Pages

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Azizin

Valdinar Monteiro é procurador jurídico da Câmara, evangélico dedicado e um cronista vigoroso. Por essa última virtude, vivo cobrando dele a publicação de um livro dos textos que hoje dispõe em blog na internet. Dia desses ele falou sobre a deslembrança de Aziz Mutran Filho, aquele poeta que cortou pulsos, uma vez,meteu uma bala na cabeça, noutra chance, e por fim encontrou a morte numa forca improvisada no quintal de sua casa em 2003. Por conta da crônica de Valdinar, contei-lhe um fato por mim vivido juntamente com o Azizin. Foi em 1974. Eu, desde dezembro de 73, era correspondente dos jornais A província do Pará e O Estado de S. Paulo e testemunha atenta dos efeitos colaterais perniciosos que a guerrilha do Araguaia desencadeava na cidade vigiada por toda espécie de farda. Isso, contudo, não reduzia a violência. No campo começara a caça a trabalhadores sem-terra, principalmente as lideranças camponesas, e na cidade os recrutas, de folga, inundavam as ruas com embriaguez e violência. A imprensa, claro, era mantida em rédea curta. Assim, quando comecei a publicar no Estadão a luta pela terra nas fazendas Cazam e Capaz, do norte-americano John Weaver Davis, não foram poucas as vezes que fui obrigado, melhor, levado manu militari ao quartel do 52ª BIS, explicar isso e aquilo. Um dia, o próprio delegado e seu comissário de polícia, juntamente com policiais militares, foram ao gabinete do prefeito Pedro Marinho de Oliveira, onde eu prestava assessoria, para prender-me. Eu morava com minha mãe e estava em casa, cedo, quando o Azizin chegou. Assustado, queria tirar-me da cidade a qualquer custo. Mas, de bicicleta?!!! E para onde ir, na cidade sitiada? Eu me sentei na calçada e comecei a rir, Ri tanto que ele descontraiu e riu e fomos fazer o que mais gostávamos quando juntos: fomos ao bar do canto embriagar-nos. Fossem para o inferno os policiais, a repressão, a tragédia cotidiana de uma cidade infelicitada por problemas a que não demos causa.

4 comentários:

Telma Christiane disse...

Tenho saudades do Seu Aziz...

Anônimo disse...

Bom dia, poeta:

que bom lembrar do Azizinho com você, lendo sua crônica.

E que bom relembrar que um grande amigo propõe saídas para qualquer situação em qe o outro corra perigo. Nem que a saída seja de bicicleta pelas linhas inimigas...

Abração.

Ademir Braz disse...

Oi, Telma e Bia:
Aziz carregou nas costgas tanto energúmeno vereador nas costas e ninguém se lembra de dar o nome dele sequer a um beco fétido nessa terra ingrata.
Ô raça!...

Anônimo disse...

Valeu, mano velho!
Sugiro a Bia que, se ainda não leu, leia minha crônica a que você se refere, cujo título é "Esquecimento involuntário". Está nos meus blogs: http://valdinar.zip.net, http://vms.uniblog.com.br e http://valdinar.blogspot.com. É bom quando a gente escreve as pessoas lêem. É melhor ainda quando comentam.
Abraço!