Blog do Sandro Araújo, 9 maio , 2011
Imagine a situação : corre o ano de 1985. Você é um empreendedor e resolve estabelecer uma micro-empresa na cidade de Tocantinópolis, Goiás. Para obter a documentação necessária à instalação da empresa é necessária ao menos uma ida à capital do estado . Entre Tocantinópolis e Goiânia a distância a ser percorrida é de 1287km . De carro , no mínimo 16 horas pela rodovia Belém-Brasília. Não é tão simples abrir uma micro-empresa… Noutra situação , um advogado da cidade de Araguaína precisa obter um habeas corpus para um cliente que foi preso . A ida a Goiânia é obrigatória para a obtenção da liberdade do cliente . Deverá percorrer 1140km em pelo menos 13 horas e meia . Isto apenas de ida ! Outro colega , da cidade de Araguatins, cujo cliente ficou inconformado com uma decisão judicial desfavorável , precisa ir ao Tribunal de Justiça em Goiânia para acompanhar um recurso judicial . São 1381km a percorrer , boa parte pela mesma Belém-Brasília.
O Brasil é um país enorme . Mesmo com o desmembramento de Tocantins, ocorrido após a promulgação da atual Constituição Federal , em 1988, o acesso aos serviços públicos citados ainda demanda boa dose de paciência na estrada . Mas hoje o advogado de Araguatins precisa percorrer “apenas ” 617km para chegar ao Tribunal de Justiça . Seu colega de Araguaína, 375km . E o empresário de Tocantinópolis, 521km . Em todos os casos , houve a economia de pelo menos 750km .
Na esteira da aprovação pelo Congresso Nacional da realização de plebiscitos para a possível criação dos novos estados de Carajás e Tapajós, reportagem divulgada no portal g1 alerta : “Tapajós e Carajás seriam estados inviáveis , calcula economista do Ipea” . Em resumo , o estudo informa que “os estados do Tapajós e de Carajás teriam, respectivamente , um custo de manutenção de R$ 2,2 bilhões e R$ 2,9 bilhões ao ano “. Diz ainda : “Diante da arrecadação projetada para os dois estados , os custos resultariam num déficit de R$ 2,16 bilhões , somando ambos , a ser coberto pelo governo federal ” e completa : “O PIB do Pará em 2008, [...] foi de R$ 58,52 bilhões , e o estado gastou 16% disso com a manutenção da máquina pública . O estado do Tapajós gastaria cerca de 51% do seu PIB e o de Carajás , 23%. A média nacional é de 12,72%.“
O orçamento da união , em 2011, prevê gastos da ordem de R$ 1.287.501.217.949 – quase um trilhão e trezentos bilhões de reais ! Outros R$ 678.514.678.262 são previstos para a “rolagem da dívida pública ”. Tomando-se por base o estudo do IPEA, o acréscimo de 2,1 bilhões necessários à instalação corresponderiam a 0,16% do orçamento 2011!
O Ministério das Cidades possui previstos para 2011 gastos da ordem de 22 bilhões de reais . O Ministério das Comunicações , por sua vez , tem orçamento de 4,37 bilhões em 2011. As Transferências a Estados , Municípios e ao Distrito Federal , de onde sairiam boa parte dos recursos para a instalação dos novos estados , possuem previsão de 178 bilhões de reais em 2011. Bastariam 1,18% destas transferências para viabilizar a instalação de Carajás e Tapajós!
A criação dos estados é, naturalmente , um jogo de perde-e-ganha. Se a população residente nos novos estados tem muito a ganhar , é de se esperar reação contrária por parte dos residentes no que restará sendo o estado do Pará . De fato , se Carajás e Tapajós forem criados , o Pará verá seu território reduzido a apenas 17% do atual . No caso do Tocantins, Goiás perdeu “apenas ” 45% de seu território , conservando a parte mais rica , situada ao sul . Por seu turno , o “novo ” Pará ainda permaneceria com 60% da população atual e boa parte do PIB. A perda de território , porém , não parece ser bem “digerida” pelos “novos ” paraenses . O próprio governador do estado , Simão Jatene, afirmou ser favorável ao plebiscito , mas sublinhou que a população “deve ter total clareza do que vai escolher e suas reais consequências”.
O IPEA, como órgão vinculado ao Governo Federal , que ficaria com a “conta ” da instalação dos novos estados , faz o jogo do “é inviável ”, vai ser “caro ”, o contribuinte não aguenta mais … Em artigo publicado em sítio dedicado ao estado do Carajás , é possível ver um aspecto curioso sobre a Divisão Territorial no Brasil, especialmente quando da criação do estado do Paraná – hoje um dos mais pujantes do país , o qual , à época e para os burocratas de plantão , era também considerado “inviável ”.
A aprovação dos plebiscitos , pelo Congresso Nacional , é um enorme passo para a eventual criação dos novos estados . A população diretamente envolvida será ouvida e poderá, democraticamente, decidir seu futuro . A conta da instalação pode ser alta . Mas os diversos exemplos permitem prever que todos ganharemos: os paraenses , os carajaenses os tapajoenses e o resto do Brasil.
A justificativa do custo , como demonstrado, não pode e não deverá ser óbice à realização do anseio da população .
2 comentários:
Nessa ótica e considerando que a capital de Carajás ficará distante de algumas de suas cidades, chutando, 300 km, será necessário criar uma sede administrativa nessas localidades distantes para que o empresário de lá não percorra essa distância até a capital só para registrar uma firma? E os políticos, serão os mesmos ou junto com o plebiscito virá a pergunta se queremos continuar com eles ou sem eles? Eles aceitarão deixar o feudo?
Bora dividir. essa porra tá uma merda . o povo tá gostando da miséria.divide essa bosta de estado....
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