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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Pés de barro

O jornalista Carlos Chagas publicou a crônica “O complexo do pedestal” (leia abaixo) em que aborda a infundada superioridade das pessoas que, no Brasil, chegam circunstancialmente ao poder. Substitua nomes, cargos e lugares por Marabá e seus prefeitos, vereadores e outras instituições e veja no que dá...
De Mussolini diziam seus adversários haver galgado um pedestal tão alto que não conseguia enxergar em baixo, ignorando o que os italianos sentiam e necessitavam. Com todo o respeito e evitando fulanizações, é o que historicamente acontece com os governos, no Brasil. Seus chefes, os presidentes da República, desde Deodoro, atribuem-se qualidades quase divinas, desligando-se da realidade e habitando uma espécie de Olimpo, onde a poeira não chegaMuito menos a população. Quando em contacto com ela, é sempre numa relação de superioridade, do palanque para baixo. Brasília pode ter exacerbado esse fenômeno, pelo isolamento de seus palácios, mas no Rio era a mesma coisa.
Nossos governantes nunca foram à feira e ao supermercado, jamais precisaram servir-se diariamente dos ônibus e do metrô. Quando bissextamente vão a um restaurante, são os outros que pagam. Seus vencimentos são depositados integralmente, livres de quaisquer despesas, e quando se aventuram a contar uma piada ou fazer um gracejo, as gargalhadas ressoam ao seu  redor antes mesmo do desfecho.
Está para ser criado um regime onde o cidadão guindado à chefia do governo continue comum, sem ares de grandeza absoluta. Mesmo os que deixaram o governo não perdem a falsa majestade, até ajudados por discutíveis aposentadorias e pensões, mais mordomias variadas que os tempos modernos criaram. Sofrem, é claro, quando precisam acionar as maçanetas, sentindo que as portas não se abrem como antes, mas voltar à rotina anterior ao gozo do poder, isso não voltam. Nem querem.
Estas considerações se fazem  num tempo singular em que o país convive com cinco ex-presidentes da República, cada um com características próprias,  todos apregoando humildade  mas nenhum verdadeiramente disposto a cultivá-la. José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique e agora o Lula não se livraram do complexo do pedestal, não obstante as aparências."


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