quarta-feira, 25 de abril de 2007
O nego-d’água vai à praia
(A Lúcio Flávio Pinto)
Ao largo, na fímbria do sol,
navega-se o alvo mar.
Flutua
além a ilha
assediada pelos ventos.
Acima do mar, dos peixes,
entre aves estranhas,
espraia-se imensa Algodoal.
Aqui há sóis no ar, signos na terra;
já a primavera nada diz das ondas,
da salsa carne lúdica do mar.
- “Já foi bom aqui”, diz o nativo,
guaiamuns enormes, camarões...”,
e o dedo aponta entre nuvens raras
o manguezal em ruínas.
- “Para onde foram, caiçara?”
- “Ah, cum cortá cotoco o mangue,
caba cum tudo. Progresso, diz-que...”
(“Ouça, homem do mar: para lá
do distante, onde o sol naufraga
em cinzas sem que vingue a tarde,
ossos gigantes que já foram árvores
adornam estradas onde era o verde.
Lá nasci, pescador!...”). E, mal penso,
nada digo: soaria assim messiânico,
infenso ao mangue e ao mar:
eu só me quero amazônico,
síntese de fúrias e presságios.
Eu não sei
se viveria à míngua aqui dos rios
barrentos do meu chão, da água
dos meninos que voam do cais
e ardem no ar à luz poente
- aves velozes asas azuis -
áureo gozo aéreo de gaivotas
tchiiiiibummm!
E se nada diz a primavera do céu
em transe - dunas torres
translúcidas mastros viajores -
de certo sei que logo à praia
desata algo do ar as velas d’alma
e entorna a gôndola do peito em luares
ruivos luares de citrinos círios.
Por agora, deixemos fluir
o sentimento das coisas.
Que se exaure o momento,
o mergulho tosco nos atóis do mundo.
(Ademir Braz)
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