O advogado Marlon Aurélio Tapajós Araújo, especialista em Gestão Ambiental pela NUMA/UFPA, está decepcionado com as rotas impostas à recém-criada Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) que , no seu dizer “está longe de aparentar , o que dirá ser , uma Universidade ”, hoje operando menos na produção do saber e mais “na lógica da completa integração da instituição às estruturas capitalistas em expansão nesta fronteira amazônica .” Veja o artigo de Marlon Aurélio:
A recém-criada Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) está longe de aparentar , o que dirá ser , uma Universidade . As demandas da comunidade universitária , formada a partir da junção de dois campi de duas universidades federais anteriormente existentes na cidade de Santarém (Ufpa e Ufra*), soam estranho para um ouvido mais atento : reclama-se da falta de espaços físicos como salas de aula e gabinetes para professores , uma biblioteca recém construída não possui livros , é forte a ausência de professores e há até uma proposta de estrutura acadêmica que prevê precariamente a junção curricular da graduação num único processo e a permanente concorrência e seleção entre estudantes desde a entrada até a conclusão dos cursos . São demandas básicas demais que tendem a ser explicadas comumente pelo pouco tempo de vida da instituição .
Na postagem “Ufopa terá cátedra de Ciência e Engenharia Ambiental” (em que se repete uma matéria do “Amazônia Jornal ”) relata-se a assinatura de um acordo que oficializa a criação na Ufopa da cátedra de Ciência e Engenharia Ambiental com representantes das "instituições " Alcoa e a Fulbright.
A mineradora Alcoa já atua no município de Juruti , no oeste do Pará , com a extração do minério primário da bauxita . A matéria no blog diz como a empresa multinacional vai atuar na parceria com a Ufopa: “vai colaborar com a divulgação científica da cátedra no Brasil, acompanhar as atividades e o processo seletivo ”.
A assinatura do convênio durante o seminário "Amazônia: Desafio Brasileiro do Século XXI" é no mínimo curiso. O evento teria os objetivos de “discutir as ações que vêm sendo implantadas na região com vistas a promover a pesquisa , a formação de recursos humanos para atuar na região e o desenvolvimento regional ”. Mas , ao invés de ser realizado na região de Santarém, onde está a Ufopa, o evento se deu em Belém, nas suntuosas instalações do Centro de Convenções Hangar , bem longe , portanto da comunidade universitária , de suas precarizações e da região que se anuncia desenvolver .
A Ufopa portanto caminha para uma estruturação completamente subordinada do saber , onde o processo de ensino- aprendizagem torna-se uma prestação de serviços ("formação de recursos humanos "), sem autonomia universitária (a mineradora vai acompanhar o processo seletivo e aquilo que for produzido), completamente adaptada e inserida à lógica de mercado .
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