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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Confio muito em Deus, mas...

“O Escolhido de Deus e a Segurança do Povo”, a mais recente crônica do procurador jurídico da Câmara Municipal de Marabá, Dr. Valdinar Monteiro de Souza, publicada em seu blog, me deixou assustado de tal forma que penso tirar passaporte e emigrar para qualquer lugar, inclusive Itupiranga, para fugir à vingança divina.
Dr. Valdinar Monteiro sabe o que diz. Ele é, como se define, “evangélico protestante, membro da Igreja Presbiteriana do Brasil, denominação que adota a Bíblia Sagrada como única regra de e prática, embora subscreva e adote como sistema expositivo das doutrinas bíblicas os chamados Símbolos de ou Padrões Doutrinários elaborados pela Assembléia de Westminster, concílio que funcionou em Londres, na Abadia de Westminster (daí o seu nome), de julho de 1643 a fevereiro de 1649”.
Não é pouca coisa. Ele detém o discurso autorizado sobre os negócios divinos e sua integridade moral afasta qualquer contraditório. Assim, do alto de sua inquestionável autoridade religiosa, ele produziu uma crônica extensa para concluir que: “do ponto de vista bíblico, tanto Maurino Magalhães quanto Sebastião Miranda e os demais prefeitos que vieram antes e virão depois deles foram e serão escolhidos de Deus e postos por ele com o dever claro, preciso, determinado, de cuidar do bem comum”.
Eu vou embora!
Mas antes peço vênia ao ilustre cronista e dignos leitores para expressar minha mais profunda ignorância nas coisas de Deus e das autoridades e também a minha perplexidade. 
Gente, quando eu era criança, pela metade do século passado, num tempo tão longe que quase ninguém lembra mais, esta cidade me parecia abençoada. Tinha, em regra, bons prefeitos, vereadores razoáveis, e menos escândalos. Então, noctívagos zanzavam em paz nas ruas sem luz elétrica e na companhia de visagensporca de bobs, matinta-perera -, e até tomavam um cafezinho matinal na casa da bruxa velha que todos conheciam e que virava mula-sem-cabeça nas noites enluaradas.
Dizem que talvez fosse por falta de leis, não havendo pecado do lado de baixo do Equador, mas quem sabe naquela época Deus fosse mais condescendente.
Quando fui embora, atrás dos ensinos que não tínhamos, passei pelo menos a metade dos meus anos em terras alheias. Sim, quando vinha a passeio notava nas ruas coisas estranhas como o volume crescente de almas penadas, zumbis, sugadores de alma e sangue de toda estirpe, mas como a estada era pequena, não me preocupava. Eram coisas de uma cidade que crescia e recebia (aliás, ainda recebe) até extraterrestres que se estabelecem em grupos não específicos nos bairros novos.  
Agora, quando Dr. Valdinar me esclarece que prefeitos e seus vereadores (“porque não existe nenhuma autoridade sem a permissão de Deus, e as que existem foram colocadas por ele”) estão todos no poder em Marabá por obra divina...
Será que Deus mudou? Será que não se praticou aqui injúrias piores que as de Sodoma e Gomorra, de sorte que a ira divina está começando e pode acabar num facho de fusão nuclear que transformará os teimosos em estátua de sal?
pode ser!
Dividi meus pavores com um amigo e ele pirou: está alipouco abaixo da enseada onde a Vale ergue mais um poderoso emissor de toneladas anuais de poluentes particulados e gasosos, a construir febrilmente não sei se  uma nova arca ou espaçonave para também sumir antes do holocausto anunciado. Sugeri a ele que leve pelo menos alguma muda de  castanheiraum filhote de boiúna e um pé-de-garrafa, se ainda não foram extintos, e um raminho de ancestral decênciatão comum naqueles temposAssim talvez sobreviva, nalgum lugar ou planeta, a cultura que nos fazia felizes... 

Então, tchau!



9 comentários:

Anônimo disse...

Vou dar uma opinião sob a ótica de migrante.

Antes de tudo quero informar que resido aqui há exatos 30 anos. Embora tenha nascido noutro estado, fui praticamente criado aqui, pois para cá vim com 13 anos de idade.

