A Companhia Vale do Rio Doce , segunda maior mineradora mundo , realizou no final de novembro uma audiência pública do Projeto Ferro Carajás S11D na cidade de Canaã dos Carajás , sudeste do Pará . Cerca de 500 pessoas participaram do evento , entre essas alguns funcionários da Vale e de empresas contratadas, trabalhadores rurais , comerciantes , moradores e autoridades municipais. Presentes também representantes das organizações não governamentais Cepasp (Raimundo Gomes da Cruz Neto ), e Movimento Debate e Ação (Edileuza Miranda Feitosa, Milena Gabriele Almeida de Souza, Iara Fernandes dos Reis e Marcelo Melo dos Santos ).
A audiência foi coordenada pelo representante do Ibama, em conjunto com a Vale , um representante do ICMBIO e outro da Golder Associates, que elaborou o Eia/Rima (Estudo de Impacto Ambiental e seu relatório ).
O projeto S11D faz parte do complexo minerário da Serra Sul , formado por uma cadeia de montanhas de 120 Km de extensão , com 47 jazidas a serem exploradas. O S11D é apenas um bloco da 11ª jazida , que foi dividida em quatro blocos : A, B, C e D.
É considerado o maior projeto da Vale , nos cinco continentes onde atua. Está previsto para ter inicio de extração do minério no ano de 2014, com capacidade de 90 milhões de toneladas /ao, quase a capacidade total do Projeto Ferro Carajás , que deve chegar este ano a 100 milhões de toneladas . A produção de 90 milhões de toneladas representa, em relação ao ano de 2008, 24,3% da produção nacional e 4% da produção mundial.
A comercialização dessa produção representaria hoje o montante da ordem de 10,8 bilhões de dólares.
A área a ser desmatada e alterada na Floresta Nacional (Flona) corresponde a 2.722 hectares , sendo 23 hectares (1%) em ambientes de lagoa , 1.062 hectares em ambientes savânicos (39%), e 1.506 hectares em ambientes florestais (55%), mais 130 hectares em ambientes de pastagens (5%) fora da Flona.
A lavra será feita em duas cavas , com área total de 1.232 hectares , tendo as jazidas áreas em tamanhos aproximados a: 8 km de comprimento ; 0,8 a 2,5 km de largura variável ; profundidade de 20 a mais de 350 metros .
Está prevista a extração de 3,4 bilhões de toneladas de minério de ferro , com teor médio de 66%, para um volume total de estéril em torno 1,74 bilhão de toneladas .
Na etapa de implantação , prevê-se a média de 3.153 trabalhadores contratados um total de 5.271 no pico da obra com os seguintes percentuais : engenheiros (2,4%); médicos e enfermeiros (3,5%); técnicos (2,1%); encarregados (2%); auxiliares administrativos (16,7%); serventes (20,3%); ajudantes (17,0%); pedreiro , carpinteiro , armador , montador, soldador, eletricista , mecânico etc. (39,4%). Na etapa de operação são previstos 2.598 trabalhadores : 5,4% de nível superior , e 94,6% de nível médio : engenheiros (1,9%), gerência /supervisão (3,5%), técnicos /operacionais (94,6%).
A audiência pública não foi pacífica . A população atingida esperava que fosse abordada a questão dos problemas que virão com a duplicação da ferrovia , construção da linha férrea Parauapebas/mina , e a rodovia da PA-260 à mina . Mas , no dizer de um trabalhador , tanto a Vale quanto a Golder Associates limitaram-se a falar da grandeza do projeto , da contribuição para o PIB nacional e estadual, da importância dos tributos a serem repassados para o município e da geração de emprego na região . Contudo , no entender da comunidade , as propostas contidas no Eia/Rima para monitorar e mitigar problemas sociais e ambientais não vão além de pequenos parágrafos que tratam de forma sucinta de objetivos , público-alvo e metas .
Várias pessoas enviaram perguntas à mesa outras se inscreveram para falar . Poucos foram os elogios e muitas as denúncias sobre problemas sociais e ambientais resultantes da mineração na região , principalmente o projeto cobre do Sossego , desde 2005. Lembrou-se a migração, atraída por esses projetos , e que para a Vale são de responsabilidade apenas da sociedade e do poder público . Muitos reclamaram da falta de estrutura básica na cidade , quanto a energia elétrica falta de comunicação por internet . Trabalhadores rurais reclamaram das condições precárias e de isolamento em que vivem as vilas da região , por falta de energia , água potável , transporte e comunicação . Questionou-se, também , e com veemência, o fato de que se não foram resolvidos problemas causados pelos projetos já iniciados e anunciados em Canaã (Sossego , 118 e Níquel do Vermelho ), a população vai ser ainda mais penalizada por falta de estrutura para atender as demandas , principalmente na área de educação , saneamento básico , saúde e lazer , com a implantação do S11D. Só o Sossego fez a população passar de 10.000 para 23.000 habitantes entre os anos de 2000 e 2007.
STR protesta
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canaã dos Carajás protocolou junto ao Ibama, na audiência , um documento ponderando sobre as mazelas da mineração no município e reivindicando que a solução dos problemas sirvam como condicionantes para que os órgãos públicos venham a expedir qualquer licenciamento .
A explosão de bombas nas minas racha as casas próximas e abalam até vila Bom Jesus. O estampido causa stress nos animais , principalmente aves e éguas , alterando-lhes a capacidade reprodutiva .
Várias vezes a poluição de igarapés e do rio Parauapebas foi denunciada, mas providências não são tomadas . Recentemente , inclusive , apareceram peixes mortos no córrego Arara , sendo que funcionários da empresa recolheram alguns para análise . Organizações não governamentais acreditam que a contaminação vem das pilhas de rejeito ou de algum dique de contenção de rejeitos da empresa . Esta situação tende a piorar no período chuvoso com maior diluição .
“Com a compra de terras para o projeto Sossego , Níquel do Vermelho , agora para o Cristalino e o S11D, a Vale já é a maior latifundiária do município ”, diz o STR. Em conseqüência , há prejuízo para as associações , e queda na produção de leite e gêneros alimentícios .
Há famílias de agricultores ameaçadas na VS-45 e no Racha Placa . Neste, são em torno de 50 que desde 2009, quando a Vale iniciou a compra de terras dos fazendeiros , estão a cada dia em pior situação , muitas passando fome e sem oportunidade para trabalhar . A Vale propõe negociação há um ano e não se chega a qualquer acordo .Enquanto isso , na zona urbana repete-se o “inchaço populacional”, pobreza , insegurança , falta de serviços para tratamento de saúde e educação precária . A estrutura do município não é capaz de atender a demanda de serviços básicos de interesse da sociedade .
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