Itacaiúnas poluído e Tocantins assoreado. Nada escapa à destruição |
Essas grandezas têm servido de inspiração para o ufanismo nacional , mas não para tratar melhor os nossos gigantes aquáticos . Nenhum brasileiro – ou mesmo o nativo – dá ao Amazonas a importância que os egípcios conferem ao Nilo. O Egito não existiria sem a faina incansável do seu grande rio , a fertilizar suas margens , cercadas por desertos hostis, e civilizar o país . Por isso , é considerado sagrado .
Os brasileiros parecem acreditar que , por ser monumental , abrangendo 7 milhões de quilômetros quadrados do continente sul-americano (quase dois terços em território brasileiro ), a bacia amazônica foi blindada pela mãe natureza contra as hostilidades do homem . Já está na hora de se pôr fim a essa ilusão , acabando com a insensibilidade geral , que se alimenta do desconhecimento e da desinformação . O Amazonas está sob ameaça . Não uma, mas várias.
O desavisado pode até achar que o ato é de significado museológico, para efeito acadêmico . O processo do tombamento , porém , se arrastou durante dois anos . Deveria ser simples : a área de 30 quilômetros quadrados , o polígono de terra e água onde ocorre a junção dos dois enormes rios , é cenário para o maior de todos se encontrar com o maior rio de águas negras do mundo . Na margem direita , o barrento Solimões pressiona o rio ao lado , que ganhou seu nome pela inusitada cor das suas águas , num entrevero que pode se estender por 10 quilômetros lineares nas duas direções .
É um encontro ciclópico . A vazão do Solimões nesse ponto (onde justamente muda pela última vez de nome , passando a ser Amazonas ) é de 135 milhões de litros de água por segundo . A do Negro , que chega ao fim do seu percurso de 1.700 quilômetros , a partir da Venezuela, é de 50 milhões de litros . Encorpado, o Amazonas segue em frente até a foz , dois mil quilômetros abaixo . Não sem antes oferecer o espetáculo das duas cores líquidas em paralelo ou em fusão tumultuada, para a admiração ou o espanto de uma crescente legião de turistas.
O problema é que no ponto de encontro dos rios está Manaus, com 60% da população e 90% da riqueza de todo estado do Amazonas , o maior do Brasil, com 20% do território nacional . Desde quase meio século atrás , Manaus deixou de ser o produto do Amazonas para ser o efeito da Zona Franca , um entreposto comercial e um núcleo industrial que só se tornaram possíveis pela renúncia da União a recolher o imposto sobre a importação das empresas instaladas na remota paragem .
A pressão é tão forte que alguns terminais privados , legais ou não , surgiram na orla da cidade . O maior deles, o Porto Chibatão, foi parcialmente arrastado, no mês passado , pelas águas do Negro , a apenas três quilômetros do seu encontro com o Amazonas , com mortes e a perda de diversos contêineres . Qualquer ribeirinho sabia que o local era contra-indicado para o fluxo de carga que o precário terminal movimentava.
O processo que levou ao desmoronamento do Porto Chibatão seguiria sua lógica malsã se não tivesse surgido a iniciativa de tombar o encontro das águas . Ninguém se aventura a dizer-se contra o tombamento , mas ele provocou uma batalha judicial que chegou a Brasília, com vitórias e derrotas , protelações e pressões , até que , no dia 5, finalmente o Iphan assumiu a tutela sobre o encontro das águas .
A decisão do Iphan, que ainda vai sofrer questionamento judicial , não bloqueia a evolução dos empreendimentos produtivos na região , mas talvez ajude o país a se dar conta de que destruindo os recursos naturais , em especial aqueles que representam uma grandeza única , é a Amazônia que estão destruindo. Substituem a galinha dos ovos de ouro por um cavalo de Tróia. Na mitologia ou na realidade , sabemos qual será o desfecho . (Lúcio Flávio Pinto)
Um comentário:
enquanto isso as secretarias de estado e municipal de ambiente continuam a autorizar os frigoríficos a derramar os produtos químicos usados para a limpeza dos couros e os restos de carcaças e sangue jogados no itacaiunas.E no tocantins, as retiradas de areia e seixos sem nenhuma vigilância a olhos vistos vem acabando com os nossos rios. E por isso que as denuncias pipocam todos os dias.Dizem que a policia federal vai fazer arrastão nas SEMAS, já ouve vários presos na do estado.A turma chefiada pelo Rosa estão na mira dos homens.Visite o blog do Pasival e vejam alguns posts que traz varias denuncias da gestão da representação da SEMA Estadual em Maraba.
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