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sábado, 31 de março de 2007

Corações santarenos

Lúcio Flávio Pinto é uma amizade que vem desde 1971 quando, por influência dele acabei virando jornalista - eu era operador (uma espécie de telegrafista) da The Western Telegraph Co. , em Belém, e um dia lhe mandei um texto para a coluna que ele tinha n'A Província do Pará. Sua resposta foi um texto chamado "José Baudelaire" (que guardo até hoje) em que aborda meu escrito e me convida a aparecer na redação. Eu fui e me ferrei. Se não tivesse ido e virado jornalista, como virei, teria me casado com uma abaetetubense cheia do dinheiro e estaria igualmente podre de rico (ou morto de tanto beber cachaça com camarão seco). Então fui e me ferrei. Como? Bem, digam aí o nome de um jornalista que esteja bem de vida sem ter vendido a alma ao diabo e ao dono do jornal (dono de jornal é jornalista? Rá!) Mas os ganhos pessoais foram incalculáveis. Através do Lúcio, conheci os demais da família - Luís, Raimundo, Elias, mãe Iracy (que me deu um guia e rumo à minha mediunidade), e os outros filhos e filhas e amigos e amigas. A amizade do Lúcio e seus familiares dignifica qualquer um. Mesmo este menor dos seus amigos. Se ainda não deu para o leitor perceber, explico que esse intróito todo é talvez para justificar o texto generoso com que Lúcio Flávio Pinto referiu-se a este blog no seu Jornal Pessoal n. 388, 2a. quinzena de março: A voz de Marabá Nasci em Santarém, com muito orgulho. Mas meu segundo lar, adotivo, é Marabá. Talvez tenha estado mais vezes lá, nestes últimos anos, do que na terra natal, por motivos outros, que independem da minha vontade (se ela pudesse prevalecer, estaria no Tapajós constantemente). Afeiçoei-me aos marabaenses, que sempre me trataram muito bem. E sou um apaixonado por seus temas, que contêm a essência do drama amazônico. Em 1971 eu escrevia uma coluna diária (Quark) em A Província do Pará, quando fui surpreendido por um texto de primeira: “Marabá: terra mesopotâmica do sol”. Publiquei a crônica, de acento poético, e fui atrás do autor, que se escondia atrás de um cargo burocrático na empresa de telefonia e telegrafia Western (de cuja importância, naqueles tempos, as pessoas mais jovens não podem ter idéia). O autor daquele texto encantador era Ademir Braz, “o pagão”, um outsider que navegaria entre Lima Barreto e Rimbaud se não tivesse voltado ao seu sítio, no “Cabelo Seco”, que o Tocantins encharca nas suas enchentes semestrais, em algumas delas exagerando na dose. Voltou, de certa forma se amansou um pouco, mas continuou um observador agudo da cena local e um inspirado escritor, mais inspirado do que produtivo. Dele já podiam ter nascido páginas mais numerosas e profundas sobre a saga dessa região, se ele não se tivesse sedimentado a tal ponto que a mobilidade dos dedos não dá conta da volúpia da inspiração. Ainda mais porque, com família, precisa dar conta dos encargos, que, antes, quando era gauche na vida, mandava para os quintos dos infernos (que são os outros, conforme sartrianamente aprendemos). Agora vejo que Ademir criou seu blog, sugestiva e poeticamente batizado por Quaradouro. Uma página digital bem nascida promete bons frutos. Da primeira safra colho uma nota, pequena e profunda, que diz muito sobre o desperdício e a dilapidação dos talentos da terra. Observa Ademir: “Ex-prefeito, ex-deputado estadual e federal e ex-secretário de Estado, o engenheiro sanitarista Haroldo Bezerra tem seu nome ajuntado ao do ex-prefeito Nagib Mutran Neto e da ex-vereadora e ex-deputada estadual Elza Miranda numa suposta disputa à Câmara Municipal. Em algum lugar desta biboca tem alguém lidando com vudu”. Grande Marabá. Triste Marabala. Como profetizou Caetano, o Haiti é ali – e aqui. Saravá, grande Ademir.

5 comentários:

Anônimo disse...

Você poderia divulgar esse texto?
Fiquei curiosa. Conhecendo o Lúcio...o material deve ser de primeira.
Bjs,
Cris Moreno

Ademir Braz disse...

Que texto, Cris? Se for a crônica "José Baudelaire", me dá algum tempo para procurar na montanha de arquivos.
Mas publicarei.

Anônimo disse...

Vou esperar.
Bjs,
Cris Moreno

Val-André Mutran  disse...

Amigos são coisas para se guardar no lado direito do peito.
E eis que a blogosfera revela causos e amizades que a todos enchem de alegria.
Muito bem Lúcio, o "Pagão" merece.

Anônimo disse...

Pois é, val-andré mutran. Olhe por onde estou. Agora faço "Travessia"(Bia) para esses blogs maravilhosos. Estou adorando.
Bjs,
Cris Moreno