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sexta-feira, 22 de março de 2013

Carajás caminha para ser Estado antes que o Tapajós

No Manuel Dutra:

No dia 17 de fevereiro de 2011, quase um ano antes do plebiscito pela divisão do Pará, publiquei neste blog uma reportagem que fiz após um giro por alguns municípios do sudeste paraense, concluindo o périplo em Marabá. O título da matéria é Em 15 anos Marabá será capital do Carajás. Santarém será do Tapajós? (leia aqui).


Naquela ocasião eu escrevi: “Mais do que na região de Carajás, o Oeste paraense se ressente de lideranças políticas e sociais. Ou não existem ou são demasiadamente dependentes dos grupos de poder concentrados na capital, Belém. Por isso, e por outras, Marabá pode sair na frente de Santarém. Se isso acontecer, o Tapajós permanecerá paraense por mais uns 100 anos, pelo menos”.

Em outro trecho eu expus o seguinte: “Outro fator, bem atual (fevereiro 2011), são os novos investimentos da Vale, na construção de sua siderúrgica naquela cidade, para beneficiamento de minério extraído do município de Parauapebas, 180 quilômetros distante. Os hotéis da cidade estão lotados de trabalhadores de terceirizadas, as ruas apresentam um movimento de assustar e as rodoviárias apontam uma nova corrida para aquela região. Para o bem ou para o mal, ali é a parte do Pará onde hoje corre mais dinheiro”.

Nova força
Lembrei disso a propósito de um artigo de Lúcio Flávio Pinto no mais recente número de seu Jornal Pessoal, sob o título “Tema da eleição de 2014: o novo Estado de Carajás”. Na conclusão, afirma Lúcio Flávio, nascido na “capital” do Tapajós, Santarém, e que, no plebiscito, se opôs à divisão territorial: “Por enquanto, o tema da redivisão está latente. Mas logo se apresentará e terá nova força. Apostará na incapacidade de Belém continuar a ser a capital de todo o vasto Pará”.

Porém, o artigo começa assim: “Carajás pode vir a ser o grande tema da eleição de 2014. Os grupos políticos com aspiração ao poder já montam suas bases no sul do Estado para uma disputa que promete ser intensa. Pode ser simplesmente para definir ou consolidar uma forte base política local. Mas pode ser também um passo alentado para a retomada do projeto da criação do Estado de Carajás” (Leia o artigo inteiro de Lúcio aqui).

A comparação entre as duas regiões que aspiram à autonomia, transformando-se em Estados, é francamente favorável ao Sul do Pará, com o movimento centrado em Marabá, porém esparramando-se fortemente para Parauapebas, o município brasileiro que mais arrecadou em janeiro de 2013, superando, inclusive, o mais rico município do País, São Paulo. Até quando essa dinheirama irá permanecer dentro dos limites paraenses, é uma questão de tempo, apenas.

Ressaca
Outro dado é a ação das elites políticas e empresariais do sul do Estado. Estas movimentam-se e esperam apenas passar o que sobrou da ressaca da derrota no plebiscito para, com mais dinheiro, organização e determinação, darem início público a nova campanha separatista. E tudo indica que estão à procura de estratégias para desatrelar a campanha pelo Estado do Carajás de uma improvável nova campanha pelo Estado do Tapajós, onde os grupos políticos, empresariais e entidades populares continuam a esperar, sentados, que algum Dom Sebastião retorne com a carta de alforria nas mãos para lhes entregar.

Marabá, que deseja ser a “capital” do Sul, tinha em 2010, um total de 233.669 habitantes, e provavelmente em breve terá maior população que Santarém, a “capital” do Oeste, que no mesmo ano tinha uma população de 294.580 habitantes. Enquanto Marabá e outros municípios do Estado vão subindo nas estatísticas, Santarém vem decaindo desde os anos 1970, quando era chamada, pelo interventor federal Elmano Melo, de “terceiro polo de desenvolvimento da Amazônia”. Esse terceiro lugar, nos mais diversos setores, está perdido na ladeira descendente.

Mas o que impressiona em Santarém é o crescimento populacional, notadamente nos últimos sete anos, sem que haja explicações plausíveis a respeito do fenômeno, haja vista a inexistência de investimentos que o expliquem. O crescente movimento nas ruas, com um trânsito frenético, impressiona e deixa questões resposta.

Salame e Von
No aspecto da ação política basta comparar o seguinte: Marabá elegeu para prefeito João Salame, deputado estadual que se expôs bravamente na campanha do plebiscito, defendendo o Carajás. Santarém, por sua vez, elegeu prefeito Alexandre Von, deputado estadual que, na campanha pela emancipação nem precisou tomar mel de abelha porque não ficou rouco, tão calado esteve ao lado do governador tucano Simão Jatene, adversário-mor da divisão, é claro. O mesmo Jatene que tem como vice (agora governador temporário) Helenilson Pontes, que se separou do separatismo justamente para governar o Estado que desejava dividir.

Os santarenos que ainda esperam dos atuais políticos alguma ação com vistas à criação do Estado do Tapajós, preparem, antes, o terno e a gravata para a posse do governador do Carajás. Uma possível ironia da história, pois a demanda dos santarenos é antiga de mais de um século e meio, enquanto a demanda do sul paraense vem de pouco mais de 30 anos. Como a história quem a faz não é o tempo, mas a ação, os tapajoaras talvez continuem na contramão do tempo e da história, sem ação, à espera de um presente tal qual esperaram de um senador que nem do Pará é, Mozarildo Cavalcante, de Roraima. Aliás, em se falando de Estado do Tapajós ou de qualquer outro tema da região Oeste do Pará, quem é líder lá?

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Um comentário:

Anônimo disse...

Demir, na falta de Lyra Maya, ele mesmo, Lyra Maya. Têm outro ? O cara vem de Santarém e Brasília falar o quê ? Côco ou cocô ? Te dizer...27.03.13, Marabá-PA.