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segunda-feira, 15 de abril de 2013

Em Marabá também. E piabanha de cativeiro...

No Manuel Dutra:


Belém come peixe-gato do Vietnã. Santarém, tambaqui de tanque, do Mato Grosso. Em plena Amazônia!

Na Ásia, os produtores alimentam o pescado com dejetos e com restos de comida, já que muitos tanques ficam abaixo das casas. Com tanta riqueza natural na Amazônia, estamos começando a comer peixe trazido do outro lado do mundo, de origem duvidosa e produtos de criatórios nada higiênicos
Em tanques assim, pouco higiênicos, são produzidos os peixes que são mandados para o Pará
Foto: portuga-coruche.blogs.sapo.pt
Na última Semana Santa caminhões frigoríficos do Mato Grosso despejaram em Santarém toneladas de tambaqui de criatórios, mais barato que o tambaqui natural, da região. Vieram do Brasil Central vender peixe nas margens do Amazonas e Tapajós, causando queixas dos comerciantes locais. Ontem, o jornal O Liberal publicou reportagem mostrando como as empresas pesqueiras da Região Metropolitana de Belém estão fechando ou em grave crise em virtude da concorrência do pescado proveniente do Vietnã e da China, com destaque para um tal peixe panga ou peixe-gato.
Com uma preocupante realidade, pois estamos trocando o pescado abundante e sadio de águas naturais por um produto de origem, no mínimo, duvidosa. Do pouco que se desconhece sabe-se que, na Ásia, os produtores alimentam o pescado com dejetos e com resto de comida, já que os tanques ficam abaixo das casas, segundo informa o presidente do sindicato patronal da pesca, Armando Burle. Como o custo de produção é pífio, o preço é mais competitivo para os asiáticos, segundo explica Burle. Um desses criatórios debaixo de palafitas, recebendo os dejetos domésticos, foi mostrado semana passada num programa da Rede Globo.
Além da ação dos atravessadores no Pará, essa seria uma das razões para preços pouco competitivos praticados pela indústria pesqueira paraense. Além disso, é sabido que na China e no Vietnã os salários dos trabalhadores são os mais miseráveis possíveis, com trabalhadores extremamente explorados em criatórios de pouca higiene.
Teremos, assim, chegado literalmente ao fundo do poço? Em plena Amazônia, com milhares de espécies de peixes em centenas de rios e lagos limpos, estamos condenados a comer peixe de qualidade duvidosa? Aliás, o abastecimento do povo paraense nunca fez parte das preocupações das elites governantes nem empresariais. Estes, quando reclamam, é porque seus lucros fantásticos estão diminuindo.
Sobre a ação dos atravessadores, não existe política pública nem polícia para coibi-la. Por isso, é estranho que, numa cidade como Belém existam excelentes churrascarias e restaurantes outros de primeira linha. Mas a cidade não conta com uma grande e boa peixaria.
Tanto em Santarém como em Belém, sabidamente o pescado é caríssimo, sobretudo pela ação dos atravessadores, como demonstrado aqui neste blog diversas vezes. Em Santarém, nestes dias, quem quiser e puder comprar pescado de melhor qualidade terá que desembolsar entre 15 e 20 reais o quilo. Em Belém, na Feira da 25, o pirarucu seco estava, há poucos dias, a 50 reais, em Santarém a 30. As espécies mais baratas giram em torno de 10 reais.
Trata-se de um processo perverso em que saem perdendo os pescadores e os consumidores. Quem ganha são os invisíveis atravessadores que agem na zona bragantina, no Salgado, em Tucuruí e no Baixo Amazonas. Ao chegar a uma banca de venda no Ver-o-Peso o comprador final pode encontrar um pescado que já passou por, pelo menos, dois atravessadores: aquele que vai de barco chantagear o pescador antes de desembarcar e aquele que recebe a produção e a coloca em frigorífico para o transporte para as feiras. Isso quando não existe mais um intermediário, como no Lago de Tucuruí.
Ali, o pescador é assediado na beira do lago e entrega a produção para um primeiro atravessador, que leva o produto para a cidade de Tucuruí. Lá, outro atravessador mais endinheirado faz o transporte para Belém onde o espera um terceiro intermediário que faz a distribuição. Uma cadeia perversa e criminosa.
Peixe amazônico
O número de espécies de peixes na América do Sul ainda é desconhecido, sendo sua maior diversidade centralizada na Amazônia. Estima-se que o número de espécies de peixes para toda a bacia seja maior que 1.300, quantidade superior a que é encontrada nas demais bacias do mundo. Apenas no rio Negro já foram registradas 450 espécies. Em toda a Europa, as espécies de água doce não passam de 200.
O Peixe-Panga é o termo comumente utilizado para designar espécies de peixe pertencentes ao gênero Pangasius, da família Pangasiidae, da ordem dos Siluriformes. É conhecido popularmente como peixe-gato (catfish). Trata-se de um peixe similar ao bagre cultivado a mais de 1000 anos no, um dos maiores rios do sudeste asiático e um dos mais importantes para a economia local, conforme se lê na Wikipedia.
Com tanta riqueza natural assim, estamos começando a comer peixe que é trazido lá do outro lado do mundo, de origem duvidosa e produtos de criatórios nada higiênicos.

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