Torturados, assassinados e alguns até forçados a perseguir
guerrilheiros contra a própria vontade. Esses são os relatos de moradores de
áreas rurais e de índios Suruí do Pará, da etnia Aikewara, durante audiência
pública realizada ontem à tarde, em Marabá, pela Comissão Nacional da Verdade.
As histórias que foram relatadas aconteceram durante o período da ditadura
militar (1964-1985) em que o regime realizou a campanha de extermínio da
guerrilha do Araguaia, grupo armado de oposição à ditadura que atuou na região.
Camponeses da região do Araguaia e indígenas Suruí
participaram da audiência, organizada em parceria com o Comitê Paraense de
Memória, Verdade e Justiça e a Associação dos Torturados da Guerrilha do
Araguaia, que teve como objetivo tornar públicas e visíveis as violações de
Direitos Humanos ocorridas na região. Três índios da aldeia Sororó e seis
moradores do campo deram seus depoimentos para a Comissão Nacional da Verdade e
para as mais de 200 pessoas que lotaram o plenário da Câmara Municipal de Marabá,
local onde aconteceu a audiência.
Representante da CNV no evento, a psicanalista Maria Rita
Kehl destacou que a principal função dessa e de outras audiências públicas que
a comissão está realizando em todo o país é dar visibilidade às histórias de
violações de direitos humanos que ficaram escondidas na história. “O importante é que essas pessoas falem aos
outros brasileiros, para que todo mundo conheça as histórias que ficaram
guardadas e se divulguem por todo o país os abusos contra aqueles mais vulneráveis,
que são os camponeses e os indígenas.”
Durante a audiência, o presidente da Associação de
Torturados da Guerrilha do Araguaia Sezostrys Alves anunciou a criação de uma
Comissão da Verdade dos Camponeses do Araguaia, que será composta por sete
pessoas ligadas à defesa dos direitos dos camponeses e presidida pelo próprio
Sezostrys.
Na sexta-feira, a Comissão Nacional da Verdade esteve na
Terra Indígena Sororó participando da reunião que oficializou a criação da
Comissão da Verdade Suruí.
Os índios da etnia Aikewara, ou Suruí do Pará, decidiram
criar uma comissão própria para investigar crimes cometidos contra os índios
durante o período da ditadura militar, principalmente no período de repressão à
guerrilha do Araguaia. O grupo será formado por índios das aldeias Sororó e
Itahy, que irão coletar e documentar relatos de episódios que aconteceram na
região durante a época de repressão militar.
Hoje em Marabá, até as 15h (horário de Brasília), a CNV
colhe depoimentos de mais pessoas, entre elas ex-soldados que atuaram na
campanha do Exército contra a guerrilha do Araguaia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário