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sábado, 9 de junho de 2007

Pensar faz bem...

Está postado no blog da Cris Moreno e vale a pena como reflexão sobre o que se pretende e como se desenrola a causa do Estado de Carajás. As semelhanças ocasionais não são mera circunstância. Uma reflexão sobre a divisão de Mato Grosso Desde o dia 11 de outubro de 1977, quando o então presidente Ernesto Geisel assinou a lei da divisão de Mato Grosso, a data passou a ter sentido distinto para as duas regiões que formavam o grande Estado uno: na parte que se separou comemora-se o dia da criação de Mato Grosso do Sul; no “norte”, a ocasião não é para festas.Na verdade, a causa divisionista sempre foi de uma minoria, isto é, da oligarquia agrária sulista em disputa pelo poder estadual contra os grupos dominantes do norte. Ao longo de quase um século, o divisionismo não teve grande visibilidade e nem chegou a ser consenso entre a própria classe latifundiária sulista. Um dos seus grandes momentos foi 1932, quando Campo Grande apoiou a revolução paulista enquanto Cuiabá permaneceu legalista. No decorrer desse curto levante, um governo paralelo chegou a ser constituído pelos “revolucionários sulistas” cuja intenção era tornar Campo Grande a capital de todos os mato-grossenses, caso São Paulo vencesse. Mas o destino foi outro.Logo depois, em 1934, foi criada a Liga Sul-Mato-Grossense, que arregimentou um abaixo-assinado no sul do Estado para enviar aos constituintes, no Rio de Janeiro. Este documento, que se encontra no Arquivo Público Estadual, em Cuiabá, arrola motivos justificando a região sul como a mais produtiva do Estado e, ao mesmo tempo, “isolada” e “esquecida” pelo “poder clientelista de Cuiabá”, concluindo com o apelo para a criação de um “Território Autônomo” no sul de Mato Grosso, mesmo que fosse federal. A Constituinte, porém, não acatou a demanda separatista, que sofreria um novo revés alguns anos mais tarde: a criação do Território Federal de Ponta Porã, no sul de Mato Grosso, sem que nele fosse incluída Campo Grande. Alguns viram nisso uma vingança de Getúlio Vargas pelo fato de a cidade ter apoiado os paulistas contra o seu governo em 1932. O fato é que, depois, a Constituinte de 1946 reintegrou o Território a Mato Grosso.Nas décadas seguintes o divisionismo praticamente se calou. Mas eis que, justamente quando se dava a causa por perdida, ela acabou articulada aos interesses geopolíticos da ditadura militar que, então, de cima para baixo, sem consulta às duas populações interessadas – do norte e do sul – dividiu Mato Grosso. Para o regime, tratava-se de impulsionar o desenvolvimento e a ocupação territorial, guarnecendo as fronteiras que o Estado mantinha com o Paraguai e a Bolívia. Mas havia também uma razão política: ao criar uma nova unidade federativa no sul, a ditadura premiava um forte grupo político da Arena, partido que a sustentava, passando a contar com mais uma base de apoio. Assim, a divisão de Mato Grosso, em 1977, só foi possível nessa conjuntura que articulou o regionalismo à geopolítica do regime autoritário: esta é a marca de nascença de Mato Grosso do Sul.Decidida nos gabinetes da ditadura, a divisão surpreendeu todo o Estado e nunca se poderá dizer que foi um desejo da maioria. No norte, especialmente em Cuiabá, o sentimento de perda. No sul, alegria da elite divisionista. E, assim, de um dia para o outro deixamos de pertencer ao nosso Mato Grosso.Mas essa história não acaba aqui. Um outro capítulo começou quando o governador de Mato Grosso do Sul, Zéca do PT, logo após a sua primeira eleição (1998), propôs a mudança do nome do Estado. O espanto foi geral pois isto não constava do seu programa de governo, cuja introdução é de minha autoria. De acordo com ele, o Estado não tinha “nome nem identidade”, sendo uma espécie de “apêndice de Mato Grosso”. Para resolver o “problema”, deveríamos adotar o nome “Estado do Pantanal”, um desejo de “70% da população”, segundo ele, exceto dos “conservadores”! E, a partir daí, passou a patrocinar campanhas publicitárias pró Estado do Pantanal.Como cidadã e pesquisadora, posicionei-me nessa polêmica debatendo e escrevendo artigos no Correio do Estado, principal jornal de Mato Grosso do Sul. Por sua vez, em junho de 2004, a Rede Matogrossense de Televisão, em Campo Grande, mobilizou toda a sociedade num grande evento no qual apresentei o tema “Mato Grosso do Sul: história, identidade e destino”. Ao final, ela divulgou dados que apontou a grande maioria contra a mudança. Foi um momento de emoção porque ali se confirmou que o nome de um Estado, cidade ou Nação, transcende ideologias, classes e partidos políticos. Ele tem valor simbólico e evoca sentimento de afeição e pertença. No caso de Mato Grosso do Sul, talvez isto seja ainda mais significativo porque a forma autoritária que presidiu a sua separação do Estado que lhe deu origem foi amenizada pela conservação de Mato Grosso no seu novo nome, simbolizando um passado comum. E assim prevaleceu o desejo da maioria de continuar sendo mato-grossense porque este nome - Mato Grosso do Sul – em nada diminui a nossa identidade; ao contrário, ele a reforça. * Marisa Bittar é Doutora em História da Universidade Federal de São Carlos

Um comentário:

morenocris disse...

Amigo, este artigo foi publicado ontem, no jornal Diário de Cuiabá.
Relevante, portanto...

Beijos.