não nos faltavam, pejados de alvoroço...
Quando a gente crescer - um dia nós nos propomos -
eu, Diabo Louro e Mariano
vamos ser escafandristas nos garimpos do Alencar.
E Nega Tereza vai? Garimpo, será que agüenta?
(Nega Tereza vai não. Ela vai ficar em casa
cuidando da negralhada que eu e ela teremos).
Então a gente cresceu e fez-se coisa do mundo.
Nega Tereza morreu (de filho que não era meu).
Mariano King Kong virou fumaça na vida.
Diabo Louro matou-se de solidão e cachaça,
e foi ser craque, o que era, nos campos do infinito.
E eu, que ia embora pra Escócia ou Martinica,
Perdi-me tanto entre amores
que dei por mim assim mesmo:
a falar grego sozinho nas ruas de Istambul.
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