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sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Um presente de Jorge Luis Ribeiro

Finalmente flores

                                                                              Para Ademir Braz e Ilzamir Carvalho
Marabá setembria solenemente florida nas alamedas, pátios e espaços onde se permitiu o verde. São ipês que lançam asas floridas, alguns amarelos, gemas de ovo explodindo a curvatura da tarde, alguns roxo-claros vagueando pétalas desguarnecidas de rumo, ou algodoados que salpicam o azul e depois o chão em nevasca de poesia e ninar de abelhas, mas o aperto no peito: nem tudo são flores no coração da cidade. Há muito sangue no corpo periférico da cidade que respinga nas lápides necrotérias das capas de jornal. Sangue jovem na mira do extermínio e da insensatez.
também muitas palavras pelos muros e auto-falantes que dizem o inócuo, o ilusório e segam os que acham ver. Há muito nos espaços recônditos do abandono. O das ruas descalças asfixiam a artéria do dia, o das chaminés fazem aço e acidificam as águas e o céu. Há a fumaça nos campos que anulam horizontes. Há muito lixo acumulado pela cidade, principalmente nos departamentos políticos do poder. A elite culpa a pobreza pela miséria geral enquanto deposita os lucros da secular rapinagem. Há também um contingente genealógico de maranhenses que labutam o fardo do destino e sobre os quais recai a culpa das mazelas emigradas das classes subnutridas do outro lado da divisa. Os maranhenses são tratados como escória, o outsider portador da miséria fundante.
Mas enfim, começamos a ver flores na cidade. Este anobastante flores. Nossa calcinante primavera de veraneio semeia plumagem como intervalos poéticos na profusão de desesperança e degradação do poder. É um florir insular que faz poetas divorciar nostalgias de amores pretéritos e quer revogar a frase do poeta que anda despedindo-se: “não te amo mais cidade minha”. Neste tempo oco em que te violam sem trégua, cidade, que violentam tuas entranhas como se fora índia desaldeada, é preciso chorar e regar as flores das praças. É um tempo em que constelações de perguntas vociferam vez.
Mas recomeço a te amar pelas flores e pelo verde violento do rio. Por que setembro se faz, a despeito do desamor destes teusdonos”. Tua primavera inexiste, teu inverno secou de todo e os desabrigados pelas águas e reconhecimento limparam de todo o limo das paredes e recolheram-se às beiras espremidas que a vida lhes reserva.
A despeito disso floris cidade minha, em verbo neófito e difusão de neologismos da beleza e da cor. Por isso colho tuas flores pela VP8, e o olhar, cidade minha, é o que temos a oferecer aos teus poetas emudecidos por tanto barulho. Ofereço estas linhas como flores aos poetas teus, aos garis, professoras, pedreiros, camponeses, jardineiros, crianças, pescadores, lavadeiras, feirantes, ao povo mais povo que povoa a memória de tudo que trago nos meus museus de saudade e esperança
Marabá  - Setembro/2011

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