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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Detran: uma parada no inferno de Dante


Lúcio Flávio Pinto
Adital
O Detran é uma galinha dos ovos de ouro entregue, na maioria das vezes, aos cuidados de raposas vorazes. As maiores são apanhadas em flagrante delito, de vez em quando. As menores nunca deixam de circular pelo cenário, interesse de raposas felpudas que agem nos bastidores. Elas mudam, mas o Detran continua o mesmo: um órgão corrupto, ineficiente, ultrajante.
Suas qualidades estão à mostra mal se divisa sua sede, ao lado do estádio Mangueirão, na avenida Augusto Montenegro. Qualquer cidadão cioso dos seus direitos há de se perguntar: por que os serviços do Detran não são descentralizados? Por que seus usuários têm que ser submetidos à odisseia de ir até aquele local dantesco? Por que não são abertas sucursais do departamento em pontos estratégicos da cidade? A quem favorece essa absurda centralização?
Vencida a primeira perplexidade, apresenta-se o portão de entrada, adornado por atravessadores que oferecem chapas e outros benefícios de sua intermediação. Ultrapassados os corretores prestimosos, uma buraqueira antecede a área de estacionamento asfaltada, que é menor. O cenário é de precariedade, uma marca que aparecerá em outros ambientes do local.
No interior do prédio, é preciso entrar numa longa fila para obter uma senha de atendimento. Depois de alguns minutos de espera, emerge outro questionamento: qual a razão dessa primeira parada? Por que a fila para tirar uma senha e não o autoatendimento à entrada do prédio, por ordem de chegada, sem fila?
Afinal, em seguida ao tiro de passagem por uma única funcionária que fornece as senhas, vai-se para um salão atrás dela para aguardar o anúncio dos números. Há 26 guichês de atendimento. A maior parte deles é ocupada por funcionários de idade mais avançada, certamente às vésperas da aposentadoria. Podiam estar trabalhando em função de menor pressão, que exigisse menor destreza e maior experiência. Na retaguarda, evidentemente.
Uma senhora se levanta e some por uma porta situada atrás dos guichês. Não volta mais. Outra conversa com uma colega (a maioria das atendentes é mulher). Uma terceira, que estava descansando, recebe a visita de funcionário de outro setor, com quem também trava animada dialética. Uma quarta, depois de atender um usuário, passa um longo tempo sem apertar o controle de chamada de senhas.
Só quando uma pessoa, que estava nas cadeiras reservadas ao público, levanta seu celular e começa a filmar a cena, se dá conta da sua prolongada inércia. Mas debocha da iniciativa. Observa para quem está ao seu lado que está sendo filmada e, com cinismo, dá adeus para a pessoa que a filma. Há microcâmeras espalhadas pelo salão, mas talvez sua única serventia seja controlar o público, não os funcionários desidiosos, incompetentes ou venais. Parece que jamais ensejaram uma punição. A postura dominante sugere essa constatação.
A moral decorrente parece ser a de que a incúria de um é compensada pela conivência de outro. Ou: me deixa fazer o que quero, e como quero, e te deixarei fazer o mesmo. Quebra o meu galho e quebrarei também o teu. Quanto ao público, este vem depois.
Embora seja ele o responsável pela arrecadação milionária de todos os dias do Detran, é maltratado em quase todas as seções. Uma vez preenchidas as exigências burocráticas, que podiam ser atendidas em boa parte pela internet, dirige-se para o local do teste de direção em motos (cada vez mais numerosas), automóveis ou caminhões, e a prova de legislação.
É um cubículo aberto, pequeníssimo, maltratado, com bancos corridos de concreto, que sugerem tudo, menos se tratar de um órgão público de atendimento de massa numa capital de Estado com 1,5 milhão de habitantes. A maioria dos usuários fica em pé, do lado de fora, sujeita ao sol e à chuva, como se não tivesse pagado para ser servido por aqueles funcionários públicos que a maltrata.
Claro que há gente honesta, aplicada, cumpridora dos seus deveres e atenciosa. Mas ouso dizer: essa é a exceção no Detran de Belém do Pará. E por que é assim? Porque o mau exemplo vem de cima, sempre, como regra. Enquanto esse padrão não mudar, vamos ter que conviver com esses abusos, revoltantes e inaceitáveis depois de uma jornada de várias horas para começar a ser atendido.
Reclamar ao papa?

3 comentários:

Anônimo disse...

Pô em marabá não é diferente não. Lá.na porta tem uma família de marreteiros que ficam na porta que por cinquenta reais eles ajeitam tudo .boletos sem pegar filas direto lá de dentro .inspeções sem ter que levar o veículo. sem falar jô já manjado esquema de vendas de carteiras através de auto escola. deviam fazer como nos Iml .que é proibida funerárias nas proximidade .

Anônimo disse...

Ademir
Um governador que entrega o Detran, para um senador contraventor, com certeza não é sério.

Anônimo disse...

Demir, o status quo permanece e é o que interessa a muitos. Lembremo-nos que, no caso de Marabá(Detran),o Sr. Marchão foi morto há alguns anos. Em 12.08.13, Marabá-PA.