A entidade religiosa Missionários Combonianos Brasil-Nordeste, com sede em São Luis (MA), propôs uma representação contra a Vale S.A. responsabilizando-a pela emissão de 15.549 toneladas anuais de poluentes na capital maranhense .
A Vale opera em São Luís-MA instalações portuárias, industriais e de manutenção voltadas á exportação de minério de ferro (100 MTPA*), pelotas de minério de ferro (7 MTPA), manganês , cobre , ferro gusa , soja , dentre outros produtos , além de prestar serviços de transporte ferroviário de diversos tipos de carga geral .
A quantificação dos poluentes está num relatório de 2005 da própria Vale : são 344,02 kg de material particulado (PTS) a cada hora , composto de 143,85 kg de partículas inaláveis (PM10); 913,52 kg de dióxido de enxofre (SO2); 499,66 kg de óxidos de nitrogênio (NOx); 14,69 kg de monóxido de carbono (CO); e 3,14 kg de hidrocarbonetos (HCT) – todos gerados em 210 fontes fixas.
O Estudo Ambiental do Complexo da Ponta da Madeira , elaborado pela então Companhia Vale do Rio Doce em setembro de 2007 tomando como base as emissões de 2005, quando a empresa exportava apenas 70 milhões de toneladas de minério de ferro . Atualmente a empresa exporta 100 milhões de toneladas de minério de ferro por ano .
“A emissão total de poluentes na Cidade de São Luís foi inventariada pela Vale S.A. em 2005, e tornada pública no Estudo de Impacto Ambiental da UTE Itaqui, apresentado pela empresa MPX. Assim , a própria empresa representada reconhece, em modelo matemático, que está ocorrendo a violação de padrões nacionais de emissão de partículas totais em suspensão , com conseqüências sobre milhares de pessoas que vivem nas proximidades da área operacional da empresa ou ali trabalham”, diz a representação .
O estudo não discrimina a contribuição de cada fonte de emissão , seja para os níveis medidos seja para os níveis estimados por modelagem matemática , mas face aos volumes de partículas totais em suspensão emitidas pela Vale , bem como a intensidade mais elevada dos níveis à jusante de suas instalações , é de se presumir sua responsabilidade pela maior parte dessas emissões .
“O próprio estudo da Vale , diz o texto , recomenda a adoção de uma série de medidas operacionais para a redução das emissões de PTS, sobretudo porque havia ao tempo da realização da análise a possibilidade de elevação do nível de produção da empresa para a faixa de 100 milhões de toneladas de minério de ferro anuais , o que de fato ocorreu”, inclusive antecipando a elevação da produção para a faixa de 100 milhões de toneladas de minério de ferro por ano , mas “não se tem notícias da adoção dessas medidas corretivas e nem de monitoramento ou simulação posterior à elevação dos níveis de produção ”.
O temor dos Missionários Combonianos tem fundamento . Recentemente a Vale recebeu licença ambiental da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Estado do Maranhão para ampliar a capacidade de seu porto para 200 milhões de toneladas de minério de ferro por ano , com acréscimo da emissão de poluentes ainda não devidamente contabilizado; a empresa MPX recebeu em 2009 licença para instalação de uma usina termelétrica com potencial de emissão de 13.802 toneladas anuais de poluentes ; em 2007, o Consórcio Alumar recebeu licença de instalação para ampliação de sua produção de alumina de 1,5 para 3,5 milhões de toneladas anuais , acrescentando em sua emissão anual de poluentes em mais 5.522 toneladas . Esses dois empreendimentos juntos irão acrescentar mais 19.325 toneladas de poluentes na atmosfera de São Luís,
“Pelo 60.000 pessoas trabalham na Vale ou residem nos bairros circunvizinhos , e, portanto , expostas a níveis elevados de emissão de poluentes , sobretudo partículas totais em suspensão , mas até o momento não recebem qualquer tipo de monitoramento ou assistência por parte da empresa . Em síntese pode-se afirmar que as atividades operacionais da empresa Vale S.A. contribuem com volumes expressivos de emissão de poluentes na atmosfera (contribuindo para a elevação dos níveis de poluentes no município de São Luís), auferindo lucro em face dessas operações , mas causando prejuízos ao ambiente e à população , sem que até o momento lhe seja imputada qualquer responsabilidade . O prejuízo é público e o lucro é privado ”, conclui a representação , requerendo as apurações cabíveis e, se for o caso , a aplicação de eventuais sanções .
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