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quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Plebiscito - O MEU PARÁ (DE BELÉM) JÁ DIVIDIDO

No blog de Manuel Dutra, 07/12:

Nós, paraenses de Belém, somos domesticados desde pequenos a entender que o Pará termina em Ananindeua, um pouco além da área metropolitana. O Pará é um signo, um mantra que sobrevive das lembranças de um passado pujante e esquece o caos e as agruras do povo na corda do Círio de Nazaré. O Pará, do tacacá ao tecnobrega, não bebe na fonte dos outros Parás.


Por Jota Ninos
Pra início de conversa sou filho de uma marapaniense (da terra do carimbó) que um dia cruzou com um comerciante grego e viveu uma paixão tórrida em alguma viela próximo ao Ver-o-Peso e me fiz belenense da gema. Vivi meus primeiros 15 anos de vida no microcosmo da elite de Belém, entre as praças da República e Batista Campos, vendo o mundo do 24º andar do maior espigão amazônico à época, o Manuel Pinto da Silva.
Desde o dia em que cheguei a Santarém, em março de 1978, comecei a descobrir um Pará que eu desconhecia. E entendi que o Pará estava, irremediavelmente, dividido em meu coração.
E este pode ter sido um dos maiores méritos da campanha de rádio e Televisão sobre o plebiscito, que se encerra hoje no Estado do Pará: o Brasil, assim como eu em 1978, começou a descobrir que existe um novo Pará entre tantos Parás que aqui sempre existiram!
Nunca antes na história deste Pará, a mídia nacional e internacional voltou seu foco com tanta insistência para o “sentinela do norte”, como é decantado em seu hino o estado representado pela estrela solitária acima da frase Ordem e Progresso, no Pavilhão Nacional. Aliás, até o hino paraense foi tirado de algum baú da memória para tornar-se refrão de baladas ufanistas de quem não quer dividir o que já está, há muito dividido!
Afinal, o que tem a ver um cidadão de Faro com um de Tailândia ou de Soure? Qual a relação entre o cara que mora em Bonito, o caboclo de Curuá, ou ainda algum roceiro de Bannach? Não estou falando grego: estes são alguns dos 144 municípios desse extenso Pará, de cultura tão diversa.
Os Parás divididos por linhas imaginárias que mal representam qualquer territorialidade, foram expostos visceralmente nesta campanha. Todos, até o governador do Estado (que ficou conhecido na campanha como “SimNão Jatreme”, por sua postura vacilante, ora dizendo-se neutro, ora vociferando NÃO), têm consciência de que o Pará não será mais o mesmo a partir do dia 12/12, independente do resultado das urnas.
Mas o principal mérito da campanha, com certeza, foi fazer com que o povo paraense também descobrisse que o Pará não é só um, e de repente cada um paraense de Belém resolvesse proclamar o seu próprio Pará, embalado pela batuta do publicitário-mor do tucanato paraense, o papa-chibé Orly Bezerra. A cantora Fafá de Belém vaticinou, entre prantos e cantos em um dos programas ufanistas de Orly, que ninguém divide “o meu Pará”!
O Pará de Fafá é o mesmo de Ganso, o grande jogador santista, de Dira Paes, a atriz global de sucesso, e de Leila Pinheiro e Nilson Chaves, entre outras celebridades do mundo artístico paraense que foram declarar seu voto em clipes no estilo “We are the world”. Para quem do outro lado acredita que o Pará não é esse de Belém, destilou-se o ódio contra aqueles que um dia embalaram nossos ouvidos com a genuína música paraoara (ou parauara), com o gosto do tucupi azedo que os belenenses adoram (eu aprendi a gostar também do tucupi doce de Santarém).
Como paraense de Belém, entendo o sentimento de todos os que participaram da campanha e se empenharam em negar que existe uma divisão. Nós, paraenses de Belém, somos domesticados desde pequenos a entender que o Pará termina em Ananindeua, um pouco além da área metropolitana. O Pará é um signo, um mantra que sobrevive das lembranças de um passado pujante e esquece o caos e as agruras do povo na corda do Círio de Nazaré. O Pará, do tacacá ao tecnobrega, não bebe na fonte dos outros Parás. As demais regiões são apenas lugares exóticos onde um bom paraense de Belém vem desfrutar férias, depois de cansar do sal de Salinas ou do “algodão” de Algodoal.
É esse o Pará da chorosa Fafá que nenhum paraense de Belém quer ver dividido. Fafá que já foi de Belém do Pará (hoje é mais de Portugal), um dia até tentou tirar o codinome Belém num de seus primeiros discos, mas recuou a ser repreendida pela elite parauara. É essa Fafá que chora um Pará que ela mesma renegou um dia e que ainda não conhece tão bem… Mas não deixarei de ouvir Fafá, por conta disso. Acredito que continuaremos sendo amazônidas, convivendo numa grande área que terá que se dividir, seja agora após o plebiscito, seja em outro momento qualquer.