É uma situação complicada para Marabá. Eu, na minhas conjecturas, penso que isso deve-se ao fato da cidade ter em sua maioria uma população migrante. Inclusive os filhos da terra são filhos, netos e bisnetos de migrantes. Acredito que o migrante quando chega aqui e encontra certos dizeres do tipo "filhos de Marabá", ele sente-se como sendo um penetra em uma festa que não foi convidado. Ele vem com sonhos, e quando chega percebe que os sonhos são difíceis de realizar: ter uma casa própria, trabalhar num imóvel comercial próprio. O migrante, que vem pra trabalhar e prosperar, não encontra apoio na terra. Ele não consegue criar vínculos, raízes nessa terra. Então ele vira os ombros para os problemas que assolam a terra. Idem para os "filhos da terra", que também não morrem nem um pouco de paixão por sua mãe. Se a amassem, não a sacaniariam. Vejam que quando têm oportunidade, eles botam pra quebrar a mãe. No fim, penso que todos pensam em juntar o máximo que puderem, pra num eventual naufrágio da barca, eles saltarem fora bem rapidamente com suas arcas cheias de dinheiro.

Na verdade, 99% das pessoas nessa cidade, parece aguardar sua vez na fila da dilapidação do erário.

Os políticos todos comprometidos. São eleitos e reeleitos com financiamentos e compra de votos. Alguns perpetuaram-se no poder de forma que só sairão de lá, mortos e de morte natural. Esperam viver eternamente. E se deixarem o osso por algum outro motivo que não seja de morte, deixarão a seus descendentes, os quais estão sendo preparados em boas escolas, fora da cidade que eles tantam alerdeiam amar, da qual estufam o peito para se denomirem seus especiais filhos. A educação que eles apregoam ser boa, não educa a seus filhos. A saúde que dizem estar melhor que antes (nunca foi boa), não trata da saúde de seus filhos. Já quando seus "filhinhos", futuros herdeiros da aldeia, têm um leve resfriado, correm para Belém ou outro estado da federação em busca de médicos. É assim que eles amam à sua terra. A educação, saúde e segurança pública, deixam para a escória, que são o restante da população que não tem negócios com eles. Foi assim, é assim, e parece que nunca terá fim.

De fato toda autoridade humana provém de Deus. Aliás, tudo provém dEle. Mas isso não significa dizer que Ele esteja de acordo com o que as autoridades terrenas fazem. Ele também não vai mandar um raio na cabeça dessas autoridades e parti-las ao meio. Cabe à população fazer as mudanças.

O problema é a população "faminta" entender ou ao menos querer ouvir sobre a necessidade da mudança. Em período de eleição qualquer litro de gasolina, consulta, exame, saco de cimento, areia, seixo, tijolo, telha, promessa de emprego no serviço público, etc, vale um voto. São milhares de desesperados.

Deus não compactua com esses governos terrenos e nem irá depô-los. Como disse, cabe a nós a deposição desses indigestos.

Anônimo disse...

Nos estamos ferrados com estes escolhidos, eu não acredito, pois, Deus é pai não é padastro.
Pagão falando nos escolhidos, o vereados Badeco emprestou o carro da câmara para o seu irmão fazer suas farrinhas.
Em umas dessas noitadas o irmão do vereador bateu no carro de uma servidora publica, que estava parado na porta de sua casa.
O rapaz visivelmente embriagado fugiu do local, só que tem varias testemunhas.
A proprietária, procurou o vereador e este se sentiu ofendido com a reclamação da senhora e mandou que ela procurasse os seu direitos.
Ela procurou a vereadora Júlia Rosa e contou todo o caso e a mesma nada fez como presidente da câmara municipal.
Da mesma maneira que estão querendo safar a Ismaelka o legislativo é omisso na defesa do povo mais uma vez.

Anônimo disse...

