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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Emancipação incomoda

O jornalista Paulo Francis (1930-1997) um dos maiores intelectuais brasileiros a integrar a plêiade que fazia o semanário carioca O Pasquim, nos anos 70, dizia que o hoje senador Suplicy (PT-SP) era tão lerdo de raciocínio e ação que parecia permanentemente chapado de Mogadon, um tranquilizante capaz de derrubar um boi. Tantos anos depois, de Eduardo Mogadon Suplicy pode-se dizer que continua o mesmo: fiel a suas intervenções desastradas.
Desta vez, Suplicy sai de seus cuidados para afrontar a constituição: acha que o Brasil inteiro deve ser ouvido no plebiscito sobre a criação dos estados de Carajás e Tapajós, no território do Pará.
Sua manifestação foi contraditada pelos senadores Flexa Ribeiro (PSDB-PA) e Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que observou: “O pano de fundo dessa questão é que teremos mais seis senadores aqui da Região Norte e mais talvez dezesseis deputados da Região Norte. Mas eu pergunto: por que São Paulo, que já tem todo esse poderio econômico, tem medo que possamos ter mais um poder político? Eu acho que o debate tem que ser feito em outros termos, aliás, nunca se criou Estado no Brasil com plebiscito.
Porque, na essência, como admitiu o próprio Suplicy, a questão é que, na Câmara, onde cada estado tem, no mínimo, oito parlamentares, a Amazônia passaria a contar com, no mínimo, 24 deputados federais - pelo menos sete a mais do que têm hoje – uma ameaça concreta à hegemonia do rico e poderoso Estado de São Paulo.
Sobre este tema, um anônimo postou no meu blog Quaradouro o que me parece a mais perfeita abordagem da “polêmica” criação de novos Estados com a divisão do Pará. Veja:
“No dia 11 de dezembro o Brasil verá, pela primeira vez, o povo se manifestando num plebiscito sobre a reorganização territorial e criação de novos Estados. Todos os demais Estados criados após a Independência foram resultado de decisões autoritárias.
O Tocantins seria a exceção, mas neste caso quem se manifestou foi o Congresso constituinte e não o povo.
Mato Grosso foi dividido por uma canetada do general-presidente Figueiredo. Amapá, Acre, Rondônia e Roraima foram decisões do ditador Getúlio Vargas que os fez Territórios Federais depois transformados em Estados pelos constituintes de 1988. Muito antes, dom Pedro II criou Paraná e Amazonas.
A própria capital federal, Brasília, cujo território foi retirado de Goiás, foi decisão solitária de Juscelino Kubistchek, projeto que enterrou o país na onda inflacionária que até hoje nos atemoriza.
O plebiscito pelo Tapajós e Carajás é, portanto, uma experiência sócio-política inédita e por isso o Brasil deveria prestar mais atenção, ao invés de as elites nacionais, especialmente a "grande" imprensa, ficarem desdenhando e externando o seu conhecido preconceito a respeito de tudo que se faz e tenta fazer na Amazônia.
Seu preconceito só não se manifesta em relação ao saque dos recursos naturais daqui para lá.
Os que se opõem usam os mesmos surrados argumentos do passado, de que uma nova unidade autônoma sairia muito caro.
Caro ao país é o projetado "trem-bala" Rio-S.Paulo, bilhões que poderiam ser empregados na construção de rodovias e ferrovias decentes por todo o país. Caro aos milhões de amazônidas são os mega-projetos de gigantescas hidrelétricas e de mineração que carregam as riquezas da região para fora, muito pouco ou nada deixando aos brasileiros da Amazônia, tão brasileiros quanto os demais.
Cara, caríssima ao Brasil, é a percepção de governos tanto ditatoriais como democráticos que continuam a encarar a região como colônia do Brasil e do grande capital, nacional e estrangeiro.”

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Ademir,
Ótima análise a respeito dos investimentos no Sul maravilha e desinvestimentos aqui no norte.
uma pequena correção na digitação das datas: o genial/genioso Francis abandonou o ringue em 1997.
grande abraço.
Marcio Mazzini

Anônimo disse...

brilhante a sua percepção da causa, poeta.

Abraços

Anônimo disse...

