Ronaldo Giusti Abreu nasceu em São Luis do Maranhão em 11.07.59, formou-se em Direito pelo então Cesep (hoje Unama, Belém), em Agosto de 1982.
Desembarcou em Marabá nos idos de abril de 1984, ano em que lançou, em dezembro, seu “Canto Inicial”, obra poética. Foi duas vezes presidente da sub-secional da OAB; em julho de 96 tornou-se executor do Incra; também foi Procurador Geral do Município. Dedicado à Advocacia, também não descura da sua arte. Veja abaixo a nova poesia de Ronaldo Giusti, coletada do site “A poesia é necessária” (http://ronaldo.giusti.zip.net)
Vadico...
dona maria a enrolar charutos
que o menino venderia
nas ruas estreitas de são luís
e assim o status de adulto:
aos doze anos
o primeiro gole
a primeira mulher
o que restou da boêmia:
na bainha, espada de penicilina
soldado à paisana na guerra
contra o exército de bacilos
era como se planasse
ladeira abaixo e era sábado
(a camisa de algodão inflada
pelo vento quente da tarde)
o maldito salva-vidas a gritar:
lá vem golias!
lá vem mata-gato!
lá vem massiste!
na oficina:
a solidão dos relógios
o carrilhão na parede
a espera do conserto
que não virá
sexta-feira à noite:
os cabarés da Côndor
minha iniciação sexual
que já não seria apenas uma mentira
pai...
na terça-feira gorda
quando já não havia
qualquer esperança de folguedo
um anjo do mal lhe pegou pela mão
e levou-lhe para um lugar desconhecido
pai...
vem o passado
(embrulhado em papel de pão)
e diz que já é tempo
de pagar o conserto
da velha máquina de escrever
o passado é a velha tecla empoeirada
suja de tinta e lubrificante
que “seu” jordão limpava com paciência
e sabia que ela jamais seria a mesma
e já não gravaria como antes
na branca pele do papel “chamex”
mas a tecla do teu sorriso
iluminada pelos olhos de criança
cravava em mim um chamado
(algo que jamais entendi)
talvez um apelo que detrás da porta
me acompanharia os passos
para sempre
o aguardente animava o final da tarde
que o trabalho árduo preenchera de cansaço
raimundo que não sabe ler nem escrever
aceitou o desafio do patrão
discordou do amo e por isso
ganhou de prêmio terçadadas
que pelo corpo inteiro
lhe fazem lembrar
do preço de ser homem
estou entre a rudeza
das mãos em desalinho
e a candura dos lábios
que buscam em fala
gestos e sussurros
estou entre a flor entreaberta
e o falo que a despetala
e assim não há morte
mas a fugaz sensação
de um eterno recomeço
Sábado à tarde.
O sol ferve a água tocantina.
Eu posso vê-la borbulhando
da janela do escritório.
Nada me diz que ela voltará
ao leito natural do rio, tão cedo.
Nada é novidade nesta tarde
nem mesmo nos acampamentos
onde os flagelados se amontoam
e fazem fila à espera do pão,
o pão em cesta básica
que o chefe da Defesa Civil
distribui como esmola...
eu a colhi como uma flor
o coletivo subindo a ladeira
(minha cabeça para fora da janelinha)
às duas da tarde no caminho
para o centro educacional do maranhão
tínhamos 13 anos e a inocência a vencer
o beijo sem volúpia o sexo a brotar
na calça (saia) curta do uniforme escolar
o namoro durou apenas o ano letivo
depois os dias quentes a brisa da avenida beira-mar
e o exame de admissão para o liceu maranhense
nos separaram definitivamente
por onde anda maria lúcia ribeiro?
é mãe tia avó? aos 46 anos de idade
casou-se separou-se suicidou
morreu de parto ou de doença?
é dona-de-casa operária
dentista ou advogada?
não não quero resposta!
como gullar quero apenas perguntar:
algo que ficou sem resposta
e que assim ficará para sempre
2 comentários:
Caro Ademir,
Obrigado pela homenagem. Gestos como o seu, singelos, é que nos fazem seguir no exercício do fazer poético. Fazem-nos, erradamente, acreditar que somos mais do que verdaeiramente somos...
Caro Ronaldo:
Como diz seu espaço "A poesia é necessária". Inda mais numa região em que se contabiliza bois e toneladas de gusa, enquanto a vida parece perder o sentido.
São pessoas como você e sua poesia que fazem sobreviver o sentimento drumonniano do mundo.
Continue, e um abraço
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