“Nos últimos 15 anos , pós massacre de Eldorado , 75.826 famílias se envolveram em conflitos pelo acesso a terra no sul e sudeste do Pará . Na luta por esse direito constitucionalmente assegurado, no mesmo período , 212 trabalhadores rurais foram assassinados conforme dados da CPT de Marabá . Atualmente , são mais de 12 mil famílias ligadas ao MST, Fetagri e Fetraf, aguardando debaixo da lona preta para serem assentadas. As ocupações têm aumentado nos últimos anos e esse aumento se deve à crescente migração de famílias pobres para a região devido a agressiva propaganda do governo e das grandes empresas sobre a geração de milhares de empregos na implantação de grandes obras públicas e de imensos projetos de mineração da Vale no sul e sudeste do Pará . Atraídas pela falsa propaganda do emprego que não está ao alcance dos mais pobres , milhares de famílias ao chegarem à região só tem dois destinos : as ocupações urbanas (com média de 14 mil famílias só em Marabá ) e os acampamentos rurais . A ausência de políticas publica de habitação , Reforma Agrária e geração de renda , empurra essas famílias para a pobreza , a miséria e a violência . Marabá é a 2ª cidade mais violenta do país . É a região com maior número de assassinatos no campo , registros de ameaça de morte e de vítimas de trabalho escravo .”
O relato é a parte introdutória do documento entregue por CPT, Fetagri, MST, Fetrafe e CNS à Comissão Externa do Senado Federal que visitou, na manhã de segunda-feira , 11 de julho , a reserva agroextrativista Praialta/Piranheira, a 40 km de Nova Ipixuna, onde foram assassinados os agricultores José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo . Integravam a comitiva de Brasília os senadores Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), que propôs a criação da Comissão ; Randolfe Rodrigues (PSOL/AP) e Marinor Brito (PSOL/PA); representante da Comissão Pastoral da Terra ; da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Coordenação Nacional do Terra Legal .
Concluída a justificativa .as entidades pedem punição para os matadores de José Cláudio e Maria do Espírito Santo , de vez que passados quase dois meses desses assassinatos nem a Polícia Federal , nem a Polícia Civil conseguiu avançar nas investigações e chegar aos executores e mandantes dos crimes . “A Polícia Federal parece pouco aparelhada para tocar as investigações e a polícia civil demonstra pouco interesse em investir no processo e desvendar os crimes ”, destaca a nota .
Sugerem, por fim , um elenco de providências aos senadores , entre as quais : o combate à impunidade , com rapidez na apuração dos últimos assassinatos ocorridos no Pará ; investigação das ameaças de morte e solução delas, além de investimentos na melhoria do Programa de Defensores de Direitos Humanos , da SEDH em parceria com o Governo do Estado ; prisão de criminosos foragidos , com a designação, pelo Ministro da Justiça , de uma equipe de policiais federais para auxiliar a polícia do Estado do Pará a cumprir os mandados de prisão expedidos contra pistoleiros e mandantes de crimes no campo que encontram-se foragidos .
A atuação da Polícia Federal na apuração de crimes de extração ilegal de madeira , desmatamento ilegal , grilagem de terra pública e apropriação ilegal de terras públicas, especialmente na região sudeste , também integra o elenco de sugestões , assim como é pedida ao Ministro da Justiça a relação dos inquéritos instaurados pela Polícia Federal na apuração de crimes ambientais e agrários na região , “pois essa prática criminosa é recorrente na região , é causa de muitas mortes e ameaça e a PF pouco faz para combater esses crimes ”.
O documento condena a criminalização dos Movimentos Sociais e revela que nos últimos anos , a PF instaurou mais de 15 inquéritos contra trabalhadores rurais e lideranças resultando em processos criminais contra mais de 40 trabalhadores e lideranças , alguns já com condenação .
O pleito inclui, ainda, segurança no PA Agroextrativista, de vez que após a morte do casal de camponeses “mais de 10 famílias ligadas aos extrativistas já saíram do assentamento em razão das ameaças e insegurança”, e acusam que a Força Nacional, que está em Marabá, “bem longe do assentamento, mantenha uma equipe dentro do assentamento para garantir a segurança das famílias”. E pedem aos senadores que cobrem do governo federal (Incra) e estadual a liberação de recursos para implementação de políticas públicas voltadas para o assentamento de mais de 12 mil famílias acampadas nas regiões sul e sudeste e infra-estrutura e crédito para mais de 60 mil famílias assentadas em 502 assentamentos oficiais nessas duas regiões.
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Em Marabá, a imprensa (escrita, falada e televisada) parece não ter dado qualquer importância à denuncia das entidades.
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