Pages

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Extrativistas mais fortes e unidos para denunciar desmatamento

Amigo próximo do casal de extrativistas assassinados na terça-feira (24) no Pará, o diretor do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Atanagildo Matos, disse ter certeza de que as mortes de Maria do Espírito Santo e João Cláudio Ribeiro da Silva foram encomendadas para tentar prejudicar as comunidades que vêm denunciando o desmatamento ilegal, promovido por madeireiros da região.
Ele advertiu que, no entanto, o tiro saiu pela culatra. “Agora estamos mais fortes e unidos para defender a floresta”. “Ainda não sabemos exatamente quem foi o mandante porque as denúncias feitas por João atingiam diversos grupos e interesses. Mas tenho certeza de que essas mortes foram encomendadas”, disse Matos à Agência Brasil. Segundo ele, o assassinato do casal deixou a comunidade muito abatida, porém fortalecida.
“A morte deles deixou o movimento mais indignado e vamos buscar forças nessa indignação para pressionar o governo a respeitar nosso pedido e a população das florestas. Perdemos um casal muito atuante e digno. Que trabalhava e era querido pela comunidade. Mas, assim como as árvores que eles defendiam, eles também deixaram sementes. Precisamos continuar nossa luta. Agora vamos nos juntar para avaliar a situação e continuar nossa missão”, acrescentou o diretor do CNS.
Junto com o casal, Matos desenvolvia o Plano de Manejo Florestal de Uso Múltiplo, um projeto de sustentabilidade que atinge diversas localidades da Amazônia. “É uma experiência de uso lucrativo da floresta, mas sem derrubar nem queimar árvores”, explicou.
A entidade defende políticas dirigidas ao pequeno, médio e grande produtor. “A responsabilidade pelas florestas tem de ser de todos”, afirmou o ativista, que cobrou a prisão de todos que cometerem crimes ambientais. “Não se pode mais continuar essa política destruidora e devastadora”, disse Matos, que está no movimento desde 1978.
“Foi uma triste coincidência o assassinato deles ter sido cometido em uma data tão próxima à aprovação do Código Florestal, com essas emendas que anistiam criminosos e que delegam a municípios e estados a definição das áreas de proteção”, desabafou.
Na comunidade onde viviam Maria do Espírito Santo e João Cláudio Ribeiro da Silva, há cerca de 250 famílias ocupando uma área de 36 mil hectares. Hoje (26), ocorrerá o sepultamento dos dois seringueiros.
(Agência Brasil)
------
ANPR apoia investigação de assassinato
A Associação Nacional dos Procuradores da República lamenta os assassinatos de José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo Silva, castanheiros no Assentamento Extrativista  Praialta-Piranheira, no município de Nova Ipixuna (PA).
José Cláudio e Maria do Espírito Santo eram defensores da Floresta Amazônica e do desenvolvimento sustentável. Ambos combatiam e denunciavam as explorações ilegais de madeira. Por conta das informações e do trabalho ativo na defesa do meio ambiente, madeireiras irregulares foram fechadas e investigações policiais iniciaram-se para apurar os crimes ambientais. Muitos dados foram encaminhados ao MPF em Marabá, que serviram de base para ações no combate à degradação da Natureza.
A defesa do meio ambiente fez mais duas vítimas na região Amazônica, que teve a luta de Chico Mendes e de Irmã Dorothy Stang encerradas por quem não admitia manter a floresta íntegra, como pressuposto para a geração de emprego e renda para os amazônidas.
A Associação Nacional dos Procuradores da República apoia uma apuração rigorosa no caso e a punição de todos os responsáveis por mais este crime contra os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Brasília, 25 de maio de 2011.
Alexandre Camanho de Assis
Procurador Regional da República
Presidente da ANPR
-------

