segunda-feira, 4 de junho de 2007
Angústia
Ao entardecer, o Tocantins em chama
à plena luz do sol que se afoga –
tem, no abandono de sua água -,
a mesma plenitude que me dana.
Sou luz e dor à tona d’água.
Desfeito no encanto dessa hora
em que soluça a tarde e minha mágua
é feita de presença e de agora,
assim me ponho inteiro sobre o mundo.
Suave como a noite é meu espanto.
Maior do que a tarde, e mais profundo,
é esse amor tardio com que me encanto.
Amo. E sou rio tranqüilo e céu revolto.
À margem desse rio, posto em sossego,
sou irmão da lua e do morcego
e desse pirilampo errando solto.
Desse amor me vem a luz que cega,
a noite que flutua, o sol já morto,
e esta solidão que o rio carrega
sem jamais deter-se em qualquer porto.
À margem desse rio, a céu aberto,
entre a noite virgem e o sol aflito,
meu coração é pássaro inquieto
e flor rompendo a noite como um grito.
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6 comentários:
Agora, para mim, a sua "angústia" é bela...
Beijos.
Ah, que bela construção do poema!!! Mas o conteúdo lembra aquela frase célebre: " antes dele ( o trem) eu até sonhava. Hoje, nem durmo.
Arlindo
Não é só você, Arlindo, os moradores do KM-07, dos São Félix Veljho, I, II, III, XV, a reserva Gavião - também não. Tenho uns amigos que estão em tratamento psiquiátrico até aqui sem sucesso: como ficar bom, se o apito do trem da Vale dispara debaixo da cama dele toda madrugada? rsrsrsr
Ei, Arlindo, esse comentário não tá fora de lugar? O trem passa lá embaixo. Aqui é o rio Tocantins, pô!
Poeta, a leitura breve foi uma lenta degustação do teu poema. Foi como palmilhar um pouco o teu eu poético que transcende a realidade numa alusão entre o solitário rio que vai sempre em busca de um lugar, e a solitária vida de quem vê a vida sob outro olhar.
Bia cardoso
Valeu cara!! é isso mesmo. saí fora dos trilhos e nem percebi. rsrs
Arlindo
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