Se o Brasil é ainda um Estado laico e o principio de separação entre Estado e religião é operativo , qualquer análise deve passar , necessariamente, pela pergunta : no que consiste a moralidade política atual ? Diante do problema levantado por Dostoiévski, “se não há um Criador , tudo seria permitido ”, uma das mais comuns argumentações é que a ética pode prescindir da metafísica . Vale dizer , pode-se ser honesto , correto e politicamente elegante , sem apostar nos valores transcendentes .
Renunciamos a alguns traços muito humanos para sair da barbárie e aderir ao processo civilizatório. Foi necessário domesticar o instinto predador — claro que as tradições espirituais e culturais influenciaram nesta supressão — para fazer nascer um embrião solidário , as liberdades civis, o aperfeiçoamento da democracia etc. O problema é que , abandonando o feto à própria sorte , estamos retrocedendo. Veja-se a prerrogativa jurídica chamada de “imunidade parlamentar ” e “foro privilegiado”, coisa muito nossa . Além de aberração , esse sistema foi inventado para proteger quem vai cometer falta . Legitima e institucionaliza a desigualdade entre cidadãos . Há maior demonstração de “impunidade preventiva” que essa?
Somos invadidos pela perplexidade na infindável confusão entre público e privado . É corrupção generalizada, ou aumento da transparência ? Quem controla quem ? Quem controlará os controladores? Como sair deste enredo vicioso , e ao mesmo tempo não cair na armadilha moralista que costuma só enxergar a falta alheia ? Sim , mas é claro que a culpa nos cabe.
Houvesse qualquer decoro e um parlamento móvel virasse o país do avesso , em dias uma comissão extraordinária seria criada para resolver condições estruturais ainda deploráveis no Brasil: educação , saúde /desnutrição e segurança . Por isso mesmo , não bastam cursos de administração pública , PACs ou economia aquecida, e são insuficientes slogans ou juramentos solenes sobre programa partidários . É necessário que a vocação política seja reinventada à luz do talento para trabalhar pelos outros .
Se o Estado realmente funcionasse, ninguém mais se importaria com auxilio-camareira, ajuda-vestuário ou patrocínio-moradia. O valor dos jetons poderia ser ajustado por indexadores da Bolsa , e liberar-se-iam as informações privilegiadas com direito ao uso dos dotes premonitórios às consultorias milionárias. Estariam permitidas aposentadorias duplas além de pensões vitalícias contemplando as castas dos três poderes . O país é tão espetacular e rico que há o suficiente para tudo isso . Mas , por favor : trabalhem. É o mínimo que se pode rogar a vossas excelências . ( Via Jornal do Brasil, Paulo Rosenbaum)
Um comentário:
Sinceramente falando, não acredito que através do voto a gente consiga sair do lamaçal que nos encontramos, muito menos nos livrarmos desses parasitas. Acho que a "coisa" só mudaria em nosso país mediante um grande derramamento de sangue, assim quem sobreviver saberá cobrar, dos administradores de um modo geral, pelo sangue derramado dos seus.
Todos os países desenvolvidos, com exceção do Canadá, passaram por isso para chegarem onde hoje se encontram.
Infelizmente até no derramamento de sangue é difícil confiar. Senão vejamos os líderes que no passado insurgiram contra o "sistema" e hoje estão milionários: Zé Dirceu, Jenuino... E tantos outros. Hoje fica a impressão de que eles queriam somente a fatia no bolo que acreditavam merecer.
Os verdadeiros idealistas que por ventura possam ter existido, ficaram com suas carcaças para trás e em locais ignorados... Nem uma cruz ou coroa de flores, nem um sinal para lembrá-los.
Na História de nosso país não existiu nenhum movimento sincero nesse sentido, todos foram mal intencionados: Independência do Brasil; Inconfidência Mineira, movimento exclusivamente mineiro e que a época visava fazer de Minas Gerais, o estado mais rico, um país independente, deixando a própria sorte o restante dos brasileiros, hoje é um feriado nacional; Balaiadas, Timbaladas, Cambalachos..., Proclamação da República, Nova República, Governo Militar...
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