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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Por que os brasileiros não reagem?

Juan Arias *

O fato de que em apenas seis meses de governo a presidente Dilma Rousseff tenha tido que afastar dois ministros importantes, herdados do gabinete de seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva (o da Casa Civil da Presidência, Antonio Palocci – uma espécie de primeiro-ministro – e o dos Transportes, Alfredo Nascimento), ambos caídos sob os escombros da corrupção política, tem feito sociólogos se perguntarem por que neste país, onde a impunidade dos políticos corruptos chegou a criar uma verdadeira cultura de quetodos são ladrões” e queninguém vai para a prisão”, não existe o fenômeno, hoje em moda no mundo, do movimento dos indignados.
Será que os brasileiros não sabem reagir à hipocrisia e à falta de ética de muitos dos que os governam? Não lhes importa que tantos políticos que os representam no governo, no Congresso, nos estados ou nos municípios sejam descarados salteadores do erário público? É o que se perguntam não poucos analistas e blogueiros políticos.
Nem sequer os jovens, trabalhadores ou estudantes, manifestaram até agora a mínima reação ante a corrupção daqueles que os governam.
Curiosamente, a mais irritada diante do saque às arcas do Estado parece ser a presidente Rousseff, que tem mostrado publicamente seu desgosto pelodescontroleatual em áreas do seu governo e tirou literalmente – diz-se que a purga ainda não acabou – dois ministros-chave, com o agravante de que eram herdados do seu antecessor, o popular ex-presidente Lula, que teria pedido que os mantivesse no seu governo.
A imprensa brasileira sugere que Rousseff começou – e o preço que terá que pagar será elevado – a se desfazer de uma certaherança maldita” de hábitos de corrupção que vêm do passado. E as pessoas das ruas, por que não fazem eco ressuscitando também aqui o movimento dos indignados? Por que não se mobilizam as redes sociais?
O Brasil, que, motivado pela chamada marcha das Diretas (uma campanha política levada a cabo durante os anos 1984 e 1985, na qual se reivindicava o direito de eleger o presidente do país pelo voto direto), se lançou nas ruas contra a ditadura militar para pedir eleições, símbolo da democracia, e também o fez para obrigar o ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) a deixar a Presidência da República, por causa das acusações de corrupção que pesavam sobre ele, hoje está mudo ante a corrupção.
As únicas causas capazes de levar às ruas até dois milhões de pessoas são a dos homossexuais, a dos seguidores das igrejas evangélicas na celebração a Jesus e a dos que pedem a liberalização da maconha.
Será que os jovens, especialmente, não têm motivos para exigir um Brasil não mais rico a cada dia ou, pelo menos, menos pobre, mais desenvolvido, com maior força internacional, mas também um Brasil menos corrupto em suas esferas políticas, mais justo, menos desigual, onde um vereador não ganhe até dez vezes mais que um professor e um deputado cem vezes mais, ou onde um cidadão comum depois de 30 anos de trabalho se aposente com 650 reais (300 euros) e um funcionário público com até 30 mil reais (13 mil euros).
O Brasil será em breve a sexta potência econômica do mundo, mas segue atrás na desigualdade social, na defesa dos direitos humanos, onde a mulher ainda não tem o direito de abortar, o desemprego das pessoas de cor é de até 20%, frente a 6% dos brancos, e a polícia é uma das que mais matam no mundo.
quem atribua a apatia dos jovens em ser protagonistas de uma renovação ética no país ao fato de que uma propaganda bem articulada os teria convencido de que o Brasil é hoje invejado por meio mundo, e o é em outros aspectos. E que a retirada da pobreza de 30 milhões de cidadãos lhes teria feito acreditar que tudo vai bem, sem entender que um cidadão de classe média europeia equivale ainda hoje a um brasileiro rico.
Outros atribuem o fato à tese de que os brasileiros são gente pacífica, pouco dada aos protestos, que gostam de viver felizes com o muito ou o pouco que têm e que trabalham para viver em vez de viver para trabalhar.
Tudo isso também é certo, mas não explica que num mundo globalizado – onde hoje se conhece instantaneamente tudo o que ocorre no planeta, começando pelos movimentos de protesto de milhões de jovens que pedem democracia ou a acusam de estar degenerada – os brasileiros não lutem para que o país, além de enriquecer, seja também mais justo, menos corrupto, mais igualitário e menos violento em todos os níveis.
Este Brasil, com o qual os honestos sonham deixar como herança a seus filhos e quetambém é certo – é ainda um país onde sua gente não perdeu o gosto de desfrutar o que possui, seria um lugar ainda melhor se surgisse um movimento de indignados capaz de limpá-lo das escórias de corrupção que abraçam hoje todas as esferas do poder. (O Globo, 11.07.2011)
* Juan Arias é correspondente do do jornal espanhol EL PAÍS no Brasil

3 comentários:

Adir Castro disse...