“Mataram o e a Dona Maria!”
Foi com muito pesar e indignação que a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) recebeu a notícia do assassinato covarde de José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa Maria do Espírito Santo, no dia 24 de maio de 2011, no Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna (PA).
Somos solidários à família, extrativistas e agricultores da região e esperamos que as autoridades policiais cumpram adequadamente seu papel, descobrindo quem foram os responsáveis por tamanha barbaridade e que estes sejam levados à justiça. Esperamos que toda a cadeia de comando envolvida neste crime seja desarticulada e presa.
O enfrentamento realizado por estas lideranças sociais soma-se à difícil tarefa que várias instituições públicas e da sociedade civil tem tentado executar, não apenas na Amazônia, mas em todo o Brasil. Lutar contra as forças políticas e econômicas que lucram com o desmatamento ilegal e com a grilagem de terras significa se expor à mira de grupos criminosos. Infelizmente, o Estado ainda não consegue proteger aqueles que se levantam contra tais interesses, reagindo somente após o derramamento de sangue.
As mesmas mãos que assassinam e intimidam lideranças dos movimentos sociais também tentam, por coação, ameaças e violência, frear o trabalho de servidores do ICMBio e IBAMA.
Nossos sinceros abraços, com a certeza de que lutamos por valores em comum, pela sustentabilidade ambiental e social com qualidade de vida e direito aos territórios dos agricultores familiares, extrativistas e demais populações tradicionais.
ICMBio/CR4-Belém.
Em 25 de maio de 2011

Um comentário:

João Dias disse...

O crime organizado.

O crime organizado da floresta encontra as suas raízes na Lei nº 4.771, de 15 de Setembro de 1965, com a Instituição do Código Florestal, combinado com a Lei 9.605, de 12 de fevereiro de 1.998, que trata dos crimes ambientais. Essas são, entre outras, as duas grandes armas de que dispõem os profissionais que atuam nessa atividade. Os órgãos federais, estaduais e municipais constituídos, não conseguem dar eficácia aos mandamentos legais.

Lembro que até os anos 70, quando ainda não tínhamos a Transamazônica, a atividade econômica extrativista de Marabá era o fruto da castanheira. Existiam tantas quantas, as estrelas lá do céu. Não tinha valor econômico. Nas décadas seguintes a atividade se diversificou e, hoje, é possível contar nos dedos o número e a região onde a árvore ainda pode ser encontrada.

Nesse processo, o crime foi se especializando e evoluiu da atividade extrativista para outros subprodutos de maior lucratividade que, naquele momento, era até incentivado pelos governos, de forma a integrar para não entregar, ultrapasando a fronteira da legalidade no trato com a floresta.

Atualmente, dada a atitude corajosa de alguns ativistas, ambientalistas e preservacionistas da região, comprometidos com a defesa do meio ambiente, principalmente das espécies em extinção, esse “Homem” resistente passou a substituir a castanheira, o cedro, a andiroba, etc., e pagam com a própria vida o enfrentamento desigual, do corpo com a bala traiçoeira.

A investigação desse crime, por mais que o criminoso (s), seja o objeto da ação policial, deve ter em conta que, a estrutura e o modo de operar do crime organizado, voltado para esse tipo de atividade, não visa exclusivamente este, esse ou aquele colono, mas, se a área em que eles estão assentados, tem ou não árvores para serem derrubadas, comercializadas. O cultivo sustentável não lhes interessa, eles não são colonos, não vivem aí, nem disso, o lucro deve ser imediato. É preciso agir e investir, contratam profissionais do crime para executarem o opositor, como sócios da organização e do processo.

Não sou autoridade policial nem governamental para traçar as diretrizes e elucidar o crime mas, uma opinião merece ser registrada: Aquela região, como divulgado pela mídia, é área de assentamento com propósito de conservação e desenvolvimento sustentável. Ainda tem muitas castanheiras e outras madeiras de lei, muitos colonos e seus familiares residem nessa região e dela tiram seu sustento, portanto, será motivo permanente de novos assassinatos, pouco importando quem morreu ou quem matou, prevalecerá sempre o império do crime organizado.

João Dias.
Sds.democráticas