O ESTADO DO TAPAJÓS JÁ EXISTE, BASTA SER EMANCIPADO.
Conversa de Bar:
Paulo Paixâo.
Tanto faz os pro ou os contra a emancipação do “Estado do Tapajós”, todos tem suas desculpas, suas razões ou suas justificativas. Os políticos muito espertos e um tanto maquiavélicos para não dizer absolutamente maquiavélicos, pintam um quadro apocalíptico, dantesco mesmo e conseguem iludir os mais frágeis e fáceis de se convencerem…
No entanto, veio mais um fim de semana e uma vasta e festiva galera encontrou-se num desses bares periféricos da cidade para curtir um som da saudade, jogar conversa fora e bilharito, turbinada por cerveja “véu de noiva” e tira-gosto de bisteca assada, quando um belenense do Jurunas entrou portando um papelão retangular com dizeres em negro: “NÃO À DIVISÃO DO PARÁ!”. Naquela ocasião o papo que rolara fora tão-somente música, campeonato paraense, mulheres, aliás, o de sempre, não muito acalorado, mas, a entrada daquele senhor com ar zombeteiro fez a galera silenciar… Ninguém queria, àquela altura, entrar num papo tão importante para a história do Estado do Tapajós, eis que havia muitos amigos de Belém, do baixo-amazonas e do Carajás. Então, ficou por conta de um papudinho estudioso se pronunciar:
- Ei jogador, esse tema não é pra mesa de bar! – continuou o papudinho:
- Deixa esse papo pra 11 de dezembro. Até lá muitas águas vão rolar!
Bom daí em diante a coisa começou a pegar fogo, manifestaram-se os que eram a favor e os contra. Justificativas não faltaram. Parecia que todos estavam com a razão…
Então o papudinho subiu numa cadeira e em voz alta pediu silêncio à galera e clamou:
- Primeiro quero lhe perguntar: (apontou diretamente para o senhor com a tabuleta)
- A pretendida divisão tem ampara Constitucional? Diga, apenas sim ou não para resumir! -Tem, Art. 18 § 3º da CF. Respondeu o senhor.
- O Projeto cumpriu todos os seus trânsitos e parâmetros legais? (Disse o papudinho, após tomar um gole da sua cachaça).
- Sim cumpriu. Só falta a população paraense votar pelo SIM ou pelo Não.
- Neste caso – concluiu o papudinho com ar vitorioso – que faz o senhor com essa placa ostentando um NÃO sem justificar seu ponto de vista? Acrescentou, ainda:

- Deixe de ser besta homem, cedo ou tarde o Pará será dividido. Os nossos governantes não dão conta nem de resolver nossos problemas dentro de Belém, quanto mais dos pobres irmãos que estão lá no extremo. Não há de ser pela divisão que vão deixar de ser brasileiros.

O Senhor da placa pegou corda do papudinho. Ficou vermelho de raiva e leu num papel que tirou do bolso uma longa lista de motivos que justificariam o seu NÃO.
O papudinho o ouviu com muita atenção e meneou a cabeça:

- Olha jogador, esse teu papo está manjado. Todos dizem essa mesma baboseira: políticos, intelectuais e outros, mostram só os pontos que eles acham negativos, mas pergunto, eu: – Sabes as razões porque se cria um Estado?

- Não? Pois vou te dizer velho. Raízes históricas, cultura, vontade política, território, economia, educação, população. Pelo menos sei que os povos do Oeste, há décadas, aspiram ser independentes, as razões: insatisfações com a situação de abandono do seu povo; raiz cultural comum; economia própria.
Pergunto,
a descentralização político-administrativa, por si só já não é uma boa razão para que uma sociedade cresça de forma mais controlada?
- E vou dizer mais – atalhou o papudinho – estes novos Estados já vêm se desenhando há muito tempo. O Estado do Tapajós já existe. Vocês que são do contra, o que mesmo podem oferecer pra esses povos para que mudem sua posição? Vocês podem até oferecer, mas, ser[a que cumprirão o prometido?
Só aparecem em época de eleição com promessas.
O papudinho fez sinal da cruz, desceu da cadeira e disse olhando para o infinito: – Deus nos livre do que estou pensando! Já imaginaram se esses separatistas perdem…? Um grande estigma político será gerado neste Estado.
Haverá revanchismos e retaliações, de todos os lados! E ninguém poderá dizer que eu não avisei!