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sexta-feira, 20 de março de 2009

Lagartos no paraíso

De ler Ademir Braz, nunca me canso. Escasso na missiva que hoje vem sempre pela telinha mágica do computador, sorvo goles de sua lavra quando abro o Correio do Tocantins e vejo que o redator deixou-lhe espraiar-se como comentarista acre das mazelas econômicas, ambientais e sociais de nosso país. Ainda que sob as rédeas curtas do contrato, vez ou outro ele verseja ou prosa, para o deleite do leitor aflito por suas iguarias escritas. Recebi Lua de Jade e li, por compromisso, furtando tempo aos outros que me pediam cumprimento sobre a mesa plena de papéis e projetos pendentes. Entre os sobressaltos que seu texto me provocava, acelerando os batimentos do coração e me excitando a mente, nada me fez tanto bem como imaginar “lagartos no paraiso” do poema Destinos, em prosa. Lua de Jade é muito amoroso para este que se metamorfoseia, neste livro maduro, a cada verso, em sentimentos que estão mais para a melancolia. A afiada maestria que demonstra no domínio da lâmina vernacular, entalha outros sentimentos, dissecando o leitor que se arvore em lhe encontrar no duelo que estabelece, tendo sido ele quem escolheu as armas. Ninguém lhe acertará o peito, sem lhe mirar os olhos atentos, reflexivos, e escutar-lhe a voz pausada, saída sempre de uma respiração meticulosamente contida e solta como quem economiza energia em tempos de crise. Não é o mesmo com seu verso, neste livro, que soa longo e abundante, pleno de imagens e lento no arrastar-se e arrastar-nos para o poço interior das reminiscências e mágoas, amores platônicos e desenganos. A musicalidade de Ademir Braz é prato cheio para os parceiros que lhe denunciam acompanhando em canções como Ricardo Smith, em Indagações e Javier de Mair-Abá, em Kaaru mbija (Canção para Idelma). O que mais estranho em tudo isso, é que tão fecundo trabalho ainda não tenha achado mecenas a lhe fazer voar para a fama, partilhando louros e níqueis, ainda que não seja o encontro do vil metal a arte mais desenvolvida nos poetas, e disso todos sabem e até fomentam uma idéia franciscana de que poetas não podem enriquecer em vida. Rompa-se o ciclo da miséria e derrame-se o verso do Braz sobre os nossos analfabetos e ávidos espíritos. Que a Lua de Jade nos ilumine a todos! (Gutemberg Guerra, de New York)

2 comentários:

Dr. Valdinar Monteiro de Souza disse...

Rapaz! O meu caríssimo Prof. Dr. Gutemberg Guerra, nesse comentário, escreveu um dos textos mais lindos que já tive a oportunidade de ler. Isso que ele fez, sem dúvida alguma, não é um comentário, é uma crônica das mais lindas, aliás muito bem intitulada "Lagartos no Paraíso". A despeito de um pequeno cochilo que passar “em lhe encontrar” e “que lhe denunciam” em vez de “em o encontrar” e “que o denunciam”, eu daria, como dou, nota dez com louvor. Dez "laude cum maxima"!

Bia disse...

Caramba, Poeta!

Que inveja do Professor Gutemberg! Saber dizer assim bonito coisas bonitas sobre um Poeta.

Beijão.