QUEM SOMOS NÓS DIANTE DO ESPELHO?

Depois do Tratado de Tordesilhas e da vinda das caravelas portuguesas, lá pelos idos de 1500, a molecagem corre solta. Tudo começou com Cabral, Pero Vaz de Caminha, os Jesuítas... De lá pra cá essa prática de corrupção só tem aumentado.

Alguns brasileiros foram castrados e outros aliciados ainda no berço.

Se eu, você e alguns não reagem usando a força bruta ou até mesmo armas para eliminar a esse mal e seus agentes, isso significa que estamos dentro do grupo de castrados. Até ficamos indignados e sonhamos em explodir tudo e a todos ou que apareça um Dom Quixote para nos livrar desses seres... Mas nós mesmos não temos coragem para reagir... Só muita vontade que não leva a lugar nenhum.

Os que estão no grupo dos aliciados (não estou nesse grupo), que são os que vivem em torno dos políticos iguais moscas na m... e por estarem pegando um pouco das sobras, cortariam na própria carne? Matariam a galinha dos ovos de ouro?

Não fazemos nada para nos libertar e aos demais... Antes de fazer alguma coisa, tem-se que perguntar se os demais querem ser libertos dessa “vida”.

Vamos nos ater a Marabá para entendermos o nosso estado de tolerância para com a corrupção. Quando digo "nosso" não quero dizer que isso seja generalizado, há exceções... Graças a Deus.

Quantas pessoas nessa cidade vivem à sombra dos mandatos desses políticos? Deve passar dos milhares. Estão nos mais diversos postos das repartições públicas e fora delas, recebem dos mais variados favores e salários... Estão comendo na mão dos políticos praticamente desde o dia em que nasceram: é hereditarismo. Alguns "cidadãos" batem no peito e dizem que ele e toda sua casa votam no Cicrano.

Apenas um sujeito que pensa que leva alguma vantagem com esses senhores donos de mandatos, induzem aos seus e a outros tantos ao erro, fazendo com que esses péssimos políticos se perpetuem no poder... E ao morrer deixem a sua prole continuando a esse domínio e roubalheira.

As pessoas que foram aliciadas vivem desses desvios de verbas que acontece em todos os âmbitos de governos nesse país. Os chefes roubam, tiram sua parte e distribuem o que sobrou entre seus lacaios, que são inúmeros. E quem for de encontro a essas práticas, corre até risco de morte.

Quem de nós que irá de encontro às investidas deles? Os que são iletrados nunca terão essa capacidade, temos visto... E os que são letrados, por conveniência ou covardia, não abrem os olhos dos cegos... Também temos visto.

Então, diante disso, vamos continuar o restante de nossas vidas igual m... no banzeiro... E nossos descendentes também, já que não haverá quem lhes abra os olhos e sozinhos jamais conseguirão.

É só o fim. E não adianta correr ou ficar ou dizer que é "homi", pois o bicho pega e come do mesmo jeito.

Estou conformado? Jamais! Mas tô indignado.

E daí?

___________
Adir Castro

Anônimo disse...

A resposta....
http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo

13/07/2011 às 5:09
Por que o brasileiro não se indigna e não vai à praça protestar contra a corrupção?

Juan Arias, correspondente do jornal espanhol El País no Brasil, escreveu no dia 7 um artigo indagando onde estão os indignados do Brasil. Por que não ocupam as praças para protestar contra a corrupção e os desmandos? Não saberiam os brasileiros reagir à hipocrisia e à falta de ética dos políticos? Será mesmo este um país cujo povo tem uma índole de tal sorte pacífica que se contentaria com tão pouco?

Povo privatizado
O “povo” não está nas ruas, meu caro Juan, porque foi privatizado pelo PT.

