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segunda-feira, 21 de março de 2011

Tucanos no chão

Lúcio Flávio Pinto

As dificuldades deixadas pelos antecessores e sua composição heterogênea ainda 
não permitiram que o governo Simão Jatene imprimisse sua marca. A previsão é 
de que este ano seja consumido na arrumação da casa. Mas logo em seguida 
haverá nova eleição. A perspectiva é crítica.

O primeiro trimestre de 2011 acabou e o governo Simão Jatene, do PSDB, a rigor, 
ainda não começou. O governador pode alegar que nem poderia ter começado 
para valer, conforme ele pretendia: a herança maldita deixada por Ana Júlia 
Carepa, PT, vai pesar pelo menos durante todo este ano. O acervo de contas 
a pagar, de compromissos pendentes, de desorganização na máquina estadual
 e outros complicadores resultantes de uma das piores administrações que o 
Estado já teve absorverão toda a energia e inventividade da atual gestão. 
Só em 2012 ela poderá mostrar sua face e colocar em prática os seus planos e projetos.
O problema é que 2012 será mais um ano eleitoral: estarão em disputa as prefeituras. 
Mais uma vez, Belém será um campo de batalha. O conteúdo dos candidatos em
 potencial não traz novidade, mas a disputa deverá ser bem maior do que nos últimos
 anos. O PSDB dispõe de alternativas expressivas para se contrapor a nomes como
 Arnaldo Jordy, José Priante, Edmilson Rodrigues, Paulo Rocha (quem sabe, de novo), 
Ana Júlia Carepa, mas elas poderão se desgastar até a campanha. É o caso de Zenaldo 
Coutinho, que ocupou a estratégica chefia da Casa Civil, para se beneficiar dos
dividendos de estar tão próximo do governador, mas tem se desgastado pela sucessão
 de problemas e incidentes ao longo do trimestre.
Descontados os discursos, até agora não foi possível descobrir diferenças entre
 o derrotado (e desastrado) governo que saiu e o que entrou. Talvez porque o que 
esteja prevalecendo seja o efeito residual da gestão petista, a opinião pública convive com 
situações que pouco ou nada diferem da fase anterior. Não só pela “herança maldita”: retomando
 o estilo que deixou em 2007 para a sucessora, Jatene repete os erros do primeiro mandato.
A começar por manter a rotina desgastante das assessorias especiais do seu gabinete, 
um sorvedouro de recursos públicos dilapidados para acomodar interesses e servir a acordos 
políticos – e de outra natureza. Esse setor da administração pública se tornou símbolo do 
desmazelo e da conivência com o uso doméstico do governo para fins que nada têm a ver
com o bem coletivo. Os tucanos garantem que não chegarão ao limite de mais de dois mil
 assessores especiais, recorde petista, talvez ficando muito aquém. Mas o mecanismo é 
o mesmo: falta de justificativa para as contratações, sigilo nas informações a respeito
 e desprezo pela opinião pública.
Embora pagando o preço por suceder um governo fraco, os tucanos podem ter que arcar
com um custo muito alto pela vitória, que só foi possível graças a acordos políticos 
de todos os tipos. Por isso, é visível uma divisão entre uma parte técnica na administração
 e outra política, com fortes características fisiológicas. Sem um comando competente, 
capaz de resolver os muitos problemas do governo, Jatene não desfará os nós que herdou.
Mas ao ceder parcela considerável do poder a políticos empenhados apenas em obter
dividendos pessoais (e com um passado nada recomendável), pode experimentar
surpresas desagradáveis.
Uma delas já veio com a acusação de que seu secretário de assuntos estratégicos, 
o ex-prefeito de Paragominas, Sydnei Rosas, recorreu a trabalho sob condições 
degradantes em uma fazenda que possuía no Maranhão. A cabeça do secretário esteve
prestes a ser colocada numa bandeja, mas parece que ele conseguiu se explicar e superar
o problema. Mas pode ser uma vitória parcial. Outras situações semelhantes podem se
repetir. Para tentar enfrentá-las, o governador parece estar mais empenhado em 
negociações de bastidores do que em impor sua figura à frente dessa equipe ainda 
desencontrada e desigual. O governo, que ainda não começou, pode começar mal.

Um comentário:

Adir Castro disse...

Essas desculpas acontecem a cada vez que elegemos um governante em substituição ao que está no cargo.

Nós é que esquecemos muito rapidamente a essa novela.

Os políticos, isso é uma regra ainda sem exceção, só fazem política no período eleitoral, quando apresentam seus planos milaborantes, que se realizados, boa parte dos problemas de saúde, educação, saúde, transporte e emprego serão resolvidos.

Só que a coisa não é bem por aí, e uma coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa.

Uma coisa é fazer promessas para enganar ao eleitor e assim tirar seu voto; outra coisa é realizar as promessas.

Aí aparecem as dificuldades que eles não citavam quando pediam voto. Mas diziam em alto e bom som que tinham a solução para os problemas. Inclusive detalhavam as maravilhas que fariam.

Depois de empossados, essa é outra regra ainda sem exceção, eles passam a fazer POLITICAGEM, fatiando o bolo do poder. Isso acontece através do rateio de cargos nos vários escalões. São nomeações feitas pelos parlamentares, que em troca dará voto para aprovar falcatruas do executivo. Os parlamentares, é bom dizer, não estarão abaixando as calças por causa dos interesses de quem os elegeu, mas sim por interesses pessoais, políticos e em atendimento a grupos políticos e de financiadores de suas campanhas.

Quando um entra diz que não tem recursos, que o antecessor gastou tudo. Geralmente o gasto é em contratações de amigos, parentes, afilhados e o escambau. Tudo pago por nós. E o que está entrando joga pra fora os afilhados do antecessor para colocar os seus. Vez por outra eles mantêm alguns afilhados do antecessor. Vide Marabá.

Para quem os elegeu sobra somente a fuxicada que farão nos quatro anos que estarão assentados nas cadeiras. Forjarão inimizades uns com os outros para enganar ao já iludido eleitor, que novamente embarcará na viagem... E começa tudo de novo.

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Adir Castro