Não demorou para que a Veja metesse a colher tendenciosa na proposta de divisão do Pará. Vejam que o foco é exclusivamente Carajás! Parece que ninguém se importa com o Tapajós.
Mas é bom saber que o deputado Puty, que agora se diz porta-voz de Dilma Rousseff, desceu do muro e mostrou a cara safada.
O negócio é o seguinte: quem não está conosco, está contra nós.
09/07/2011 - 09:06
Novos estados
Jogo dividido: plebiscito no Pará racha até MST
Mais do que ideologia, o que move as opiniões divergentes é o local de moradia. Em Carajás, todos querem novo estado; em Belém, posições se invertem
André Vargas
O plebiscito que decidirá se dois novos estados – Carajás e Tapajós – serão criados no Pará coloca em lados opostos integrantes de movimentos sociais, lideranças políticas e o empresariado local. Mais do que as cores ideológicas, o local de moradia move as opiniões divergentes. A discussão mais acalorada é sobre a criação de Carajás - região do sul paraense rica em minérios e onde fica uma das principais jazidas da Vale. Em Tapajós, área mais pobre no oeste, o debate, apesar de mais antigo, é menos intenso. O plebiscito está marcado para dezembro, com regras já divulgadas pela Justiça Eleitoral. A palavra final será do Congresso.
Em Carajás, inimigos mortais como ruralistas e sem terra estão unidos em torno da criação do novo estado. Em Belém, as posições se invertem. Lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que, no sul, defendem o desmembramento, concordam tacitamente com o governador Simão Jatene (PSDB): todos são contra a divisão. Procurado, o MST não quis comentar o assunto.
Pendências - Neste balaio, emerge até a figura do financista do grupo Opportunity, Daniel Dantas. Dono da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, Dantas tem 27 fazendas no sul do Pará. Com terras e gado seqüestrados pela Justiça e propriedades e pastos depredados pelo MST, desde 2007 ele também prega pela criação de Carajás. Imersa em dívidas de sessenta milhões de reais, a Santa Bárbara Xinguara deveria ser a maior produtora de gado do Brasil, com um rebanho de 500 mil cabeças. A criação do estado seria uma forma velada de Dantas começar a renegociar parte de suas pendências com fazendeiros de quem comprou terras na região.
Parceiros dos sem terra em invasões, os integrantes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) de Marabá, no sul, estão por Carajás e não abrem. "Sei que tem gente lá em Belém, no sindicato e no MST, que não quer. Mas nós queremos ter mais atenção, mais escola", diz Francisco Ferreira de Carvalho. Os pequenos agricultores acabaram convencidos de que a criação do estado seria boa durante uma manifestação na superintendência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), em Marabá, no final de junho.
Atentos, o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) e Luciano Guedes, prefeito de Pau D’Arco e presidente da Associação dos Municípios do Araguaia, Tocantins e Carajás (Amat), tentaram organizar um seminário. A iniciativa não vingou, mas parte dos sem terra comprou a ideia. Queiroz e Guedes são donos de rebanhos e grandes extensões de terra no sul paraense.
No Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Redenção, também na região sul do Pará, a presidente Valmisória Moraes Costa está fechada com os patrões ruralistas. "Vamos ter mais tudo: escola transporte, saúde e investimento. Vamos ter mais força para brigar”, diz. Se Carajás surgir, porém, os apelos do deputado Queiroz podem se concretizar. Pecuarista vindo de Minas Gerais, ele sempre reclamou que o MST deveria receber uma atenção mais ríspida da polícia. Se sair vitorioso, Queiroz vai querer trazer a lei para aquele pedaço do Brasil – além de ser o nome forte na primeira eleição para governador. Pela causa, ele reduziu o tom de suas críticas.
Campanha nas ruas - A campanha em prol de Carajás vai ser coordenada pelo ex-publicitário de Lula, Duda Mendonça, dono de fazendas na região. Luciano Guedes, da Amat, não tem ideia do custo da campanha, mas garante que tudo vai funcionar. "Duda conhece isso aqui como ninguém. Ele vai fazer trabalho voluntário", diz.
Ainda que não autorizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a campanha já está na rua. Carros circulam com o adesivo "Estado de Carajás" nos vidros. Duda Mendonça não colou o adesivo no bimotor que usa para visitar suas fazendas, mas articula a participação do deputado ruralista Ronaldo Caiado (DEM_GO). O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), criador de Tocantins, em 1989, também está simpático à causa. Levas de migrantes pobres maranhenses formam a base da pirâmide social em Carajás e têm no clã Sarney uma referência política.