Caro Demirrr, esse negócio de o Malino e seus paus mandados atribuirem até as cagadas que eles fázem à Deus vai dar em merda, e digo mais: Toda vez que o Malino vai falar em público, infringe o primeiro mandamento da lei de Deus que é ''Não tomar seu santo nome em vão''. Pai do céu não adimite seu nome em putaria. Quando esses caras morrerem, o inferno vai ser pequeno pra eles. Mudando de pau pra cacete, cê viu o show que a crentaiada deu na inauguração do novo circo de Marabá (a nova CMM)? Esse povin fei tá tão epolgado que perdeu a noção do ridículo, fala sério? Falou Demir, um braço, e o desejo de um feliz natal procê, do seu fã Cebinho.

Ademir Braz disse...

Há tempo, Cebinho, no Brasil se vem substituindo a fé pela pirotecnia. Você acredita mesmo que Valdomiro, R, R. Santos, Macedão e sua turma, Malafeita e sua turma, entre tantos tão chegados a um dízimo,sejam emissários de quem dizem que são?
Não, não fui à Câmara. Fazer o quê, se conheço quem lá está e suas artimanhas?
Preferi ouvir as análises da rua, todas bonitas em relação à obra, mas inteiramente deselegantes para com vossos edis.
Mas nem tudo está perdido quanto à fé. Ainda há religiosos decentes, como Dr. Valdinar.
E que 2011 nos seja mais leve e para sua família.

Anônimo disse...

Anônimo do dia 24, das 02:11.

Não pude deixar de perceber seu comentário, diria jocoso, a respeito dessa cerimônia religiosa.

Tempos atrás, quando das inaugurações de prédios públicos, somente o padre era convidado para proferir algumas palavras. Nós vivemos num país predominante cristão, é normal essas manifestações acontecerem. Se aqui fosse igual a Ásia, onde o Budismo é a religião da maioria, com certeza seria feito uma manifestação budista. Nós vivemos numa democracia, claro que nem tudo é democrático. E sendo uma democracia, num país cristão - católicos e protestantes - é aceitável que agora, com o crescimento do protestantismo, eles também compareçam a esses eventos.

Da mesma forma seria se metade fosse cristã e a outra metade budista.

Além disso estamos num país laico, onde a religiosidade é livre. Claro que guardada as devidas proporções.

É até um direito seu ter uma crença ou não. E é obrigação dos demais respeitá-lo pela opção.

Se não estiver enganado, me corrija, a maioria dos países usa o nome de Deus em suas constituições. Por que o Brasil seria diferente, tendo uma população predominantemente cristã?

Não transfira o ódio que você tem do prefeito, aos demais cidadãos dessa cidade.

Que a paz reine em seu coração, e que nas próximas eleições você contribua efetivamente e sem interesses pessoais para mudar esse quadro negro na adminstração pública nesse país e mais especificamente na nossa cidade, que vem de longas datas.

Dr. Valdinar Monteiro de Souza disse...

Interessante! Gostei desse comentário e concordo plenamente com ele. Tenho dúvidas, contudo, se o ilustre comentarista leu a minha crônica e, caso a tenha lido, se entendeu realmente o que o eu escrevi. Tenho dúvida, semelhantemente, se o autor da crônica "Confio muito em Deus, mas..." entendeu realmente o também o que escrevi.

Mas, tudo bem. Vou tentar ser mais claro ainda aqui. Primeiro, eu não afirmei de mim mesmo que não existe autoridade sem a permissão de Deus e que as que existem foram colocadas por ele, eu apenas fiz transcrição direta de duas versões modernas da Bíblia, versões estas que devem ser consultadas para se comprovar que não inventei nada do que escrevi. Segundo, deixei bem claro que Deus não aprova desmandos de autoridade alguma. Ao contrário disso, tanto a Bíblia quanto as ciências humanas deixam bem claro que essa coisa chamada “Estado” ou “governo” ou “autoridades” existe para cuidar do bem comum. Logo, se a autoridade não está cuidando do bem comum, deve ser punida, até com a destituição, se for o caso, observados a lei e o devido processo legal. Terceiro, deixei claro, da mesma sorte, que não há – nem segundo a Bíblia nem segundo as ciências humanas – lugar para a obediência cega às autoridades. Não basta a pessoa saber que é cidadã deste ou daquele Estado, é necessário ter convicção (eu disse “convicção”) dos seus direitos e deveres perante esse Estado, exatamente para não obedecer cegamente a quem quer que seja nem exigir que os outros o façam. Quando o indivíduo tem convicção dos seus direitos e deveres, ele não aceita que sejam estes transgredidos, desrespeitados ou postergados.

