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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Uma vitória suada

O texto a seguir é de Wladimir Pomar, analista político e escritor, publicado no site Correio da Cidadania. Na análise da eleição de Dilma Roussef, Pomar mete um caco de vidro na chaga aberta da falta de consciência de classe que leva nossas classes médias a assumirem "as mesmas reclamações e lamúrias da burguesiaassim como suas propostas", propostas que, "no finalvão se virar também contra as camadas médias".
Quaradouro entende que o artigo dá pistas porque trabalhadores remediados e a baixa classe média votaram em Serra e tudo que ele e seu grupo representam como proposta política e administrativa para a Nação, essencialmente excludente para a classe trabalhadora.

"A eleição de Dilma Roussef, é evidente, não foi uma vitória decisiva, daquelas que mudam a correlação política de forças e criam as condições para avançar na realização de mudanças mais profundas na sociedade. Foi uma vitória suada. Pelo lado negativo, resultou tanto dos erros de sua campanha no primeiro turno quanto do fato de que o PT e a esquerda, em geral, abandonaram o trabalho de massas algum tempo.
Pelo lado positivo, nãodúvida de que foi uma vitória importante, devida tanto à correção dos rumos da campanha durante o segundo turno quanto à mobilização de parte considerável da militância de esquerda, que se deu conta de que o "quanto pior melhor", assim como uma vitória da direita, seria um grave erro e uma derrota estratégica.
Ainda pelo lado positivo, na análise da vitória de Dilma não se pode desprezar o fato de que as camadas populares tomaram partido. Enquanto a classe média rachou, aliás, como quase sempre acontece, os proletários e demais setores pobres da população urbana e rural reiteraram sua confiança de que a continuidade das políticas do governo Lula é o que mais lhes interessa. Nesse sentido, a clivagem social continua sendo uma marca característica das três últimas eleições presidenciais no Brasil.
É essa clivagem social que tende a aprofundar o processo de polarização da sociedade brasileira, apesar de uma parte da burguesia nacional e internacional estar se beneficiando, como não poderia deixar de ser, com os programas governamentais de desenvolvimento das forças produtivas do país. A necessidade de aumentar a capacidade produtiva do país, como condição para redistribuir renda e melhorar as condições de vida do conjunto da população, pode ser realizada com o concurso de diferentes formas de propriedade, como nossa própria história tem mostrado.
O problema, para a burguesia nativa e estrangeira, é que elas não querem a participação da propriedade pública, estatal e sob outras formas, nesse processo. Elas pretendem fazer isso sozinhas. Além disso, mesmo tendo alta lucratividade, elas não querem ter uma parte de seus lucros apropriados pelo Estado para redistribuição aos trabalhadores e aos pobres. Assim, vivem a ambigüidade de serem beneficiadas pelas políticas de crescimento de governos de esquerda e, ao mesmo tempo, se sentirem lesadas dos recursos que consideram seus, mas são "desviados" para programas sociais.
Esse é o mesmo sentimento de parte considerável da classe média, proprietária ou não. Talvezmuito tempo esse setor não esteja em condições financeiras tão boas quanto na atualidade. Apesar disso, acha que poderia estar melhor se o governo não "gastasse tanto dando dinheiro pra pobre e alimentando vagabundo", como é comum se ouvir em rodas de restaurantes e botecos.
Esses setores são incapazes de enxergar suas diferenças econômicas e sociais com a burguesia, e de que não estão melhores porque é justamente a burguesia que se apropria da maior parte das riquezas geradas pelo trabalho, tanto dos proletários quanto das próprias classes médias. Em conseqüência, na política, assumem as mesmas reclamações e lamúrias da burguesia, assim como suas propostas. Propostas que, no final, vão se virar também contra as camadas médias.
É com base nisso que, no discurso de reconhecimento da eleição de Dilma, o derrotado Serra não proclamou uma vitória política das forças que o apoiaram, como prometeu guerra sem quartel pelas liberdades, democracia e pela nação. Ou seja, partindo do pressuposto de que obteve sucesso em impedir Lula de transferir toda sua popularidade para a candidata da coalizão dirigida pelo PT, e em conquistar 44% dos votos válidos, Serra se colocou na posição de comandante de uma luta continuada contra o próximo governo.
Talvez seja útil ao PT e à esquerda refletirem sobre o significado dessa postura da direita. Ela pode nos ajudar a aprofundar um debate, mais que necessário, sobre o significado de liberdade, democracia e nação, para a direita e para a esquerda, provavelmente como eixos principais das lutas que estão batendo às nossas portas. Ou tal significado é desnudado para o conjunto da população brasileira, em especial para os pobres, os trabalhadores e as classes médias, ou a direita pode se apropriar dessas bandeiras para implantar o seu inverso." 

Um comentário:

Adir Castro disse...

Nossa cultura sempre foi e ainda será por muito tempo, a mesma: passou pela porta, estando bem, fecha-se a porta para o que vem logo atrás quebrar a cara nela.

Bastou algumas pessoas melhorem de vida, transformando-se em classe média, que começaram a arrotar contra os que vem logo atrás. Como demonstração de insatisfação, esses que ascenderam de classe, votaram contra o PT, que os elevera a esse "nível" sócio-econômico. Já se consideram ricos.

Outro dia assiti na TV Record uma matéria sobre empregadas domésticas. Segundo a matéria, devido a melhora na economia do país, essa profissão, nos grandes centros do país, está entrando em extinção. ISSO É MUITO BOM. Mas a classe média e alta não gostam disso, pois perdem seus serviçais, que anteriormente aceitavam ganhar qualquer coisa, por não haver oportunidades no país. MUDOU. Agora a classe média corre atrás e bajula para ter uma empregada doméstica. TEM QUE SER ASSIM MESMO, valorização da mão de obra e do ser humano.

Agora é esperar que Dilma dê continuidade ao que foi começado. Muita gente da mídia a está desmerecendo. Uns dizem que Lula é que ficará no controle, outros dizem que ela brigará com ele... São muitas as conspirações que eles preveem.

Eu acredito que Dilma, por ser confiável, assume o terceiro mandato, pois Lula não quis mudar as regras. Acho que ele volta em 2014. Ainda mais que a oposição vai apresentar candidatura dois anos antes. Então, pra enfrentá-los, creio que Lula vai cair no campo.

Mas o mais importante é esse país produzir, gerar empregos e rendas, melhorar a saúde, segurañça e educação, para que nós tenhamos um pouco mais de qualidade de vida.

Todo mundo quer isso. Talvez tenha sido o voto do desejo que elegeu Dilma, o voto de quem começou a experimentar as coisas que sempre sonhou em consumir.