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terça-feira, 12 de julho de 2011

Denunciadas violência e impunidade. De novo

Nos últimos 15 anos, pós massacre de Eldorado, 75.826 famílias se envolveram em conflitos pelo acesso a terra no sul e sudeste do Pará. Na luta por esse direito constitucionalmente assegurado, no mesmo período, 212 trabalhadores rurais foram assassinados conforme dados da CPT de Marabá.  Atualmente, são mais de 12 mil famílias ligadas ao MST, Fetagri e Fetraf, aguardando debaixo da lona preta para serem assentadas. As ocupações têm aumentado nos últimos anos e esse aumento se deve à crescente migração de famílias pobres para a região devido a agressiva propaganda do governo e das grandes empresas sobre a geração de milhares de empregos na implantação de grandes obras públicas e de imensos projetos de mineração da Vale no sul e sudeste do Pará. Atraídas pela falsa propaganda do emprego que não está ao alcance dos mais pobres, milhares de famílias ao chegarem à região tem dois destinos: as ocupações urbanas (com média de 14 mil famílias em Marabá) e os acampamentos rurais. A ausência de políticas publica de habitação, Reforma Agrária e geração de renda, empurra essas famílias para a pobreza, a miséria e a violência. Marabá é a 2ª cidade mais violenta do país. É a região com maior número de assassinatos no campo, registros de ameaça de morte e de vítimas de trabalho escravo.”
O relato é a parte introdutória do documento entregue por CPT, Fetagri, MST, Fetrafe e CNS à Comissão Externa do Senado Federal que visitou, na manhã de segunda-feira, 11 de julho, a reserva agroextrativista Praialta/Piranheira, a 40 km de Nova Ipixuna, onde foram assassinados os agricultores José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. Integravam a comitiva de Brasília os senadores Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), que propôs a criação da Comissão; Randolfe Rodrigues (PSOL/AP) e Marinor Brito (PSOL/PA); representante da Comissão Pastoral da Terra; da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Coordenação Nacional do Terra Legal.
Segundo as entidades signatárias, “O Estado do Pará é também campeão dos crimes de grilagem e de apropriação ilegal de terras públicas. São mais de 6 mil títulos falsos registrados ilegalmente pelos cartórios, são milhões de hectares em poder dos criminosos. O CNJ determinou o cancelamento imediato de todos esses títulos, mas, a lentidão e o desinteresse da justiça paraense têm impedido que essas terras possam ser destinadas ao programa de reforma agrária”.
Caso fossem arrecadadas, acrescentam, nessas terras milhares de famílias poderiam ser assentadas, diminuindo assim os conflitos. “Entre as terras adquiridas ilegalmente, estão mais de 50 fazendas do banqueiro Daniel Dantas nesta região. “Terras confiscadas pela Justiça Federal por terem sido compradas para lavar dinheiro sujo, são imóveis multados pelo Ibama em centenas de milhões de reais por crimes ambientais, grande parte é composta de terras públicas apropriadas ilegalmente ou griladas comprovado pelo Incra e Iterpa. Um verdadeiro flagrante de desrespeito aos requisitos da posse agrária e ao cumprimento da função social da propriedade previstos na Constituição Federal. Apenas nas regiões sul e sudeste do Pará, nos últimos 30 anos, são mais de 600 assassinatos de trabalhadores rurais e suas lideranças. Mais de 70% desses crimes sequer tiveram investigação para apurar a responsabilidade das mortes. Os cerca de 30% que resultaram em um processo, marcham para a vala da impunidade. um único mandante cumprindo pena por ter mandado matar trabalhadores rurais no Estado do Pará. A impunidade é um incentivo ao crime”.
Concluída a justificativa.as entidades pedem punição para os matadores de José Cláudio e Maria do Espírito Santo, de vez que passados quase dois meses desses assassinatos nem a Polícia Federal, nem a Polícia Civil conseguiu avançar nas investigações e chegar aos executores e mandantes dos crimes. “A Polícia Federal parece pouco aparelhada para tocar as investigações e a polícia civil demonstra pouco interesse em investir no processo e desvendar os crimes”, destaca a nota.
Sugerem, por fim, um elenco de providências aos senadores, entre as quais: o combate à impunidade, com rapidez na apuração dos últimos assassinatos ocorridos no Pará; investigação das ameaças de morte e solução delas, além de investimentos na melhoria do Programa de Defensores de Direitos Humanos, da SEDH em parceria com o Governo do Estado; prisão de criminosos foragidos, com a designação, pelo Ministro da Justiça, de uma equipe de policiais federais para auxiliar a polícia do Estado do Pará a cumprir os mandados de prisão expedidos contra pistoleiros e mandantes de crimes no campo que encontram-se foragidos.
A atuação da Polícia Federal na apuração de crimes de extração ilegal de madeira, desmatamento ilegal, grilagem de terra pública e apropriação ilegal de terras públicas, especialmente na região sudeste, também integra o elenco de sugestões, assim como é pedida ao Ministro da Justiça a relação dos inquéritos instaurados pela Polícia Federal na apuração de crimes ambientais e agrários  na região, “pois essa prática criminosa é recorrente na região, é causa de muitas mortes e ameaça e a PF pouco faz para combater esses crimes”.
O documento condena a criminalização dos Movimentos Sociais e revela que nos últimos anos, a PF instaurou mais de 15 inquéritos contra trabalhadores rurais e lideranças resultando em processos criminais contra mais de 40 trabalhadores e lideranças, alguns com condenação.
O pleito inclui, ainda, segurança no PA Agroextrativista, de vez que após a morte do casal de camponeses “mais de 10 famílias ligadas aos extrativistas já saíram do assentamento em razão das ameaças e insegurança”, e acusam que a Força Nacional, que está em Marabá, “bem longe do assentamento, mantenha uma equipe dentro do assentamento para garantir a segurança das famílias”. E pedem aos senadores que cobrem do governo federal (Incra) e estadual a liberação de recursos para implementação de políticas públicas voltadas para o assentamento de mais de 12 mil famílias acampadas nas regiões sul e sudeste e infra-estrutura e crédito para mais de 60 mil famílias assentadas em 502 assentamentos oficiais nessas duas regiões.
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Em Marabá, a imprensa (escrita, falada e televisada) parece não ter dado qualquer importância à denuncia das entidades.  

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