Helenilson Pontes: o político “banana” que merecemos!
Esta foi a única campanha da história do Brasil onde um marketeiro de renome internacional foi alvo de campanha sórdida, movida pela mídia do Pará de Belém. Duda Mendonça, de herói do marketing nacional virou bandido saqueador, e todos os seus podres foram reverberados por uma mídia raivosa comandada por Maioranas e Barbalhos.
E Duda atacou o coração do tucanato com peças que expressaram o descrédito dos paraenses, aqueles de Belém, no seu líder maior, Simão Jatene. Aliás, o Pará de Belém não tem líderes políticos, tem apenas arremedos de caudilhos, órfãos baratistas ou não. Não que isso não se repita no Pará de Carajás ou no Pará do Tapajós. Aqui e alhures também temos deficiência de políticos sérios, mas isto não quer dizer que não seja legítimo o desejo de se emancipar. Esse desejo não é apenas uma pretensão de “políticos oportunistas” como quis fazer crer a campanha orlysta.
Aliás, enquanto todos os políticos em cada região se uniram em torno da mesma causa, SIM ou NÃO, Santarém vai ter que conviver com mais um “político banana” em sua recente história. Repetindo o folclórico Odair Corrêa (o vice dos mil e um seguranças), o vice-governador, o santareno (será?) Helenilson Pontes, se acovardou e comeu abiu. E mesmo quando o “chefinho querido” saiu em campo para defender o Pará de Belém, Helenilson ficou posando de bom moço no papel que mais adora representar: de iluminado-tecnocrata-tributarista-engravatado-reunindo-com-ministros. Não só se calou covardemente, como impediu que os nordestinos que ainda acreditam nele por aqui, não dessem qualquer contribuição para a campanha do SIM! Helenilson é a Ponte que caiu, nesse plebiscito. É o político-banana da hora, que merecemos…
O desejo secular reprimido e a vazão nas novas mídias.
As diferenças culturais seculares, o desejo de desmembrar – naturalmente – aquele gigante adormecido conhecido como “Província do Grão-Pará e Maranhão”, nomenclatura imposta pelo colonizador português que nunca respeitou as diversas culturas do norte e nordeste (tapajoara, marajoara, manauara e tantas outras), permearam os sonhos daqueles que lideraram em séculos passados o surgimento de novos territórios amazônicos e nordestinos. Mas o Pará e o Amazonas continuam grandes, ainda sufocando algumas destas culturas em seus territórios. Nos últimos 60 anos, várias tentativas foram feitas através de projetos apresentados no parlamento, até que em maio deste ano, fomos quase que surpreendidos por uma votação na Câmara Federal que nos jogou no colo um pleito plebiscitário.
O paraense de Belém, de repente, foi sacudido por algo que não conhecia. E foi aproveitando este desconhecimento que a campanha orlysta privilegiou o marketing ufanista e tacanho sobre o “grande Pará” e o “Parazinho”. Siglas como FPE, PIB, IDH, IPEA, IDESP entremeadas de cores vermelhas da bandeira contra o verde do SIM, acenderam discussões apaixonadas e passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Os políticos do SIM foram execrados como “esquartejadores”, “separatistas”, “oportunistas”, “estrangeiros”, num festival de xenofobia e discriminação de políticos da elite de Belém, de olho nas eleições da capital.
A internet foi invadida por hordas de internautas numa batalha de palavras, muitas vezes permeada pela passionalidade em detrimento do raciocínio. Ou com ataques vis com incitação à violência, de uma virulência exacerbada.
Como sempre acontece em campanhas eleitorais, os programas de rádio e TV não conseguiram ir a fundo no debate das questões principais. E os debates televisivos entre os líderes das Frentes então, foram meros shows de pantomima perdidos entre minutos e segundos de réplicas e tréplicas, onde no final todo mundo venceu, de acordo com o programa do dia seguinte…
Na segunda-feira saberemos qual estratégia de marketing conseguiu alcançar seus objetivos. Este jornalista, que um dia já foi paraense de Belém, agora é e sempre será paraense do Tapajós. E seja SIM ou seja NÃO, segunda-feira estarei pronto para as novas batalhas que todos os tapajoaras enfrentarão, sem medo de ser feliz (menos o banana do Helenilson…).
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* É jornalista, nascido em Belém do Pará e renascido em Santarém do Tapajós.