O MST, A UNE E OS SINDICATOS NÃO ESTÃO NAS RUAS CONTRA A CORRUPÇÃO, MEU CARO JUAN, PORQUE SÃO SÓCIOS MUITO BEM-REMUNERADOS DESSA CORRUPÇÃO. E fornecem, se necessário, a mão-de-obra para o serviço sujo em favor do governo e do PT. NÃO SE ESQUEÇA DE QUE A CÚPULA DOS ALOPRADOS PERTENCIA TODA ELA À CUT. Não se esqueça de que Delúbio Soares, o próprio, veio da… CUT!
Ao longo dos quase nove anos de poder petista, Juan, a sociedade brasileira ficou mais fraca, e o estado ficou mais forte; não foi ela que o tornou mais transparente; foi ele que a tornou mais opaca. O petismo fez das agências reguladoras meras repartições partidárias, destruindo-lhes o caráter.
Imprensa
Curiosamente, somos, sim, um dos países mais desiguais do mundo, que está se tornando especialista em formar líderes que lutam… contra a desigualdade. Entendeu a ironia?

Quem vai à rua?
Ora, Juan, quem vai, então, à rua? Os esquerdistas estão se fartando na lambança do governismo, e aqueles que não comungam de suas idéias e que lastimam a corrupção e os desmandos praticamente inexistem para a opinião pública. Quando se manifestam, são tratados como párias. Ou não é verdade que a imprensa trata com entusiasmo os milhões da parada gay, mas com evidente descaso a marcha dos evangélicos? A simples movimentação de algumas lideranças de um bairro de classe média para discutir a localização de uma estação de metro é tratada por boa parte da imprensa como um movimento contra o… “povo”.

As esquerdas dos chamados movimentos sociais estão, sim, engajadas, mas em defender o governo e seus malfeitos. Afirmam abertamente que tudo não passa de uma conspiração contra os movimentos populares. As esquerdas infiltradas na imprensa demonizam toda e qualquer reação de caráter legalista — ou que não comungue de seus valores ditos “progressistas” — como expressão não de um pensamento diferente, divergente, mas como manifestação de atraso.

Do seu colega brasileiro Reinaldo Azevedo.
Por Reinaldo Azevedo

Carlos Antonio Silveira disse...

Caro Ademir.

Realmente é inutil pensarmos que os "cara pintada" poderão ressurgir ou que haverá uma nova marcha da familia, com Deus, pela liberdade.O lider dos "cara pintada" chegou onde queria chegar e é Senador e dos que foram às ruas em 1964, para impedir que isso que está acontecendo hoje, acontecesse mais de três décadas atrás, muitos já não andam mais pelas paragens deste mundão.Sob o mento do populismo e do pretenso social inúmeras barbaridades estão acontecendo e são facilmente admitidas.Vejamos o caso dos "assentados" do Incra, em sua maioria massa de manobra política e instrumento da ganancia de seus líderes, que hoje devastam as matas em proporção bem maior do que madeireiros e fazendeiros (que são rigorosamente fiscalizados e punidos) e ainda tem a coragem de vir justificar tal crime, como fez o aproveitador Gatão, sob o manto do social.Ora, quem foi assentado pela reforma agrária, a não ser que tenha sido em projeto de manejo sustentável, tem de plantar para sobreviver e não querer ser fazendeiros, como a maioria ou derrubar a mata e vendê-la como carvão.É crime igual ao praticado por madeireiros e fazendeiros e como tal deve ser punido.Infelizmente não o é, pois aos "companheiros" tudo é permitido.Vejamos o absurdo da lei de proteção à homofobia.A se admitir tal lei, deverão ser aprovadas inúmeras outras para proteger (com o mesmo rigor) crianças, velhos, negros, indios (com mais direito à cota racial dos que os negros), prostitutas, etc...Rasga-se a Constituição que protege o livre pensar e a liberdade de culto.Hoje quem repetir as palavras que estão na Biblia poderá ser preso, coisa que nem os mais ferozes e crueis tiranos e ditadores que o mundo conheceu, tiveram a coragem de fazer.Mesmo sendo outro o seu credo, jamais pensaram em rasgar a Biblia, o que se pretende fazer agora no Brasil.Esse é o nosso País.O Tão falado País de um amanhã que nunca chega.O Páis que desce a ladeira, como fala a música de Moraes Moreira.