Em conclusão, o que escrevi é que não adianta Maurino ou quem quer que seja pensar que este ou aquele governo é escolhido por Deus e os outros não o são, e que, por isso, este ou aquele "escolhido" pode fazer o que bem entender. A Bíblia diz (e não eu), como o disseram Jean-Jacques Rousseau, Thomas Hobbes e muitos outros teóricos, que o Estado ou governo ou autoridades (ou como se queira chamar) tem como finalidade e única razão de sua existência o bem comum, o cuidado da comunidade. Por conseguinte, tanto eu quanto o comentarista, quanto todos os outros indivíduos temos o direito (e ao mesmo tempo a obrigação) de fazermos nossa parte e exigirmos que o Estado ou governo ou autoridades ou coisa que o valha cumpra a sua função, na forma da Constituição e das leis, o que vale para Marabá, Itupiranga e para qualquer lugar.

Dr. Valdinar Monteiro de Souza disse...

Quero esclarecer, PARA EVITAR QUALQUER MAL-ENTENDIDO - que o meu comentário acima foi escrito primeiramente com a intenção de postá-lo como comentário ao comentário do ANÔNIMO DE 23 DE DEZEMBRO DE 2010 13:51, ou seja, o primeiro a comentar esta postagem.

No mais, concordo plenamente com o sábio e democrático comentário do ANÔNIMO DE 24 DE DEZEMBRO DE 2010 12:23. Repudio, veementemente, como maçom que sou, a INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E O PRECONCEITO, venham de onde ou de quem vierem. Recomendo a todos que leiam a minha crônica “O escolhido de Deus e a segurança do povo” a que se refere a postagem do Ademir Braz, que, por sinal, é meu amigo e irmão de Maçonaria. A crônica está publicada nos meus três blogues, cujos endereços estes: http://valdinar.zip.net/, http://valdinar.blogspot.com/ e http://www.uniblog.com.br/vms/ .

Anônimo disse...

Caro Demirrr e comentaristas desse blog, não tenho nada de pessoal contra essa ou aquela religião, só não gosto é do exagero e da demagogia enjoativa notória em alguns membros que, quando pegam um microfone em público, abusam da tolerância divina e de quem os escuta, e sobre os quais é sabido que, de dia andam com a Bíblia debaixo do braço e a noite dormem com o pijama do cão, suas palavras são umas, suas práticas são outras totalmente as aversas, suas companhias agridem a moral. Mas isso não é generalidade é claro. Um abraço, Cebinho.

Anônimo disse...

Com relação ao comentário do Migrante, foi muito oportuno. Eu e minha família chegamos à Marabá a dez anos, e eu me apaixonei por esse lugar, a ponto de já não me sentir em casa quando vou a minha terra natal, porém desde que cheguei aqui, algo me magoa, me incomoda deveras, e as vezes até me enoja. Quando somos achincalhados e destratados pelos ditos ¨FILHOS DE MARABÁ¨, porém, esses coliformes em sua maioria, são os primeiros a roubarem a terra quando tem oportunidade. Quanto a mim e maioria dos migrantes contribuimos sobremaneira com o engrandecimento dessa terra, sem que nada possa macular nossa história, aqui ou em qualquer lugar, e digo mais somos guerreiros e vivemos bem em qualquer lugar, ao contrário dessa escórea, que no dia que saem de Marabá, pra não morrerem de fome ou desambientados, retornam e voltam a sugar sangue, inclusive dos irmãos de terra. Vale lembrar à estes, que a mesma carta mágna que norteia o Brasil, inclusive Marabá, nos lega o direito de ir e vir com amplos direitos e deveres constitucionais. Um Abraço, Cebinho.