sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Pescaria
João, o pai, chamou o filho Luís e lançaram no Tocantins os espinhéis. O rio estava calmo, a pescaria uma sonolência, e bem mais tarde, quando os dois já cochilavam após terem atado a ponta da linha no banco da canoa, o menino sobressaltou-se com um socavão e acordou o velho. Era um peixe enorme, pressentiu o pai, recolhendo a poita para deixar a canoa solta, ao sabor da fúria apanhada no anzol. E tão enorme era o fisgado que arrastou os dois, noite a dentro e rio abaixo, até perto da corredeira do Capitariquara, enquanto o velho mal segurava o jacumã. Seja o que Deus quiser, rezava, enquanto o menino choramingava deitado no fundo da montaria. Muito, muito lá embaixo, o peixe fez um rodopio e voltou cortando água em velocidade espantosa. E do jeito que veio subiu a ribanceira, avançou pela rua central do povoado, atravessou a mata quebrando paus com estrondos, até livrar-se dos anzóis e desaparecer no meio do descampado. Durante anos especulou-se com espanto e terror na vila que visagem seria aquela – o nego d’água, a buiúna, ou a própria alma do Tocantins. Mas foi assim que se abriu o primeiro ramal ligando Itupiranga à Transamazônica. (Histórias marabanesas, obra ainda inédita)
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