2 comentários:

Mestre Chico Barão disse...

Em primeiro lugar não quero em momento algum descaracterizar o voto Sim defendido pelo Manuel , porem algumas de suas colocações eu acho que não justificam ou ajudam a captar o voto favorável

Ao colocar que não existe relação entre os paraenses de Faro, Tailândia ou Soure esta também sugerindo que o Rio Grande do Sul veja realizado seu sonho de sair da federação chamada Brasil, afinal o seu “Mate” o liga aos países fronteiriços e não a Amazônia, que o Acre seja devolvido para seu país de origem pelas afinidades!

Concordo que o Pará jamais será o mesmo após 11/12 dado as erosões que Sabinos e Liras , Salames e Zenaldos cavaram ao colocarem no patamar político um desejo de quem não vislumbra outra saída e quer ter o direito de acertar ou errar , ao embalarem esse sonho com o canto da Iara e defende-lo com os pés do Curupira, sem critérios técnicos irrebatíveis apenas focados na mídia como se o plebiscito fosse coisa para inglês ver em capítulos e ter seu final evolutivo para abismo e retorno em sufrágio!

Esta certo ao questionar o Para de Fafá , afinal ela não é do Pará, ela é de Belém , não o nosso Belém secular que tem uma característica de em certa época do ano andarmos olhando para cima e não para baixo , andarmos não tentando evitar uma topada e sim uma mangada ,o Belém onde sabemos onde as andorinhas dorme e fazemos o gracejo de levar visitantes para conhecer e usufruir ao levá-los a noite para escadinha do Ver-o-Peso e sim outro Belém, talvez sendo benéfico o do São Francisco ou mais coerente pelo sentido do We Are The World o Belém bíblico, agora o lembrem-se de nos dela e de outros não justifica manter ou não nossas fronteiras pois qual é o tempo para sentir o orgulho que eu posso ter de seus dotes artísticos eles morando bem e eu tomando todo o meu tempo ao me virar para não morar mau?

Quanto ao Pará terminar em Ananindeua isso não é correto , para uns termina realmente em Salinas e para outros termina em Fortaleza, porem isto acontece porque é o estado que tem gerencia baseada na mendicância federativa e não pela aplicação de recursos , realmente existe um foco superior na Capital , contudo esse foco também não se mostra provedor de vida saudável e não seria mesmo se fosse gasto todo orçamento do estado, a comparação nos mostra que para os estrangeiros o Tapajós e turismo obrigatório por suas belezas exóticas e que para os paraenses Fortaleza é realmente o Sol, o adocica, o Tecnobrega , porem com isso formatar opinião sobre fronteiras acho que não é razoável fazer tal colocação!

Segue a continuação em outra postagem pelo agradável “Seu HTML não pode ser aceito: Deve ter no máximo 4.096 caracteres”

Mestre Chico Barão disse...

Continuação

Duda Herói de Marketing virar bandido ser argumento para manter ou separar! Afinal marqueteiro é como advogado trabalha ao sabor do que interessa ao cliente, com uma pequena diferença o marqueteiro SEMPRE arruma inimigos para seus clientes e BANDIDO ele É , ou uma pessoa que cria animais para se matarem e se deleita com isso pode ser chamada ao menos de normal? Não que o auto denominado Papa Chibé seja diferente, afinal também é marqueteiro!

Muito do texto pode ser resumido colocando que não existe diferença entre os políticos paraenses ainda mais os envolvidos diretamente , existe apenas o desejo de ter e o de manter e o povo ooooooooo!

Primeiro passo para o Tapajós existir é mudar a fruta, não de banana para abacaxi , talvez uma castanha cuja casca é grossa, da trabalho e o âmago faz valer o esforço , resumindo caso prevaleça tal pesquisa use o povo como os mantedores querem, unidos para eleger um representante Maximo no ano de 2014 , porem um das regiões do Sim comprometido com os critérios da honestidade e igualdade, só existe um porem , será necessário primeiro achar tal pessoa, segundo convencer aos outros que o que esta em questão não é um partido político e sim um estado que não foi partido e terceiro , talvez o mais difícil mostrar para os eleitores que não é a fama ou o argumento do candidato o mais importante e sim sua capacidade de ser um Salomão!

Manoel , eu ganhei no boliche de buracos no fliperama que ficava no térreo do Manoel Pinto , tive que ir para porrada com o Pirata e Roberto Carlos para poder sair de lá com as fichas que ganhei de premio as quais troquei por dinheiro vivo que depois usei no Papa Jimmy!

Saudações e Lembranças

MCB na época “Machadinho”