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sexta-feira, 18 de maio de 2007

A arte em grãos - V: Ronaldo Giusti

Ronaldo Giusti Abreu nasceu em São Luis do Maranhão em 11.07.59, formou-se em Direito pelo então Cesep (hoje Unama, Belém), em Agosto de 1982. Desembarcou em Marabá nos idos de abril de 1984, ano em que lançou, em dezembro, seu “Canto Inicial”, obra poética. Foi duas vezes presidente da sub-secional da OAB; em julho de 96 tornou-se executor do Incra; também foi Procurador Geral do Município. Dedicado à Advocacia, também não descura da sua arte. Veja abaixo a nova poesia de Ronaldo Giusti, coletada do site “A poesia é necessária” (http://ronaldo.giusti.zip.net) Vadico... dona maria a enrolar charutos que o menino venderia nas ruas estreitas de são luís e assim o status de adulto: aos doze anos o primeiro gole a primeira mulher o que restou da boêmia: na bainha, espada de penicilina soldado à paisana na guerra contra o exército de bacilos era como se planasse ladeira abaixo e era sábado (a camisa de algodão inflada pelo vento quente da tarde) o maldito salva-vidas a gritar: lá vem golias! lá vem mata-gato! lá vem massiste! na oficina: a solidão dos relógios o carrilhão na parede a espera do conserto que não virá sexta-feira à noite: os cabarés da Côndor minha iniciação sexual que já não seria apenas uma mentira pai... na terça-feira gorda quando já não havia qualquer esperança de folguedo um anjo do mal lhe pegou pela mão e levou-lhe para um lugar desconhecido pai... vem o passado (embrulhado em papel de pão) e diz que já é tempo de pagar o conserto da velha máquina de escrever o passado é a velha tecla empoeirada suja de tinta e lubrificante que “seu” jordão limpava com paciência e sabia que ela jamais seria a mesma e já não gravaria como antes na branca pele do papel “chamex” mas a tecla do teu sorriso iluminada pelos olhos de criança cravava em mim um chamado (algo que jamais entendi) talvez um apelo que detrás da porta me acompanharia os passos para sempre o aguardente animava o final da tarde que o trabalho árduo preenchera de cansaço raimundo que não sabe ler nem escrever aceitou o desafio do patrão discordou do amo e por isso ganhou de prêmio terçadadas que pelo corpo inteiro lhe fazem lembrar do preço de ser homem estou entre a rudeza das mãos em desalinho e a candura dos lábios que buscam em fala gestos e sussurros estou entre a flor entreaberta e o falo que a despetala e assim não há morte mas a fugaz sensação de um eterno recomeço Sábado à tarde. O sol ferve a água tocantina. Eu posso vê-la borbulhando da janela do escritório. Nada me diz que ela voltará ao leito natural do rio, tão cedo. Nada é novidade nesta tarde nem mesmo nos acampamentos onde os flagelados se amontoam e fazem fila à espera do pão, o pão em cesta básica que o chefe da Defesa Civil distribui como esmola... eu a colhi como uma flor o coletivo subindo a ladeira (minha cabeça para fora da janelinha) às duas da tarde no caminho para o centro educacional do maranhão tínhamos 13 anos e a inocência a vencer o beijo sem volúpia o sexo a brotar na calça (saia) curta do uniforme escolar o namoro durou apenas o ano letivo depois os dias quentes a brisa da avenida beira-mar e o exame de admissão para o liceu maranhense nos separaram definitivamente por onde anda maria lúcia ribeiro? é mãe tia avó? aos 46 anos de idade casou-se separou-se suicidou morreu de parto ou de doença? é dona-de-casa operária dentista ou advogada? não não quero resposta! como gullar quero apenas perguntar: algo que ficou sem resposta e que assim ficará para sempre

2 comentários:

Ronaldo Giusti disse...

Caro Ademir,

Obrigado pela homenagem. Gestos como o seu, singelos, é que nos fazem seguir no exercício do fazer poético. Fazem-nos, erradamente, acreditar que somos mais do que verdaeiramente somos...

Ademir Braz disse...

Caro Ronaldo:
Como diz seu espaço "A poesia é necessária". Inda mais numa região em que se contabiliza bois e toneladas de gusa, enquanto a vida parece perder o sentido.
São pessoas como você e sua poesia que fazem sobreviver o sentimento drumonniano do mundo.
Continue, e um abraço