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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Espelho

Ademir Braz Acordo repentino e sobressalto: com olhos amarelos clandestinos espreita uma agonia em meu sapato. Acordo e vem à tona o desatino dos dias remotos de amores infelizes; do rosário das marias, das dores, das raízes deste naufrágio no sujo mar de sargaços a que me levaram a fome e a sede de abraços para o amor oculto entre a alma e as heras do doido rio de mim, e do deserto em que feras repousam à luz das flores no meu peito. Falhei por inteiro nesse intento: dos altares, onde deitei minhas oferendas (aquilo que julgava as minhas prendas), levou-as para longe o vasto vento. Perdi. No amor eu sempre perco. E volta a vida a vegetar no seu esterco. Mas, se este é meu fado, que jeito senão ir adiante sem temores? Que mal ou bem ainda me espera além da porta em que o espelho vela suas desilusões, seus desamores? (fev, 08)

6 comentários:

morenocris disse...

Oi, AB.

"No amor eu sempre perco" é muito forte.

Nunca mais diga isso... rsrs

Veja, vc acorda e tem história de amor para relembrar. Não importa como foi. O que importa é que viveu.

Coloquei no blog um vídeo do Drummond. Em uma de suas falas ele diz que o amor é uma depuração. Quem não amou na infância, adolescência...não merece amar na fase de amadurecimento...será que entendi errado? O que vc acha disso? Não é uma sentença? Maldição? Então, graças a falta da outra banda do seu sapato, que temos essas poesias maravilhosas. Ai. Também não deixa de ser uma sentença, não é verdade? Mas vocês poetas adoram isso....rsrs

Saudades.
Obrigada.

Ademir Braz disse...

Sentença de morte, às vezes rsrsrsrsrs. Quer dizer, então, quje você gostou? Que mórbido prazer esse com a agonia dos poetas!....rsrsrsrsrs

Anônimo disse...

iiiiih, compañero, isso é puro lirismo, isso não existe mais em poesia, vi poetas ressucitados e versos reverberam em minha memória
versos declamados na escola, à frente da turma
"simpatia é um sentimento que nasce num só momento
sincero no coração são dois a olhares acesos
numa mágica atração"(casimiro)
onde a música dos versos era o verdadeiro elo poético
lembrei de ler Fagundes Varela
e achar tudo aquilo estranho
palvras quebrando-se ao se encontrarem e outras se unindo em rimas soantes
é lírica, pura lírica,
a poesia que nunca morre
"ressuscita-me nem que seja só porque te esperava, como um poeta
repelindo o absurdo cotidiano!
Ressuscita-me, nem que seja só por isso!
Ressuscita-me quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo de casamentos, concupiscência, salários,
para que , maldizendo os leitos, saltando dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro..." (Maiacovski, também Wladimir.)
ou:
"emerge a tua lembrança da noite em que estou. O rio junta ao mar seu lamento obstinado. Abandonado como o cais de madrugada. É hora de partir, oh abandonado! Sobre o meu coração chovem frias corolas. Oh porão de escombros, feroz caverna de náufragos! Em ti se acumularam as guerras e os vôos. De ti alçaram as asas os pássaros do canto"(Neruda, aos 20 anos, Na canção desesperada)
e eu seguiria o resto da noite a trazer citações...
poesia hoje? Morrer de amor? sílbas poéticas, métrica, rima e nunca dor, como diz Caetano?
evoé, ò vate!
júlio césar

Ademir Braz disse...

Bem vindo, Julinho Leminski! Por onde você anda, já retornou às atividades?

Anônimo disse...

sim, mas preferiria ser poeta...
o nome, por sinal, caiu-me bem: Leminski.
Vou adotar este nome, será:
"leminski-bashô-age-max-drumonnd- bandeira-neruda-PAZ-J.G.-E.E.-de Campos-pound-jorgedasilva-tribuzi-pagão-fontela-pessoa-rimbaud-cabral et caterva"
j. Leminski

ÁRVORES DO SIMAO disse...

Caríssimo Ademir, confesso que entrei no teu sítio por acaso, diria afinidade. Aliás, também por outra particularidade, pois, também sou paraense-paulistano com muitos parentes e amigos em Belém, Santarém e Manaus-AM. Nem por isso, gostei muito da tua poesia - "Espelho" -, entre outros textos, que me chamou a atenção o lirísmo saudoso, nostálgico do homem servil da amazônia. Parabéns!

abraço, simao