sexta-feira, 13 de abril de 2007
MST vai à luta
São Paulo, Rio Grande do Sul, Piauí, Pará e outros estados serão o palco da mobilização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) neste mês de abril. Neste mês, já é tradição: os integrantes do movimento cobram promessas de assentamento, da construção e melhoria das estradas dos assentamentos, o transporte escolar e a educação, até de coleta do lixo, obrigação da administração pública.
A Via Campesina Pará, coletivo camponês que o MST integra, dedicará quatro dias ao debate, neste abril, segundo o jornal Carta Maior. A ação será desenvolvida em acampamentos em Belém e Eldorado. Entre os objetivos do acampamento estão: chamar atenção da sociedade para a violência e impunidade na luta pela terra, organizar camponeses, indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores, contra a implantação de grandes projetos na Amazônia.
A organização afirma que esses mega-projetos ameaçam o modo de vida da população na Amazônia a ampliação de monoculturas exóticas à região, como a soja, projetos de hidrelétricas e exploração mineral. Ao contrário do discurso de gerar emprego, renda e desenvolvimento, como dizem em suas propagandas, o saldo desses grandes projetos tem sido a destruição da floresta, a poluição de igarapés e rios, a prostituição e o inchaço das cidades, diz a Via Campesina.
Leonardo Boff, Rosa Acevedo Marin, Lourdes Furtado, Dom Erwin Krauser, o procurador da República Felício Pontes e os dirigentes João Pedro Stedile Marco Antônio estão entre os conferencistas que debaterão sobre a biodiversidade e reforma agrária, a dinâmica do capital na Amazônia e projeto popular para o Brasil. A agenda da Via Campesina Pará inclui ainda conversa com representantes de órgãos públicos na esfera federal estadual, dos setores agrário, agrícola, pesquisa, meio ambiente, financeiro e extensão rural.
Por que abril?
Rogério Almeida, jornalista e simpatizante do MST, explica de Belém:
“Faz 11 anos que a chacina de 19 trabalhadores rurais sem terra, no lugar conhecido com “Curva do S”, na rodovia PA-150, arrancou do anonimato a cidade de Eldorado do Carajás, no Sudeste do Pará. A marcha dos sem-terra foi interrompida por tropas da Polícia Militar, que obedeciam a ordens do então governador Almir Gabriel (PSDB).
Os laudos médicos nos corpos dos que tombaram deixa claro: houve execução à queima roupa. Tiros foram disparados à curta distância em nucas e peitos. Os PMs usaram as próprias ferramentas dos sem-terra na mutilação dos corpos dos militantes.
Além dos 19 mortos na chacina, 75 foram feridos gravemente. Alguns, até hoje, possuem balas alojadas no corpo. O grupo peleja na Justiça por reparação. O prazo limite para pagamento de indenização aos sobreviventes é o mês de julho. Mas tudo depende da burocracia do Estado. Dos que entraram com processo contra o Estado do Pará, somente 20 recebem pensão de um salário mínimo, que julgam insuficiente para a manutenção de suas vidas com dignidade.
Dos 155 policiais envolvidos no caso, não há nenhum preso. Os comandantes do massacre, coronel Mário Pantoja e o major José Maria Oliveira, que foram condenados a 228 e 154 anos de prisão, respectivamente, respondem o processo em liberdade. Por conta das “brechas” da lei, Almir Gabriel e o secretário de segurança, Paulo Sete Câmara, não foram pronunciados no processo.
É o Pará uma terra sem lei? Em 33 anos, 772 pessoas foram mortas no Pará em decorrência de conflitos no campo. 567 permanecem sem apuração, o que indica uma impunidade de 73%. O Judiciário tem sido ágil em expedir liminar de reintegração de posse, já em apurar as execuções dos que se opõem ao latifúndio, não.”
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