Em Brasília, o deputado Cláudio Puty (PT-PA) vê o desenrolar da campanha com atenção. Alinhado com a presidente Dilma, que não quer a separação – e aliado indireto do governador Jatene –, ele diz que os grupos envolvidos só visualizam um lugar ao sol. "Não quer dizer que algo vá reverter às populações", diz. Puty vê o plebiscito como um diagnóstico errado para tratar de um mal já identificado.
Mais do que tamanho do aparelho estatal no Pará, a desigualdade ali foi gerada pelas deficiências em todos os níveis da rede pública. "Para que dividir, se daqui a um tempo esse pessoal poderá ter tudo para si", afirma Puty, criticando Queiroz, Guedes e demais pecuaristas, a maioria vinda do Sul e do Sudeste.
Sobre o exemplo de sucesso de Tocantins e Mato Grosso do Sul, o deputado cita os desmembramentos menos felizes de Amapá e Roraima. "Deveriam olhar para as prefeituras antes de discutir qualquer coisa. Dos 144 municípios, só dez estavam com as contas em dia no último mês", alerta.
9 comentários:
Imagem não refletida.
"A campanha em prol de Carajás vai ser coordenada pelo ex-publicitário de Lula, Duda Mendonça, dono de fazendas na região".
Acrescente-se ao histórico de Duda Mendonça, o enquadramento processual vigente, feito pelo Procurador-Geral da República no escandalo do MENSALÃO ("O Globo - 09/07/11), beneficiário em milhões de reais retirados de dezenas e centenas de milhares de cidadãos que não têm, sequer, um quilo de feijão. Carajás é um pouco menos do que tudo isso.
Fica evidente que eles querem jogar um grupo contra o outro (Fazendeiros x Sem terra).
pior é que querem nos passar um atestado de idiotice, querendo nos convencer que duda está fazendo esse serviço voluntariamente. o estado de carajás já vai nascer uma farsa.
Com a permissão do comentarista, eu diria: Endividado mesmo, nem relógio trabalha de graça. Se isso não bastasse, toda a exploração da mina será realizada no Estado para pagar a dívida, entretanto, os LUCROS e APLICAÇÕES financeiras, com certeza não.
Ademir.
Continuo sendo contra a criação do Estado de Carajás, pois considero que cria-lo será premiar a incompetencia destes politicos que patrocinam a idéia e que jamais souberam defender os nossos interesses, vendendo-os em troca de seus interesses pessoais.Como não lhes é dado espaço maior no cenário politico paraense, querem o novo Estado para poderem alcançar alturas que o Pará, talvez por conhece-los melhor do que nós os conhecemos, não lhes dá.O Estado do Amazonas é bem maior do que o Pará (territorialmente) e muito mais pobre, também, porque o amazonense Asdrubal não investe lá o seu furor separatista?Concordo plenamente com as colocações dos comentaristas anteriores e fico muito preocupado com o repentino amor e dedicação a esta causa, que passou a mover Duda Mendonça e o jurássico Siqueira Campos entre outros politicos (ex-senadores) repudiados pelo eleitorado do Tocantins que conduzidos pelo Maurino adentraram na politica e administração municipal de Marabá e por certo, se criado o Estado, vão passar a perna em nossas frágeis, incompetentes e personalisticas "lideranças".O Tocantins vai mandar no futuro Estado do Carajás, cabe a nós impedi-lo, votando contra este escandaloso jogo de interesses pessoais.
Paulo Pereira
Com todo o respeito, Paulo, mas deixe-me indagar se você acha correto este estado continuar a ser saqueado por Jader Barbalho, ser vilipendiado pela corja petralha, ser imobilizado pela incompetência ou falta de vontade política do PSDB - de volta ao governo por incompetência de Ana Júlia Carepa.
Deixar como está, Paulo? Com as escolas estaduais caindo sobre a cabeça dos estudantes; as estradas intransitáveis; a educação em miséria; o desabastecimento patrocinado pela Cosanpa?
Desculpe, meu amigo, mas não posso concordar com a permanência dessas coisas.
Da mesma forma, se apoio a emancipação, de jeito nenhum concordo com a corja que está amolando os dentes para apropriar-se de Carajás assim que sair a separação.
Mas cada coisa é cada coisa. Primeiro nos livramos dos corruptos e incompetentes do Pará, desadministrado há 300 anos e cujas lideranças acham que o Estado começa em Val-de-Cães e acaba no Ver-o-peso;
Ademir.
