É de Chagas Filho o texto mais belo e humano que li, nesses tempos sem solidariedade e compreensão.
Leiam:
Já foram tarde (venda nos olhos)
Escrotos, voltaram para o lugar donde vieram.
Foram embora bem na hora.
E já se foram tarde.
Nenhum de nós há de sentir sua falta.
Muito menos nós, os ilhados.
Agora sim.
Tenho o direito de ir e vir.
Agora sim.
Tenho uma rodovia inteira pela frente, toda liberada...
Posso embarcar no meu ônibus lotado e suado.
E ganhar o meu pão miserável.
Posso ir ao trabalho e ser demitido.
Posso ir ao médico e passar oito horas na fila de espera.
Posso fazer minhas compras tranquilo.
Posso pagar cinco reais num quilo de tomate.
Posso xingar-lhes sem ganhar uma porretada na cabeça.
Posso.
Posso ir, vir, voltar, pular, rodear, passar direto, fazer voltas.
Enfim, posso curtir minha miséria.
A miséria que não é só minha.
É também dos infelizes que levaram suas barracas para longe daqui.
Mas pelo menos...
Pelo menos eles foram embora.
Já foram tarde, esses brigões, esses valentões.
Esses aí que acham que têm o direito de existir.
Que acham que têm o direito de ir e vir.
Já foram tarde.
Já foram...
Tarde.
É tarde.
Nunca é tarde.
8 comentários:
Aplausos!
Ademir, como lhe conheço (e bem) acho que a tomada acima é de pura ironia, sua; só isso explica o elgoio que vc deu.
Já o texto do Chagas é de raiva, emotivo, e revela quem ele é, na verdade, um facista de carteirinha. Sem qualquer compreensão para com o outro. è por isso que Marabá tem essa politicalha que tanto lhe atrasa, quem deveria ser mais consciente, é, na verdade, o próprio atraso. è o reflexo dos que estão no poder: conservador, politicamente atrasado, intolerante e anti-democrático. Triste este texto, apague-o de seu maravilhoso blog, não condiz com sua fina e elegante ironia. Vociferar não é argumentar.
Ademir, o comentário acima, o das 16h12, prova uma coisa: a burrice existe!
O que mais me admira é que muitos dos que mais se queixaram de perdas é quem mais vai festejar com o "capital" conquistado pelos trabalhadores, e mais tarde são os que receberão o retorno disso, considero uma enorme falta de sensibilidade e compromisso social, o que foi argumentado, e confirmado por V. Senhoria.... só posso lamentar... mas é bom cada vez mais os conheço...e olha não fico surpresa...
DESCULPA CARO ADEMIR BRAZ.. NÃO VOU ME IDENTIFICAR PORQUE NÃO QUERO CONFUSÃO COM O MEU NOME.. MAS O ANÔNIMO DAS 16:12 É UM MEDIOCRE.. NÃO SABE O VALOR DOS SENTIMENTOS ALHEIOS...DO QUE IMPORTA A POLÍTICA SEM A EXANGUE DE PELOS MENOS UM POEMA PARA ALERTAR AS MAZELAS SOCIAIS QUE NÓS TEMOS QUE SUPORTAR... DE CERTA FORMA O ANÔNIMO QUER UM MUNDO PERFEITO E VEM FALAR EM FACISMO.. CONSERVADOR... POLITICALHA.. LHE DAR UMA ALFINETADA.. LHE CHAMANDO DE IÔNMICO PORQUE OU LHE CONHECE MUITO BEM OU DESCONHECE TOTALMENTE.. CREIO QUE O SEU POST ESTÁ SENDO IRÔNICO COM CHAGAS FILHOS.. MAS REALISTA.. ENTÃO ELE (O ANÔNIMO) QUE QUER UM MUNDO PERFEITO DEVE PROCURAR UM OUTRO PLANETA URGENTE.. PORQUE ESSE NÃO É O SEU LUGAR... ADOREI A POÉTICA DE CHAGAS FILHOS.. ELE É MUITO BOM NISSO... IGUAL A VOCÊ...
ABRAÇOS
Isso é sinal que nunca vamos alcançar a possibilidade de viver com ética e respeito mutuo, essa conversa que as coisas são desse jeito e que as pessoas não podem pelo menos lutar ou pelo menos acreditar em uma vida melhor, ou é porque vive numa remoda e nunca foi violentado, ou porque faz as vezes de Deus, ou porque vive numa boa mamata e não quer perder, e tantas outras opções pilantras, estes sim deveriam ser extintos, pra não mutiplicarem seus "idéias de vida digna e de justiça social' as avessas.
Ademir.
Será que há alguma beleza, alguma poesia, em transgredir a lei, usurpar o direito alheio, rasgar a constituição, olhar apenas para si mesmo, pensar que é o centro do mundo e que tudo o mais gira ao seu redor e que tudo lhe é permitido para alcançar os seus objetivos e os outros que se lixem.Assim pensam as retrógradas lideranças que comandaram as demonstrações de violencia, arbitrariedades e atraso que tanto chocaram e prejudicaram a gente honesta e trabalhadora de Marabá.Direito de protestar eles tem e todo o direito, porém, porque não protestar contra os que estão a lhes prejudicar?Porque atazanar a vida de quem tem familia para criar, doenças para curar, urgencias para observar, prazos para cumprir e sofre, também, as mesmas mazelas, impostas pelo mesmo desgoverno? Gente boa, humilde, operosa, produtiva, que não tem transporte de nivel.Que não tem atendimento médico à altura.Que não tem um salário mínimo digno.Que não tem segurança pública e outros não tem que vão por ai afora.O foco do repúdio deveria ser o Incra e sua inoperancia e o governo, como um todo, encastelado no planalto e distante da realidade da ficticia reforma agrária que jamais implantou.O direito de ir e vir é sagrado e o direito de um começa onde termina o do outro.Não é?Ninguém quer impedir o MST de alcançar os objetivos que busca, porém ele perdeu muito do seu encanto primitivo e do apoio que tinha da sociedade, mercê de seu egoismo e egocentrismo exarcerbados.Eu sou o sol, os outros que girem em torno de mim e depois de mim o diluvio.Eu já li sobre isso e sei que não deu certo.Como poesia o texto do Chagas Filho é aceitável, porem como realidade, jamais.Fica no terreno da poesia mesmo, onde tudo pode florescer.
Gente, eu me assustei um pouco com os comentários do rapaz das 16h12. Acho que ele não fez por mal. Talvez não tenha entendido o que eu quis dizer (só pode...)
Com relação ao Paulo Pereira, eu não o conheço, mas ele tem todo o meu respeito porque assina o que diz (isso é coisas rara nessa nossa blogosfera). Parabéns, Paulo.
Agora vamos à página 2. Em nenhum momento eu concordei com a interdição da rodovia. Inclusive, fiquei preso com minha esposa grávida dentro do carro. É ruim mesmo. Mas se nós, trabalhadores da cidade, abríssemos nossos olhos e tivéssemos a mesma coragem dos chamados "sem-terra", talvez estaríamos vivendo com um pouco mais de dignidade.
Na Argentina, os jovens vão às ruas protestar contra a alta dos juros; contra a falta de atenção aos órfãos e viúvas da ditadura e da guerra das Malvinas. Aqui, não conhecemos nossos direitos. Aqui, a maioria de nós não sabe nem o que é o "quê".
Como disse Raul Seixas: "Tem que acontecer alguma coisa..., parado é que eu não posso ficar".
Aquele abraço.
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