Localizada no município de Canaã dos Carajás, a vila Racha
Placa (também chamada Mozartinópolis), vem sendo metodicamente demolida pela
mineradora Vale (do Rio Doce), para iniciar, nas imediações, mais uma exploração
de minério de ferro. Trata-se do projeto Ferro Carajás S11D, também conhecido
como Serra Sul que, embora deva ficar a alguns quilômetros da vila, parece estar
a empresa empenhada em erradicar as famílias residentes nas cercanias.
“A vila foi fundada há 28 anos por moradores que migraram
para a região em busca de terra, diz o advogado José Batista Afonso, da CPT de
Marabá. Até o início da intervenção da empresa, possuía em torno de 500
habitantes, boa infraestrutura, energia elétrica, água encanada em todas as
residências, posto de saúde, posto da Adepará, posto telefônico, três igrejas,
comércios, hotel, transporte, centro comunitário e uma escola com quadra de
esportes, mais de uma centena alunos e 22 professores e auxiliares. Tudo isso
foi conquistado com a organização e luta dos moradores e muitas coisas foram
feitas por eles mesmos. A comunidade tinha uma organização social ativa com
suas festas tradicionais, as práticas religiosas de um grupo de famílias
católicas e um grupo de famílias evangélicas, práticas esportivas envolvendo
principalmente a juventude. Havia um grupo de mulheres que produziam peças
artesanais e um grupo de produtores que levam produtos para serem
comercializados na feira da cidade de Canaã.”
Mas a rotina de tranquilidade acabou recentemente, a partir
de quando a Vale decidiu iniciar o projeto S11D, o Serra Sul, investimento de
11,30 bilhões de dólares, - 4,79 bilhões na mina e 6,51 bilhões em
infraestrutura logística. A projeção é de exploração de 90 milhões de toneladas
de ferro ano. Para o escoamento, a Vale ampliará a estrada de ferro Carajás em
102 km até o local do projeto. A empresa requereu também, do DNPM, uma área de
servidão ao redor do projeto com 12.144 hectares, pedido aceito pelo órgão em
janeiro de 2009.
Para instalar o projeto, a Vale precisaria das licenças
Prévia (atesta a viabilidade do projeto), de Instalação e a de Operação. Mas,
nem a licença prévia foi até agora concedida, e a empresa já iniciou o processo
de expulsão das famílias que estão no entorno do projeto como é o caso dos
habitantes da Vila Racha Placa, diz José Batista Afonso.
A primeira investida da Vale para desestruturar a Racha
Placa se deu em 2008. A empresa planejou a compra de todas as fazendas do
entorno da vila e, para atrair o interesse dos fazendeiros, superfaturou o
preço da terra: enquanto o alqueire de no mercado local era comercializado, em
média, a R$ 30.000, a empresa pagou aos fazendeiros R$ 70.000,00. Calcula-se
que a empresa já adquiriu cerca de 48 imóveis entre pequenas, médias e grandes
propriedades no entorno do projeto. “Grande parte das terras adquiridas aos
fazendeiros é propriedade da União, mas até o momento o Incra nada fez para
levantar essa situação e arrecadar o que faz parte de seu patrimônio”.garante a CPT.
O acordo com os fazendeiros incluiu a exigência de que eles
vendessem também as residências e casas de comércio que possuíam na vila. O
acordo de venda obrigava ainda esses proprietários a destruírem todas as
instalações vendidas tão logo fechassem o contrato de compra e venda. “Dessa
forma, as melhores casas existentes na vila, o único hotel, a sorveteria, etc.,
foi tudo jogado ao chão com o fechamento do negócio. Quem visitou a vila nesse
período, tinha a impressão de ter acontecido um bombardeio no local”.
O relatório, de quatro páginas e mais de dez mil caracteres
com espaço, também acusa a Diagonal
Urbana, empreiteira da Vale, de jogar pesado contra moradores pobres da vila,
forçando-os a aceitar os valores irrisórios propostos pela minerdora: “Técnicos
da Diagonal passaram a frequentar diariamente a vila, visitando cada morador e
fazendo pressão psicológica para que aceitassem os valores, sem discutir. Afirmações como: “para cá vão vir muitos
homens e as filhas de vocês poderão cair na prostituição”, “se vocês não
aceitarem essa proposta a empresa não vai fazer outra.” E “a partir desta data (2008) vocês não podem
mais construir e nem fazer mudanças nas casas”.
Política &
Desenvolvimento entrou em contato na quinta (26) e sexta-feira (27) com a
Assessoria de Comunicação da Vale em Marabá, em busca da sua versão para os
argumentos da Comissão Pastoral da Terra, mas até o fechamento da página não
obteve qualquer esclarecimento, a despeito do empenho da assessoria acionada
junto ao escritório central da empresa.
2 comentários:
Acho que se um dia houver proposta para a região dos municipios ao entorno de CANAÃ o nome vai ser "PARÁVALE". Ainda tem gente que diz que o Pará é dos paraenses. A coitados!
É mais um capítulo do descaso com que a população da região é tratada. Uma comunidade estável vai dar lugar a uma exploração que não traz benefícios para a região. Até quando a Amazônia vai ser tratada dessa forma?
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