Respeito a sua opinião, no entanto, se as escolas estão caindo, se as estradas estão intransitáveis, é porque em lugar de reivindicarem e martelarem o Governo com reclamos e cobranças, uns se conformam em serem aquinhoados com Secretarias ou com cargos para parentes ou apadrinhados, outros com financiamentos e benesses politicas e nós, na base da piramide, ficamos a sofrer consequencias.Se estamos assim é por culpa dos péssimos, incompetentes e interesseiros politicos em quem votamos ao longo do tempo.Quanto ao Jader Barbalho, voce acha que as investidas de seu filho Helder por aqui, amiudando-se ultimamente, tem qual objetivo?Com o eleitorado pulverizador de votos que temos e as lideranças de pés de barro que elegemos, voce acha que haverá obstáculo para o Jader e os tocantinenses apossarem-se do poder em Carajás? Que diferença faz sermos governados pelo Jatene, Ana Júlia, Almir Gabriel, ou pelos tocantinense rejeitados lá ou pelo Helder Barbalho, Giovani Queiroz, Asdrubal Bentes,Tião Miranda, João Salame, Bernardete, et caterva.O momento não é oportuno, pois existem muitas raposas felpudas soltas no galinheiro, caro e admirável jornalista.
Paulo, todo administrador tem a obrigação de saber das necessidades do seu território. Para isso foi eleito.
No caso das escolas, todos sabemos que as diretoras conhecem como ninguém o que falta em cada uma delas e leva seus pleitos à 4ª URE (no caso do Estado, e da Semed, na seara do município).Em Marabá, suponho, a Semed tem previsão orçamentária para custear os investimentos necessários à recuperação das escolas e sua manutenção. No caso da Ure, que é só uma instância burocrática e sem autonomia, ela encaminha os relatórios à Seduc, que deveria tomar as providências.
Há, então, um mecanismo para cada setor: escola, estrada, saneamento básico, etc.
Por outro lado, deputado e vereadores possuem função legislativa, o que sempre esquecem para ficarem ordenhando o mandatário de plantão, em qualquer instância.
Mas, seria por ocasião da aprovação do Orçamento anual que cada parlamentar deveria apresentar (ouvidas as comunidades que se queixam de representar) emenda orçamentária para aquela obra.
Se não fazem isso, a nada se prestam a não ser ludibriar a população.
Já o prefeito sério e competente, comprometido com a sociedade, pode elaborar projetos de interesse coletivo e negociar convênios com os governos. Se não fazem isso, não adianta votar em quem não possui preparo sequer para um plano mínimo de governo.
Os exemplos estão aí...
EMANCIPAÇÃO SERÁ O MAIOR INVESTIMENTO NA AMAZÔNIA.
No dia 11 de dezembro o Brasil verá, pela primeira vez, o povo se manifestando num plebiscito sobre a reorganização territorial e criação de novos Estados. Todos os demais Estados criados após a Independência foram resultado de decisões autoritárias. O Tocantins seria a exceção, mas neste caso quem se manifestou foi o Congresso constituinte e não o povo.
Mato Grosso foi dividido por uma canetada do general-presidente Figueiredo. Amapá, Acre, Rondônia e Roraima foram decisões do ditador Getúlio Vargas que os fez Territórios Federais depois transformados em Estados pelos constituintes de 1988. Muito antes, dom Pedro II criou Paraná e Amazonas. A própria capital federal, Brasília, cujo território foi retirado de Goiás, foi decisão solitária de Juscelino Kubistchek, projeto que enterrou o país na onda inflacionária que até hoje nos atemoriza.
O plebiscito pelo Tapajós e Carajás é, portanto, uma experiência sócio-política inédita e por isso o Brasil deveria prestar mais atenção, ao invés de as elites nacionais, especialmente a "grande" imprensa, ficarem desdenhando e externando o seu conhecido preconceito a respeito de tudo que se faz e tenta fazer na Amazônia. Seu preconceito só não se manifesta em relação ao saque dos recursos naturais daqui para lá.
Os que se opõem usam os mesmos surrados argumentos do passado, de que uma nova unidade autônoma sairia muito caro. Caro ao país é o projetado "trem-bala" Rio-S.Paulo, bilhões que poderiam ser empregados na construção de rodovias e ferrovias decentes por todo o país. Caro aos milhões de amazônidas são os mega-projetos de gigantescas hidrelétricas e de mineração que carregam as riquezas da região para fora, muito pouco ou nada deixando aos brasileiros da Amazônia, tão brasileiros quanto os demais. Caro, caríssimo ao Brasil é a percepção de governos tanto ditatoriais como democráticos que continuam a encarar a região como colônia do Brasil e do grande capital, nacional e estrangeiro.
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